O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ressaltou que é importante mantermos os ganhos recentes alcançados na condução da política monetária, que tem se baseado na cautela, na serenidade e na perseverança.
Essas palavras podem ser vistas como uma “senha” para a manutenção da Selic nos atuais 6,5% ao ano na reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom).
O mercado e parte da academia estão em um crescente debate sobre o espaço para eventuais reduções da taxa básica em função da inflação bem-comportada e uma atividade que se recupera de forma muito gradual.
Campos Neto discursou na cerimônia de transmissão de cargo e apresentou os pontos que o BC quer:
• manter a inflação baixa e controlada, dando seguimento à ótima atuação da condução da política monetária, e continuar aprimorando nossos mecanismos de comunicação;
• manter o sistema financeiro sólido e eficiente, com um mercado de capitais maior, mais democrático, com a participação de mais pessoas e empresas;
• ter a autonomia do BC registrada na lei, ajudando a reduzir o risco Brasil e a aumentar o crescimento de longo prazo;
• reduzir o custo de intermediação financeira, aumentando a eficiência desse serviço e melhorando as condições de concorrência;
• tornar o mercado mais aberto para os estrangeiros, com uma eventual moeda conversível que sirva de referênci para a região; e
• reduzir o papel do governo, hoje um grande ator no sistema financeiro.
Reservas
Segundo Campos Neto, o câmbio flutuante tem servido como primeira linha de defesa de nossa economia, mas isso não impede, no entanto, intervenções para evitar “disfuncionalidades nos mercados”.
Nesse aspecto, disse Campos Neto, as reservas internacionais funcionam como uma garantia, um seguro. “Um seguro que, é importante destacar, teve custo zero nos últimos dez anos, já que os custos de carregamento foram compensados pelos resultados da variação cambial”, ressaltou.
Além disso, lembrou o presidente, seu custo de carregamento está no mínimo histórico, devido ao baixo nível da Selic e à elevação da taxa americana. “Qualquer decisão econômica deve sempre considerar custos e benefícios, e isto também se aplica à gestão de reservas.”
Despedida de Ilan
Em seu discurso de despedida, Ilan Goldfajn, afirmou que seus últimos anos no BC foram extraordinários e que servir à sociedade como presidente do BC é uma experiência inigualável. “Não porque tenha me divertido”, disse, arrancando risos da plateia.
Segundo Ilan, acorda-se diariamente com o peso do dever e a responsabilidade de liderar uma instituição que é responsável pela estabilidade financeira e monetária do país. “Mas a sensação de dever cumprido torna a experiência mais do que recompensadora.”
Segundo Ilan, a redução da Selic de 14,25% ao ano para 6,5% ao ano, na sua gestão, ocorreu de forma sustentável, algo evidenciado pelo fato de os juros de mercado para os próximos anos indicarem confiança que podemos ter um patamar mais baixo de juros de forma estrutural no futuro, dependendo da aprovação das reformas e ajustes.
“A política monetária tem estimulado a economia. Com a queda da taxa Selic, os juros reais da economia caíram para níveis também historicamente baixos”, disse.
O agora ex-presidente voltou a destacar a cautela, a serenidade e a perseverança na condução da política monetária. “Essa postura de cautela, serenidade e perseverança do BC preservou o arcabouço de metas para a inflação e evitou retirar o estímulo monetário necessário para a recuperação da economia brasileira”, disse.
Antes disso, Ilan lembrou que o BC contribuiu para o crescimento mantendo a estabilidade da economia num ano de incertezas internas e externas como foi 2018.
A subida dos juros nos EUA, a valorização do dólar e depreciação das moedas locais, e a fuga de recursos para economias avançadas, pressionaram os países emergentes, levando inclusive a crises econômicas em alguns casos.
“Em função de uma inflação sobre controle, o BC pôde manter a taxa Selic estável, num ano onde a grande maioria dos bancos centrais dos países emergentes se viu forçado a elevar a sua taxa básica”, disse.
Depois de comentar os pontos da “Agenda BC mais”, para reduzir o custo de crédito, Ilan falou sobre a autonomia formal do BC, que constou no seu discurso de posse e que apesar dos esforços seus e de sua equipe ainda precisa virar realidade.
“É necessário tornar a atual autonomia de facto em uma autonomia de jure. Seria um passo natural e contribuiria para reduzir o risco Brasil e elevar o crescimento de forma sustentável”, afirmou.