Após quase dois meses, o Ibovespa ficou sem bateria e perdeu os 100 mil pontos
As tensões comerciais entre EUA e China, somadas à incerteza em relação à economia global,, continuaram afetando negativamente o Ibovespa
Em 19 de junho, o Ibovespa finalmente conseguiu encerrar um pregão acima dos 100 mil pontos — uma marca simbólica que foi amplamente comemorada pelos agentes financeiros. Desde então, mesmo nos momentos de maior instabilidade, o índice sustentou-se no patamar dos três dígitos, mantendo níveis elevados de energia.
Só que, nesta semana, a bolsa brasileira precisou lidar com inúmeros — e intensos — focos de pressão, com destaque para a guerra comercial e a desaceleração econômica global. E, num cenário tão demandante, a bateria do Ibovespa não foi suficiente para manter o índice com um desempenho tão alto.
Assim, quase dois meses depois de conquistar os 100 mil pontos, o Ibovespa perdeu a marca nesta quinta-feira (15), encerrando em baixa de 1,20%, aos 99.056,91 pontos — ao todo, foram 38 sessões consecutivas em terreno centenário. E olha que o índice conseguiu se afastar do momento de maior tensão, quando chegou a cair 2,05%, aos 98.200,36 pontos.
O dólar à vista, por outro lado, teve um dia de alívio: a moeda americana encerrou o dia com baixa de 1,21%, a R$ 3,9901 — na mínima, bateu os R$ 3,9808 (-1,97%).
O que explica essa disparidade nos dois ativos? Ao contrário de ontem, quando uma onda generalizada de pessimismo tomou conta dos mercados globais, a sessão desta quinta-feira contou com uma série de fatores que exerceram influências diferentes sobre o Ibovespa, o dólar e as bolsas mundiais.
Embora a cautela tenha permanecido elevada nas negociações no exterior, fatores locais foram fundamentais para ditar o rumo dos ativos domésticos — trazendo mais pressão à bolsa brasileira, mas despressurizando o dólar.
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Sinais, fortes sinais
Comecemos, então, pelo exterior, uma vez que o panorama global serve de pano de fundo para os mercados como um todo. E, lá fora, os agentes financeiros continuaram tensos nesta quinta-feira, dados os novos desdobramentos das disputas comerciais entre Washington e Pequim.
Logo no início do dia, o governo chinês elevou o tom no diálogo com os americanos: o Ministério de Finanças da China disse que o país precisa tomar "contramedidas necessárias" à imposição de tarifas de importação pelos Estados Unidos.
Essa sinalização do governo chinês não caiu bem nos mercados — há um temor crescente de que a guerra comercial poderá resultar numa desaceleração brusca da economia global. Além disso, o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) segue mantendo a moeda do país em níveis fracos: o dólar continua acima da faixa de sete yuans.
Essa escalada nos atritos entre americanos e chineses afetou especialmente o mercado de commodities nesta quinta-feira: o minério de ferro fechou em forte baixa de 2,51% na China e o petróleo teve uma sessão de perdas expressivas, tanto o Brent (-2,10%) quanto o WTI (-1,38%).
"A apreensão com a China bate muito nas commodities, e a gente sente mais esse efeito por causa da Petrobras e da Vale", destacou Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, lembrando que o gigante asiático é um dos grandes consumidores globais de minério e petróleo, e uma desaceleração da economia do país implica numa queda da demanda global por esses produtos.
Além de toda essa dinâmica de cautela e retração nas commodities, os mercados também passaram o dia atentos às curvas de rendimento dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, buscando sinais que poderiam indicar uma possível recessão da economia americana no horizonte. E, em determinados momentos da sessão, esses indícios apareceram.
O retorno dos títulos de 30 anos agora está abaixo de 2%, muito perto das mínimas históricas. Esse fenômeno pode ser interpretado como um sinal de que os investidores estão preocupados com o risco de recessão nos EUA, uma vez que o baixo rendimento de tais ativos indica que o mercado tem dúvidas quanto às perspectivas econômicas e prefere não se comprometer com investimentos de longo prazo.
Outro sinal de alerta vem dos títulos do Tesouro de 10 anos, que chegaram a ter rendimentos inferiores a 1,5% ao longo do dia, embora tenham voltado a aparecer acima desse nível no fim da tarde. Vale ressaltar, ainda, que os ativos de 10 anos voltaram a ter retorno superior aos de três anos, revertendo a tendência vista ontem.
Com tais sinalizações em mente, as bolsas americanas passaram boa parte da sessão oscilando ao redor da estabilidade, sem mostrar uma tendência clara. Por um lado, analistas afirmaram que o clima ainda é muito nebuloso, mas, por outro, ponderaram que não houve um novo fator amplamente negativo para o cenário econômico mundial.
Beyruti, da Guide, também ressalta que dados referentes à economia americana divulgados mais cedo mostraram que a atividade nos EUA ainda não sente uma desaceleração em maior magnitude, contrastando com os números referentes às economias da China e da Alemanha.
A produção industrial dos EUA caiu 0,2% em julho ante junho, o índice de confiança das construtoras do país subiu a 66 em agosto e os estoques das empresas ficaram estáveis em junho ante maio — resultados que, se não geraram otimismo, também não desencadearam uma nova onda de pessimismo.
Considerando todos esses fatores, o Dow Jones teve alta de 0,39% e o S&P 500 subiu 0,25%, recuperando parte das perdas de ontem. Já o Nasdaq não acompanhou as demais bolsas americanas: fechou em queda de 0,09%.
E o Ibovespa?
Apesar de os mercados acionários terem conseguido se segurar perto da estabilidade, a bolsa brasileira não teve o mesmo fôlego. Em primeiro lugar, o Ibovespa é muito dependente dos papéis ligados ao setor de commodities — Petrobras, Vale e siderúrgicas possuem um peso grande na composição do índice.
Assim, com as commodities em baixa, Petrobras PN (PETR4) caiu 2,77%, Petrobras ON (PETR3) recuou 2,21%, Vale ON (VALE3) teve queda de 2,21%, CSN ON (CSNA3) fechou com perda de 3,20%, Gerdau PN (GGBR4) desvalorizou 3,38% e Usiminas PNA (USIM5) retraiu 4,37%.
Mas outros fatores também contribuíram para explicar a queda do Ibovespa e o mau desempenho desses papéis. Um operador pondera que, nas últimas semanas, o índice vinha conseguindo defender o patamar psicológico dos 100 mil pontos, mesmo nos momentos mais turbulentos no Brasil e no exterior.
Mas, logo pela manhã, a bolsa brasileira deu indícios de que não conseguiria sustentar a casa dos três dígitos — o que disparou um movimento correção dos ativos. "Temos um conjunto de fatores: começa pela preocupação maior lá fora com a eventual recessão, passa pela guerra comercial e termina com um ajuste nosso", diz o operador.
Por fim, um último fator doméstico foi citado por analistas e outros agentes de mercado: a divulgação, pelo jornal O Estado de S. Paulo, de trechos da delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci que citavam diversas empresas, como Itaú Unibanco, Bradesco, Ambev e Vale.
E, embora nenhum dos ativos dessas empresas tenha passado por uma piora vertiginosa após a divulgação da delação, a novidade contribuiu para piorar o humor dos mercados.
Alívio no dólar
O dólar à vista, por outro lado, manteve-se em baixa durante quase toda a sessão e conseguiu terminar abaixo do nível dos R$ 4,00. E, embora o mercado de câmbio tenha tido um dia mais tranquilo no exterior, boa parte desse movimento pode ser creditado a um anúncio feito ontem pelo Banco Central (BC).
A autoridade monetária voltará a oferecer dólares no mercado à vista, algo que não acontecia desde fevereiro de 2009 — as intervenções começam na próxima quarta (21). Em comunicado, o BC diz que levou em conta a conjuntura econômica atual e o aumento da demanda de liquidez para tomar a decisão.
Vale lembrar que, há um mês, o dólar à vista estava na faixa de R$ 3,75. Desde então, a moeda americana tem passado por uma forte onda de valorização, em meio à escalada das tensões comerciais entre EUA e China — conjuntura que também penalizou as demais moedas de países emergentes.
Juros estáveis
Apesar do alívio no dólar à vista, o clima de maior apreensão nos fronts doméstico e internacional fizeram com que as curvas de juros permanecessem relativamente estáveis nesta quinta-feira, tanto na ponta curta quanto na longa.
Os DIs com vencimento em janeiro de 2021, por exemplo, subiram de 5,45% para 5,47%; no vértice mais longo, as curvas para janeiro de 2023 caíram de 6,47% para 6,46%, e as com vencimento em janeiro de 2025 recuaram de 6,95% para 6,94%.
Reta final
De volta ao Ibovespa, os mercados também reagiram aos últimos balanços da safra do segundo trimestre — e as ações que dominaram as pontas positiva e negativa do índice reagiram aos resultados das companhias.
Entre as maiores altas, destaque para JBS ON (JBSS3), em alta de 4,64%, após o frigorífico reverter o prejuízo visto no segundo trimestre do ano passado e registrar lucro de R$ 2,18 bilhões entre abril e junho de 2019.
No lado oposto, Ultrapar ON (UGPA3) e Sabesp ON (SBSP3) lideraram as baixas do Ibovespa, com quedas de 8,41% e 5,93%, respectivamente. A primeira reportou queda de 47% no lucro líquido, para R$ 127 milhões, enquanto a segunda reportou crescimento de 150% nos ganhos, para R$ 454,4 milhões — boa parte desse resultado, contudo, se deve à variação cambial no período.
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