Para parte do mercado e outros observadores da economia brasileira, o esperado discurso de Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), foi mais um típico caso de “a montanha pariu um rato”.
Bolsonaro's bizarre, tepid and unfocused speech is a very troubling sign. Why hasn't the all-powerful Minister of Finance written a longer, more detailed and more adequate presentation? Why waste such a unique opportunity?
— Oliver Stuenkel (@OliverStuenkel) January 22, 2019
O problema parece estar na questão das expectativas. Sem novidades relevantes no front econômico doméstico e com um carregado noticiário político negativo para a família Bolsonaro, todas as fichas estavam depositadas nessa apresentação do “novo Brasil” ao mercado financeiro internacional.
Mas a fala do presidente foi “mais do mesmo” na visão de um público que já “comprou” a carta de intenções do novo governo com relação a reformas e ajustes. E a fala de Bolsonaro foi mesmo uma reafirmação de princípios e vetores que serão perseguidos por sua equipe.
Particularmente creio que não poderia ser muito diferente. Ainda assim, o presidente poderia ter sido mais enfático nas suas colocações sobre economia e reformas, mas não existe “se” na história.
#Brazil President Bolsonaro disappoints w/speech at #WEF19 the Davos crowd & fin mkts. Brazil Real drops 0.5% as he just touts reform "credibility" in a speech that has no substance & credibility. Investors had been looking for concrete measures on pensions, sale of state assets. pic.twitter.com/s6Y2kznU0J
— Holger Zschaepitz (@Schuldensuehner) 22 de janeiro de 2019
Há uma natural ansiedade com relação ao detalhamento das reformas, que empresas serão privatizadas, como fica o sistema tributário e afins. A “barra” de expectativas com relação ao governo está bem elevada, por assim dizer, e parece difícil que as “realidades” que venham a ser produzidas no curto prazo serão capazes de satisfazer ou aplacar essa agonia.
Assistimos a mais um clássico descasamento de tempos. O tempo do mercado, que tenta antecipar o futuro auscultando o presente, e o tempo da política, que varia conforme o cenário.
concordo que nao define mas perdemos a oportunidade de vender o Brasil para o investidor estrangeiro. Ele tinha 45 min para tentar reverter essa imagem negativa e nao aproveitou https://t.co/MIqPqwfdh6
— Luiz E. Portella (@luizeportella) January 22, 2019
Com 22 dias no cargo e ainda tateando a “máquina do Executivo”, Bolsonaro e sua equipe parecem estar tomando conhecimento da abissal diferença imposta por Brasília entre fazer planos e “mudar a realidade”.
Até o vice e presidente em exercício, Hamilton Mourão, entrou em cena para dizer que lá em Davos “o cara fala do geral” e que o detalhamento acontece quando vai se discutir com o Congresso.
Mais “eventos decepcionantes” devem acontecer, pois o presidente entra de licença médica ao voltar da Suíça e seu aval é necessário para o desenho final da reforma da Previdência que se planeja apresentar ao Congresso no início do ano legislativo em fevereiro.
O que governo pode tentar fazer nesse ínterim é coordenar melhor as expectativas, o que exigirá um esforço de comunicação com o mercado e com a população, algo que faz falta desde a campanha eleitoral.