A Rede, empresa de maquininhas de cartão do Itaú Unibanco, vai perder receita com a decisão de zerar a taxa nas operações de antecipação de recebíveis aos lojistas, mas continua sendo "muito lucrativa". A afirmação é do presidente do banco, Candido Bracher.
Ele negou que o Itaú esteja se valendo do seu poder de fogo na disputa pelo cada vez mais acirrado mercado das maquininhas de cartão. "Nós apenas antecipamos uma tendência que nos parece inexorável", afirmou Bracher, em teleconferência com a imprensa para comentar o resultado do primeiro trimestre do banco.
Para você entender o que está em jogo, os lojistas que fazem vendas no cartão de crédito só recebem o dinheiro em um prazo de 30 dias. Para quem deseja antecipar esses recursos, as empresas de maquininhas oferecem linhas de crédito, cobrando uma taxa de juros.
O que a Rede fez foi zerar essa taxa para os clientes com faturamento abaixo de R$ 30 milhões e que tenham conta no Itaú. As novas regras entraram em vigor ontem.
Bracher disse que a prática de realizar os pagamentos das vendas no cartão em dois dias (D+2) é comum no resto do mundo, mas que no Brasil ainda não acontecia em razão das altas taxas de juros.
O presidente do Itaú negou que o banco irá compensar essa perda de receita com a antecipação de recebíveis em outras linhas do banco. "Se houvesse grandes compensações, não teria sido necessário alterarmos o nosso guidance [projeção]", disse aos jornalistas.
Junto com o balanço, o Itaú reduziu ontem a projeção de crescimento nas receitas com serviços e tarifas, de um aumento de 3% a 6% para uma expansão de 2% a 5%. O banco também diminuiu a expectativa para o crescimento da margem financeira com clientes, que inclui as receitas com crédito, para um intervalo de 9% a 12%. A estimativa anterior variava de 9,5% a 12,5%.
Sobre a exigência do domicílio bancário no Itaú para o benefício da taxa zero na antecipação de recebíveis, o executivo afirmou que o banco zerou a tarifa para quem quiser transferir os recursos para outra instituição financeira.
Bracher disse ainda que vê "com muito bons olhos" a proposta lançada pela Cielo de criação de um custo efetivo total (CET) das taxas cobradas dos lojistas pelas empresas de maquininhas.
"Se a sugestão do nosso concorrente for levada à frente terá o nosso apoio."
A Cielo, controlada pelo Banco do Brasil e pelo Bradesco, também anunciou que vai zerar a taxa de antecipação no crédito à vista e do aluguel da maquininha (para os lojistas com faturamento acima de R$ 5 mil por mês) no plano "Cielo Livre".