A terça-feira está repleta de divulgações e eventos econômicos relevantes, com forças para agitar o mercado financeiro, no Brasil e no exterior. Mas os investidores estão mesmo atentos é na cena política, de onde podem surgir novidades capazes de definir o cenário para os ativos de risco no curto prazo, lançando luz para o segundo semestre deste ano.
Com isso, o radar dos negócios no exterior segue na reunião do G20, a partir da sexta-feira, quando os presidentes de Estados Unidos e China devem se encontrar para negociar a questão da guerra comercial. A expectativa pelo encontro tende a esvaziar a reação ao discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, hoje (14h).
Afinal, uma ação imediata do Fed depende de uma piora considerável nos indicadores econômicos norte-americanos, após a autoridade monetária reforçar uma dependência de dados (data dependency) para definir o próximo passo em relação aos juros. E os riscos à atividade vão depender do desfecho da reunião entre Donald Trump e Xi Jinping, no Japão.
Ainda assim, Powell deve repetir hoje o tom suave (“dovish”) da reunião na semana passada, quando o Fed mostrou-se pronto para agir. Essa postura manteve a reunião de julho “viva” para o primeiro corte em dez anos na taxa norte-americana. Mas a autoridade monetária quer esperar e ver como os riscos se desenvolvem antes de puxar o gatilho.
Cautela nos mercados
À espera da reunião entre os presidentes norte-americano e chinês, as principais bolsas asiáticas fecharam em queda. Xangai e Hong Kong lideraram as perdas, caindo ao redor de 1%, ao passo que Tóquio cedeu 0,5%. O sinal negativo também prevalece entre os índices futuros das bolsas de Nova York, contaminando a abertura do pregão europeu.
Os investidores mostram cautela, apesar dos relatos de que os representantes das equipes de EUA e China, Robert Lighthizer e Liu He, teriam conversado ontem por telefone. Afinal, sabe-se que Trump e Xi não podem apenas concordar em retomar as negociações comerciais, sem ter que eliminar nenhum dos pontos críticos.
Enquanto aguardam novidades sobre a resolução da disputa comercial, consolidando um consenso, os investidores redobram a postura defensiva, em meio à escalada da tensão entre EUA e Irã. O país persa afirmou que as sanções adotadas por Washington significam um caminho diplomático fechado “para sempre”.
Com isso, a busca por proteção em ativos seguros fortalece o ouro e o iene, enquanto o rendimento (yield) do título norte-americano de 10 anos (T-note) volta a encostar em 2%. Já o petróleo recua. Ou seja, os investidores estão encontrando poucas razões para esticar o rali recente por ativos de risco, o que pode afetar o comportamento dos mercados por aqui.
Aqui tem Copom, inflação e Previdência
Aliás, no Brasil, a agenda econômica do dia traz como destaques a ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom), a prévia da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15) em junho e a retomada das discussões sobre a reforma da Previdência na comissão especial.
O documento do Banco Central abre o dia (8h), mas não deve trazer novidades. Após o comunicado que acompanhou a decisão de manter a Selic em 6,50% pela décima vez seguida ter deixado claro que um corte na taxa básica depende de um avanço concreto na agenda de reformas, o conteúdo da ata pode até ser mais enxuto, deixando as novidades para o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que sai na quinta-feira.
Talvez hoje o Copom esclareça, na ata, o peso dado ao risco de uma eventual frustração com as reformas, agora “preponderante”, e a avaliação de que o cenário de recuperação econômica foi “interrompido”. Ainda assim, o balanço para a inflação evoluiu de maneira “favorável”. Assim, o Comitê pode estar apenas ganhando tempo para a decisão de julho.
Também perde força o resultado do IPCA-15 de junho (9h), uma vez que tampouco é novidade que a inflação está correndo em uma zona confortável. A previsão é de uma leitura mensal próxima a zero, no menor nível para o mês desde 2006, com a taxa acumulada em 12 meses ficando abaixo de 4% após três meses seguindo acima dessa marca - lembrado que a meta perseguida pelo BC neste ano é de 4,25%.
Com isso, o radar dos investidores estará concentrado é na volta aos trabalhos na Câmara, onde os deputados ainda irão discursar sobre a proposta de novas regras para aposentadoria. A expectativa é de que seja montada uma força-tarefa para que os quase 80 inscritos possam falar até amanhã, abrindo caminho para votação do parecer até quinta-feira.
O texto do relator, com os ajustes finais, deve ser apresentado na quarta-feira, quando devem ser incorporadas mudanças sugeridas durante as sessões de discussão na comissão especial. O mercado acredita que será preservada uma potência fiscal perto de R$ 1 trilhão em dez anos, com a proposta sendo aprovada em plenário antes do recesso.
Já o governo está confiante na aprovação da reforma na Câmara em julho. Em uma onda que mistura otimismo e contagem de votos, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, garante ter mais de 330 votos para aprovar a Previdência em plenário, o que levaria a uma vitória expressiva, acima dos 308 votos necessários.
Agenda tem outros destaques
Também pode ser destaque hoje, o julgamento da suspeição do então juiz da Lava Jato Sergio Moro no caso do triplex do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas ao que tudo indica, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve adiar para o segundo semestre a análise do habeas corpus em que a defesa do petista pede a anulação do julgamento.
Entre os indicadores econômicos domésticos, destaque ainda para o índice de confiança do consumidor em junho (8h), que pode registrar a quinta queda seguida, nos menores níveis desde o fim do ano passado. No exterior, também sai o índice de confiança do consumidor norte-americano (11h), além de dados do setor imobiliário nos EUA pela manhã.