Como um investimento fracassado em BRF levou a Tarpon de mito a exilada do mercado
Uma das poucas gestoras de capital aberto, Tarpon vai sair da bolsa para se reestruturar. Companhia acreditava que poderia reerguer a BRF, mas aposta deu errado e gestora entrou em crise.

Foi em 2002 que a gestora de recursos Tarpon, comandada por jovens na casa dos seus 20 anos, surgiu no mercado brasileiro. Desde o começo, fizeram tacadas ousadas, como a primeira oferta hostil do Brasil, lançada pela Acesita, em 2006. Mas por uns bons pares de anos foram vistos no mercado com os “meninos da Tarpon” - faltava idade e, portanto, credibilidade.
Dez anos depois da criação, já estavam consolidados com uma das gestoras brasileiras que mais entregavam retorno aos seus cotistas. E os “meninos” saíram de cena: ficou apenas a Tarpon. A forma como tem sido conduzida a decisão de fechar o capital da gestora no momento mais difícil de toda a sua história, entretanto, fez “os meninos da Tarpon” voltarem à boca do mercado de forma nada lisonjeira.
A decisão de sair da bolsa foi anunciada ao mercado no apagar das luzes de 2018, em um fato relevante divulgado às 19h30 da sexta-feira, 28 de dezembro – como que em uma torcida para que ninguém visse. Nesses primeiros dias de 2019, muitos no mercado não haviam visto mesmo. Comunicar-se com o acionista dessa maneira não seria uma prática bem digerida pela Tarpon como minoritária de qualquer empresa.
O fechamento do capital é necessário para reestruturar o negócio, diz o comunicado ao mercado. Não é segredo para ninguém que acompanha a bolsa que a Tarpon afundou junto com a BRF, empresa que reúne as marcas Sadia e Perdigão e que concentrou por um longo período o patrimônio de seus fundos. A ação da companhia, que já foi negociada na casa dos R$ 15, hoje é vendida a pouco mais de R$ 2, uma desvalorização de 85% em relação aos tempos áureos.
O desempenho pífio das ações da BRF fez com que os cotistas pedissem resgate dos fundos da Tarpon. De R$ 3,84 bilhões sob gestão, 77,6% estão comprometidos com resgates. Os cerca de R$ 860 milhões que sobraram são na maior parte dinheiro dos sócios, majoritariamente dos três principais: José Carlos Reis de Magalhães Neto, o Zeca; Pedro Andrade Faria e Eduardo Mufarej.
E depois de terem tornado o projeto Tarpon viável graças à chegada dos investidores da bolsa, eles estão dizendo que não precisam mais de sócios, ao anunciar o fechamento de capital.
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Movimento incomum na largada
No Brasil, não é comum uma gestora abrir capital na Bolsa, mas logo de saída os sócios da Tarpon decidiram fazê-lo pelo seu estilo de investimentos. O entendimento era que o investidor brasileiro não seria capaz de aguentar os solavancos no mercado de ações até que maturassem seus investimentos transformacionais, de longo prazo, reformando empresas.
Isso foi resolvido com a estratégia de focar no investidor estrangeiro e abrir o capital – assim a empresa teria um investidor mais paciente pelo lado dos cotistas e um capital permanente pelo lado dos acionistas, blindando-se de resgates que atrapalhariam sua estratégia antes de ela dar retorno.
O case da abertura de capital da Tarpon foi justamente este: como investia a longo prazo, a gestora precisava de estabilidade de capital. E conseguir isso foi decisivo para que ela chegasse onde queria ao completar dez anos, em 2012, com cotistas satisfeitos, parceiros relevantes e mais de R$ 8 bilhões sob gestão.
Quem comprou essa ideia não tinha dúvida do que os meninos fariam. A Tarpon sempre teve um mesmo modelo de negócios: os sócios adquiriam fatias relevantes dos fundos em uma única empresa – o percentual do patrimônio em BRF chegou a ultrapassar 60%.
Depois da compra, a Tarpon entrava na gestão, deslocando seus funcionários para cadeiras no conselho de administração e nas diretorias das companhias. Assim eles tocavam o negócio para tentar ajudá-lo a sair de um ponto A para um ponto B, como costumavam dizer.
Essas grandes posições já eram de longo prazo por si só, pois não poderiam ser desfeitas rapidamente, sob o custo de as ações despencarem. Eram poucos e grandes investimentos por vez para que a dedicação dos “cabeças” da equipe pudesse ser relevante. Qual o risco disso tudo? Se são poucos investimentos, tudo poderia dar muito certo ou muito errado.
Altos e baixos
Em 15 anos de vida, a Tarpon teve uma maioria de anos excelentes e virou mito no mercado. Entregaram bem mais do que “prometeram”. Mas a partir de 2015, vieram os anos ruins. E, com ela, a decisão de fechar as portas para terceiros e transformar-se num “family office”. Aparentemente, os próprios sócios não veem capacidade de recuperação do seu próprio negócio, depois de terem levado essa proposta a vários investidores e empresários nos últimos anos. Um fracasso, depois de vários sucessos, está servindo para encerrar a história.
Não é o primeiro caso de gestora que entra em crise sob os holofotes do mercado. Além da Tarpon, a GP Investimentos, uma gestora de private equity das mais antigas do mercado brasileiro, tem papéis listados na B3. Ela teve seus sérios problemas de performance em meados dos anos 2000.
Vendeu a Imbra, clínica dental, por R$ 1, depois de ter investido R$ 140 milhões. Na San Antonio, que atendia o setor de petróleo, teve prejuízo de 100%. A GP ficou sem captar por um tempo, se reestruturou, diminuiu de tamanho. Enfrentou os mais diversos questionamentos dos acionistas, mas fez isso tudo sem desligar as tomadas. Agora vive uma nova fase de estabilidade.
O grande problema da Tarpon é que, para uma gestora de recursos, confiança é tudo. Seja na performance ou na capacidade de gestão. E a da Tarpon ficou muito abalada após a aposta errada na BRF. A gestora assumiu a BRF praticamente realizando um sonho, uma vez que anos antes havia tentado ficar com a Sadia, quando a empresa quebrou e foi forçada a fazer uma fusão com a Perdigão, em um negócio que originou a BRF.
Quando a Tarpon se apoderou da BRF houve muita discussão interna, que culminou com a debandada de diversos sócios. Eles foram contra o posicionamento dos sócios principais, Zeca, Faria e Mufarej, de se transferirem da gestora para as empresas. Era o modus operandi: Eduardo Mufarej desligou-se do dia a dia da gestora e foi para a Somos Educação. Pedro Faria mudou-se para a BRF. E Zeca sempre foi o cérebro, que ficava nos conselhos estratégicos, inclusive da Tarpon.
Os erros na BRF
Na BRF, logo na entrada, a equipe da Tarpon dispensou executivos relevantes, com anos de casa e experiência no setor. Saíram os especialistas em indústria e agronegócio e entram os financistas. Quem fez a festa e comprou os talentos descartados da BRF foi a JBS, que ganhava cada vez mais participação de mercado, especialmente após a aquisição da Seara.
Na "nova BRF", quem embarcou também foi o empresário Abilio Diniz, recém-saído de uma briga com o sócio Casino, e que prometia aportar seu conhecimento do varejo na função de presidente do conselho de administração. A dobradinha estava formada: Abilio no conselho e Faria como CEO da companhia.
É bem verdade que o preço das commodities não ajudou a gestão Tarpon-Abilio, nem a crise econômica brasileira, que prejudicou as marcas líderes e deu ainda mais gás para a concorrência. Mas há também o fato de que o modus operandi do mercado financeiro não funcionou em um negócio de complexa cadeia de produção e distribuição como a indústria de carnes e alimentos processados. A BRF teve prejuízos bilionários, desagradou funcionários, produtores rurais, acionistas.
A gota d´água foi a operação Carne Fraca e as investigações que a sucederam, que abalaram a indústria de carne brasileira como um todo, mas a BRF mais do que todas. O final foi melancólico, com a prisão de Pedro Faria, em março de 2018 na operação Trapaça, da Polícia Federal, que investiga fraudes internas na empresa e crimes contra a saúde pública.
A situação gerou um conflito entre os sócios, que culminou com os fundos de pensão Previ e Petros pedindo a mudança de gestão. No fim, fecharam um acordo e Pedro Parente, que na época ainda era presidente da Petrobras, apareceu como um nome de consenso para salvar o negócio - e acalmar os ânimos.
Mesmo após sair da BRF, a história não acabou para Faria e Diniz. Em novembro de 2018, eles e outros executivos foram indiciados e agora aguardam por uma acusação ou não de parte do Ministério Público. Eles foram acusados de fraudes internas e conversas por aplicativos de mensagens, que incluem Zeca, foram transformadas em provas.
Muitos no mesmo mercado questionaram as denúncias com base nas conversas e dizem que elas precisam de uma boa dose de interpretação para serem transformadas em provas. Mesmo assim, a imagem dos executivos foi abalada.
Há quem pense que complicaria a captação e gestão de recursos de qualquer empresa ter um sócio alvo de investigação batizada de Operação Trapaça, com culpa no cartório ou não. Especialmente para a Tarpon, que busca o dinheiro do investidor internacional. O indiciamento pode ter pesado na decisão de fechar o capital da empresa, observam fontes.
Batendo em retirada
Se realmente não tinha clima para continuar, a operação de retirada da empresa do mercado foi estruturada para não descapitalizar ainda mais a gestora. Os R$ 2,25 por ação oferecidos embutem um dividendo extraordinário e a redução de capital da empresa, de modo que dinheiro do bolso dos sócios não vai exatamente sair na operação, embora deixe de entrar. Eles reduziram o que receberiam como performance por uma bem-sucedida venda da Somos de 35% para 16% – ficaria difícil para a Tarpon justificar mais esse dinheiro para os gestores, entre as perdas de acionistas e cotistas.
Quando questionada sobre os riscos de manter 70% do fundo em BRF, o que a Tarpon costumava alegar era que seus cotistas possuíam restrições para receber o dinheiro de volta e isso não iria comprometer a qualidade do investimento. Diante do saque estrondoso, ela agora não quer mais esperar tanto tempo assim para devolver o dinheiro a eles, e pretende entregar os ativos. Ou seja, em vez de esperar o prazo das condições restritivas, vender as ações da BRF e entregar o dinheiro aos cotistas, pretende o quanto antes, entregar diretamente as ações a eles.
O que será da Tarpon?
Fora da bolsa - e da mira dos minoritários - a Tarpon vai buscar arrumar a casa. Dentre os planos estão gerir recursos próprios, um fundo de ações líquido e o Ômega Energia Renovável, um investimento de dez anos que sobrou por lá.
A Tarpon quer também se associar a empresas menores, da nova economia, as famosas startups. Só que não fala em colocar dinheiro - o plano é contribuir com expertise e contatos.
Uma das possibilidades já declaradas é investir em uma gestora de Pedro Faria, que apesar de ter seu dinheiro na Tarpon, não tem nenhum cargo por lá. Mufarej já havia se desligado do dia a dia da Tarpon quando foi para a Somos, em 2015. Desde o ano passado passou a se dedicar cada vez mais à política, sua grande paixão, com o movimento RenovaBR.
Marcelo Lima, um dos sócios mais antigos da Tarpon e dos poucos que permanecem ainda lá, assumiu a presidência. Zeca continua a ser a cabeça que pensa na estratégia. E dizem que está pronto para começar um outro negócio aos 40 anos – idade em que muitos no mercado estão se desligando das grandes empresas para fazer exatamente isso.
A Tarpon foi procurada, mas não deu entrevista.
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