Acabou a isenção: como as mudanças propostas no imposto de renda dos investimentos podem mexer com os mercados
Investidores podem esperar mudanças nas taxas, nos prazos e nos retornos se propostas da MP 1.303/25, que estabelece imposto de 5% para isentos e alíquota única de 17,5% para demais investimentos, forem aprovadas

O investidor que se sentia confortável aplicando em LCIs, LCAs, CRIs e CRAs para fugir do Leão pode dar de cara com a fera nos rendimentos a partir de 2026. O governo oficializou o novo imposto de 5% para títulos isentos na Medida Provisória 1.303/25, publicada na noite de quarta-feira (11).
O texto também estabelece uma alíquota única de Imposto de Renda para os demais investimentos não incentivados. Isso significa que CDBs, títulos públicos, fundos de renda fixa e de ações, dentre outros, serão taxados em 17,5%, independentemente do prazo de investimento. Hoje, a alíquota pode cair até 15% para aplicações de mais de dois anos.
No mesmo bonde, veio a decisão de aumentar de 15% para 20% a taxa cobrada dos juros sobre capital próprio (JCP) distribuídos pelas empresas — um pagamento similar aos dividendos, mas que não é isento de IR.
Com todo esse vaivém de aumentar imposto aqui, mudar imposto acolá, a grande pergunta que fica é: o que muda na carteira de investimentos?
Os (quase extintos) títulos isentos vão sumir? O que significa uma alíquota única de 17,5%?
- VEJA MAIS: Você está preparado para ajustar sua carteira este mês? Confira o novo episódio do “Onde Investir” do Seu Dinheiro
Perguntas não faltam, mas antes de qualquer esclarecimento, é importante ter em mente que nenhuma das mudanças propostas na MP 1.303 é definitiva ainda. O texto será analisado pelo Congresso Nacional, que tem o prazo de 120 dias para validar ou mudar tudo o que está indicado ali.
Leia Também
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos/PB), já afirmou que não tem compromisso em aprovar as medidas do governo e que deseja mudanças “estruturantes”, não meramente arrecadatórias.
Dito isso, vamos aos — possíveis — impactos com as medidas.
Ainda vale a pena investir em LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e debêntures incentivadas?
Segundo analistas e gestores ouvidos pelo Seu Dinheiro, a resposta é sim.
Embora deixem de ser aplicações financeiras isentas de Imposto de Renda, os ativos continuarão incentivados do ponto de vista fiscal.
A alíquota de 5% proposta pelo governo federal é bastante inferior à alíquota de 17,5% atribuída aos demais investimentos, como títulos públicos e CDBs (Certificados de Depósito Bancário).
O que vai acontecer é uma revisão das taxas dos papéis que passarão a ser incentivados, mas não mais isentos. Segundo Amanda Martins Ribeiro, sócia-fundadora da Canal Securitizadora, esses papéis precisam ser atrativos em relação aos títulos públicos, que são considerados os investimentos de menor risco.
Ao tirar o benefício fiscal, a tendência é que o mercado se ajuste para estabelecer essa atratividade nas taxas de retorno, para que o investidor não tenha a sensação de perda de rentabilidade.
“Embora os títulos do Tesouro fiquem com a taxa maior de 17,5%, mais do que a vantagem fiscal, é a percepção de risco que pesa mais. Então o investidor vai cobrar uma taxa maior”, diz Ribeiro.
Quando coloca essa conta na ponta do lápis, uma LCI que oferece hoje uma rentabilidade equivalente a 90% do CDI, tem um retorno isento de imposto da ordem de 13,2%.
Com uma cobrança de 5% de IR, o ganho líquido da mesma LCI cai para aproximadamente 12,5%, o equivalente a 85% do CDI.
Segundo Ribeiro, a tendência é que o mercado reveja essas taxas caso a MP seja aprovada, para que o investidor não tenha essa percepção de perda de rentabilidade na prática.
Mas nada disso seria para agora ou o mês que vem. O novo imposto só será aplicado para os títulos emitidos a partir de 2026. Os títulos com emissão até 31 de dezembro de 2025 mantêm a sua isenção fiscal.
O que nos leva para um segundo impacto.
Corrida de emissões de isentos
Ribeiro afirma que o segundo semestre, de modo geral, costuma ser mais agitado para emissões de crédito estruturado, como os CRIs e CRAs.
Entretanto, com a possibilidade de um novo imposto para esses títulos a partir de janeiro, tudo indica que a intensidade será dobrada.
A sócia-fundadora da Canal Securitizadora acredita que haverá uma corrida por emissões e busca intensa dos investidores por novos títulos, para travar a isenção fiscal até a última data possível.
O que implica em um perigo na precificação e na avaliação de risco dos títulos que serão emitidos até lá. A alta demanda tende a comprimir os prêmios de risco e a busca dos investidores pelos papéis pode fazer com que as avaliações de risco fiquem em segundo plano.
Ribeiro alerta para a necessidade da avaliação de risco dos títulos de crédito privado, que não contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) como as LCIs e LCAs, que são de emissão bancária.
Fim da tabela regressiva — e dos investimentos de longo prazo?
Outra mudança relevante da MP 1.303 foi enterrar a tabela regressiva do Imposto de Renda.
Hoje, o imposto cobrado nas aplicações financeiras diminui de acordo com o tempo que você mantém o ativo na carteira. A tabela começa em 22,5% sobre os rendimentos até seis meses (180 dias) de aplicação.
Resgatando entre seis meses e um ano (360 dias), a taxa cai para 20%. De um a dois anos (720 dias), 17,5%. Passou disso, a cobrança é de um imposto mínimo de 15%.
Isso vale para CDBs, títulos públicos, fundos de renda fixa, multimercados e por aí vai.
Se a proposta do governo passar no Congresso, a incidência de imposto em todos esses investimentos será única, de 17,5%. Na prática, a proposta tira o incentivo para o investidor permanecer por longos períodos nas aplicações financeiras.
Novamente, o mercado terá que se adequar a essas mudanças. José Eduardo Daronco, diretor de RI da Suno, acredita que isso pode se reverter em revisão de prazos de títulos de renda fixa ou de períodos de resgate dos fundos.
“O gestor vai ter mais dificuldade de segurar o investidor dentro do fundo, mas é importante travar o recurso para conseguir operar as carteiras. Então isso vai ter que ser equalizado de alguma forma”, diz Daronco.
Novas emissões com menor liquidez, prazos fechados de investimento, ou fundos com resgate travado em períodos maiores podem ser o novo horizonte a partir de 2026.
Negociações a pleno vapor
O incentivo ao curto prazo também vale para ações.
Negociações no mesmo dia, como day trade — que antes tinham alíquota de 20% cobrada sobre ganhos de capital —, e operações de prazo maior, como swing trade — taxadas em 15% —, agora também serão tributadas em 17,5%.
Para o diretor da Suno, isso estimula mais a especulação do que o investimento com foco em construção patrimonial e alocação de longo prazo.
Outro detalhe importante que se relaciona com as operações de curto prazo é a mudança na MP que trata da compensação de prejuízos.
Segundo o texto apresentado pelo governo, prejuízos com aplicações financeiras de quase toda natureza — títulos de renda fixa, fundos de investimentos e ativos de bolsa — poderão ser compensados entre si, desde que declarados na mesma ficha da Declaração Anual de Ajuste (DAA) do IR.
Para Carlos Ferrari, sócio do NFA Advogados, essa possibilidade de compensação cruzada — que ele afirma não ter clareza de como seria aplicado na prática — é um incentivo para mais operações no mercado secundário, de compra e venda de ativos, visto que os prejuízos poderão ser compensados.
“É uma mudança significativa na dinâmica do mercado. Estamos falando de um incentivo a liquidez e fomento de mais transações, que deve fortalecer o secundário”, diz Ferrari.
Mas existe o outro lado da moeda. É comum situações de efeito manada dos investidores, principalmente em ações, diante de notícias negativas.
A dúvida que fica agora é se essa possibilidade compensatória irá aumentar a volatilidade em outros ativos também.
Não tem para onde correr
Todas as aplicações financeiras foram abocanhadas pela Leão de alguma forma — até mesmo os dividendos dos fundos imobiliário e fiagros entraram na conta dos 5%.
Segundo os especialistas consultados pelo Seu Dinheiro, a MP vai levar a uma redução no fluxo de caixa mensal dos investidores de FIIs e Fiagros.
Isso porque, quem hoje recebe R$ 1 mil em proventos desses fundos passaria a receber R$ 950 a partir de 2026, considerando o imposto de 5%.
Como os rendimentos dos FIIs e Fiagros passam a ser menores, para os investidores manterem o mesmo dividend yield (taxa de retorno de dividendos), ele deverá pagar menos pelas cotas adquiridas.
Assim, segundo a avaliação da analista Carolina Borges, chefe de análise e especialista em fundos imobiliários da EQI Research, o mercado pode observar uma queda de 5% nos preços negociados na bolsa de valores. Seria uma espécie de correção, devido à nova regra.
Além disso, o texto da MP não menciona o valor mínimo de distribuição semestral de 95% do lucro de caixa dos FIIs e Fiagros.
“Se a Medida Provisória for convertida em lei da forma como está hoje, os fundos imobiliários não vão precisar distribuir seus rendimentos todo semestre”, avalia Ferrari.
Já Caio Araújo, analista de fundos imobiliários da Empiricus Research, enxerga que o mercado já precificou os riscos de tributação, uma vez que as especulações sobre a questão tributária vêm rondando o segmento nos últimos anos.
Wellinton Depaoli, especialista em investimentos da Manchester, busca um olhar de copo meio cheio.
Para ele, com o fim de todas as isenções, o investidor terá um olhar mais crítico em relação aos produtos que entram na sua carteira. “A busca por ativos que ofereçam benefícios fiscais ou uma maior rentabilidade líquida pode intensificar a diversificação”, diz.
SPX diminui aposta no Banco do Brasil e vê oportunidade rara no crédito soberano da Argentina
Com spreads comprimidos travando o mercado local de títulos de dívida, a SPX afina a estratégia para preservar relação risco-retorno em fundos de crédito
Braskem, Vale, Mercado Livre… onde estão os riscos e oportunidades no crédito para quem investe em debêntures, na visão da Moody’s
Relatório da agência de risco projeta estabilidade na qualidade do crédito até o próximo ano, mas desaceleração da atividade em meio a juros altos e incertezas políticas exigem cautela
Prêmio das debêntures de infraestrutura é o menor em cinco anos — quem está comprando esse risco e por quê?
Diferença nas taxas em relação aos retornos dos títulos públicos está cada vez menor, diante da corrida aos isentos impulsionada por uma possível cobrança de imposto
A nova jogada dos gestores de crédito para debêntures incentivadas em meio à incerteza da isenção do IR
Com spreads cada vez mais apertados e dúvidas sobre a isenção do imposto de renda, gestores recorrem ao risco intermediário e reforçam posições em FIDCs para buscar retorno
Tesouro Direto vai operar 24 horas por dia a partir de 2026
Novidades incluem título para reserva de emergência sem marcação a mercado e plataforma mais acessível para novos investidores
Tesouro Direto IPCA ou Prefixado: Qual a melhor opção de renda fixa para lucrar na virada de ciclo dos juros?
Com juros em queda e inflação sob controle, entenda como escolher a melhor opção de rentabilidade para proteger e potencializar os investimentos
Debêntures da Petrobras (PETR4) e prefixados com taxa de 13% ao ano são destaques. Confira as recomendações para renda fixa em agosto
BTG Pactual, Itaú BBA e XP recomendam travar boa rentabilidade agora e levar títulos até o vencimento diante das incertezas futuras
Tesouro Educa+ faz aniversário com taxas de IPCA + 7% em todos os vencimentos; dá para garantir faculdade, material e mais
Título público voltado para a educação dos filhos dobrou de tamanho em relação ao primeiro ano e soma quase 160 mil investidores
De debêntures incentivadas a fundos de infraestrutura, investidores raspam as prateleiras para garantir títulos isentos — e aceitam taxas cada vez menores
A Medida Provisória 1.303/25 tem provocado uma corrida por ativos isentos de imposto de renda, levando os spreads dos títulos incentivados a mínimas históricas
De SNCI11 a URPR11: Calote de CRIs é problema e gestores de fundos imobiliários negociam alternativas
Os credores têm aceitado abrir negociações para buscar alternativas e ter chances maiores de receber o pagamento dos títulos
Renda fixa capta bilhões em dólar e em real e consolida ‘novo normal’ no primeiro semestre de 2025, diz Anbima
Debêntures incentivadas ganham cada vez mais destaque, e até mesmo uma “alternativa exótica” cresce como opção
Ficou mais barato investir em títulos do Tesouro dos EUA e renda fixa global: Avenue amplia variedade de bonds e diminui valor mínimo
São mais de 140 novos títulos emitidos por companhias de países como Canadá, França e Reino Unido
Perdeu a emissão primária de debêntures da Petrobras (PETR4)? Títulos já estão no mercado secundário e são oportunidade para o longo prazo
Renda fixa da Petrobras paga menos que os títulos públicos agora, mas analistas veem a possibilidade de retorno ou ganho de capital no futuro
Renda fixa vai ganhar canal digital de negociação no mercado secundário com aval da CVM; entenda como vai funcionar
O lançamento está previsto para acontecer neste mês, já com acesso a debêntures, CRIs, CRAs, CDBs, LCIs, LCAs e LIGs
Gestores não acreditam que tributação de títulos isentos vai passar, mas aumentam posição em debêntures incentivadas
Pesquisa exclusiva da Empiricus revela expectativa de grandes gestores de crédito sobre a aprovação da MP 1.303 e suas possíveis consequências
Isa Energia e CPFL são compra em julho. Confira as recomendações de debêntures, CRI e CRA, LCD e títulos públicos para o mês
BB Investimentos, BTG Pactual, Itaú BBA e XP recomendam travar boa rentabilidade na renda fixa agora, diante da perspectiva de taxas menores no futuro
CDB ou LCA: títulos mais rentáveis de junho diminuem taxas, mas valores máximos chegam a 105% do CDI com imposto e 13,2% ao ano isento de IR
Levantamento da Quantum Finance traz as emissões com taxas acima da média do mercado e mostra que os valores diminuíram em relação a maio
“Uma pena o Brasil ter entrado nessa indústria de isento”: por que Reinaldo Le Grazie, ex-BC, vê a taxação de títulos de renda fixa com bons olhos?
MP 1.303 reacende uma discussão positiva para a indústria, segundo o sócio da Panamby, que pode melhorar a alocação de capital no Brasil
Nem toda renda fixa, mas sempre a renda fixa: estas são as escolhas dos especialistas para investir no segundo semestre
Laís Costa, da Empiricus, Mariana Dreux, da Itaú Asset, e Reinaldo Le Grazie, da Panamby, indicam o caminho das pedras para garantir os maiores retornos na renda fixa em evento exclusivo do Seu Dinheiro
Crédito privado conquistou os investidores com promessas de alto retorno e menos volatilidade; saiba o que esperar daqui para frente
Ativos de crédito privado, como FIDCs e debêntures, passaram a ocupar lugar de destaque na carteira dos investidores; especialistas revelam oportunidades e previsões para o setor