Bancos pagam 45% de imposto no Brasil? Não exatamente. Por que os gigantes do setor gastam menos com tributos na prática
Apesar da carga nominal elevada, as instituições financeiras conseguem reduzir o imposto pago; conheça os mecanismos por trás da alíquota efetiva menor
Recentemente, um velho debate voltou a ganhar força no mercado financeiro: afinal, quanto os bancos realmente pagam de impostos no Brasil?
A discussão ressurgiu com força após a proposta de elevar a tributação das fintechs e uma troca pública de farpas entre essas empresas e a Febraban, entidade que representa os grandes bancos.
No centro da polêmica está uma diferença que incomoda o setor: embora os bancos enfrentem uma das maiores alíquotas nominais do país, o imposto efetivamente pago costuma ser bem menor do que sugere a regra no papel.
- Reportagem especial: Nubank busca licença bancária, mas sem “virar banco” — e ainda pode seguir com imposto menor; entenda o que está em jogo
Em tese, todo banco brasileiro inicia o exercício fiscal devendo 45% do lucro aos cofres públicos, quando se somam o Imposto de Renda para Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Mas, na prática, esse número raramente se materializa. A alíquota efetiva — aquilo que de fato é pago após compensações legais — costuma ficar entre 20% e 30% e, em situações específicas, pode até se tornar negativa, dependendo da base de cálculo e do volume de créditos tributários utilizados.
A diferença de impostos entre bancos e fintechs
Bancos como Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander Brasil (SANB11) e Banco do Brasil (BBAS3), são instituições maduras, com décadas de operação.
Leia Também
Ao longo desse tempo, acumularam um volume expressivo de créditos tributários, resultado de prejuízos em ciclos de crise, provisões elevadas, investimentos pesados e, sobretudo, do uso recorrente de instrumentos como os juros sobre capital próprio (JCP).
Esses créditos são utilizados para reduzir a carga efetiva de impostos dos bancões ao longo do tempo.
Já fintechs, mais jovens por definição, não tiveram tempo para construir esse estoque. Sem um histórico longo de prejuízos compensáveis ou estruturas societárias complexas, acabam pagando algo muito mais próximo da alíquota cheia.
Esse cenário, contudo, não transforma os bancos em maus pagadores de impostos. Pelo contrário. A Confederação Nacional das Instituições Financeiras (Fin) afirma que, pelo menos desde 2011, o setor financeiro é o maior pagador de impostos federais do Brasil.
Segundo a entidade, a participação do setor na arrecadação supera em cerca de 10% a sua fatia no Produto Interno Bruto (PIB) — o que demonstraria a dependência do Estado em relação à tributação da atividade financeira.
"Considerando que o Brasil já tem uma carga tributária muito elevada para a sua renda per capita, os resultados mostram uma elevada dependência do Estado da tributação dessa atividade”, afirmou a Fin em estudo recente.
Por que os bancos pagam menos imposto na prática?
Na avaliação de Régis Chinchila, analista de research da Terra Investimentos, a explicação passa menos por “privilégios” e mais pela forma como o modelo de negócios bancário se encaixa na legislação tributária brasileira.
Os bancões usam instrumentos como juros sobre o capital próprio, compensação de prejuízos fiscais, créditos tributários e deduções relacionadas a provisões para perdas. Tudo isso encolhe a base sobre a qual o imposto é calculado.
Em outras palavras, os bancos têm um volume grande de despesas que são dedutíveis da base de cálculo do imposto de renda. O resultado é que, ainda que a alíquota nominal seja elevada, o que aparece no fim é uma alíquota efetiva bem mais baixa.
As ferramentas dos bancões para pagar impostos mais baixos
Um dos instrumentos mais usados pelos bancões, e com maior impacto imediato no fluxo de caixa tributário, é o JCP. Ao remunerar o acionista por meio de juros sobre capital próprio, a instituição transforma essa distribuição em despesa dedutível.
Para uma instituição tributada a 45%, isso gera uma economia fiscal significativa: o lucro tributável cai totalmente pelo valor do JCP, enquanto o acionista paga apenas 15% de imposto na fonte. Com isso, o spread tributário chega a 30 pontos percentuais a favor do banco, segundo Jean Paolo Simei e Silva, sócio do Fonseca Brasil Serrão.
Não por acaso, Itaú e Banco do Brasil adotam políticas recorrentes de distribuição que exploram ao máximo o teto legal do JCP.
A leitura de analistas é que, no segundo trimestre de 2025, o BB teve uma alíquota efetiva de apenas 6,8% — e até 2% em algumas métricas. Isso foi viabilizado pelo pagamento de R$ 2,4 bilhões em JCP, que reduziu drasticamente a base tributável, segundo Simei e Silva.
Outro pilar da eficiência tributária bancária está nas fusões e aquisições (M&A). Cada grande compra gera um ágio contábil, que pode ser amortizado ao longo dos anos e deduzido do lucro tributável após a incorporação.
“Isso cria uma despesa ‘fictícia’ (não caixa) gigantesca nos anos que seguem a fusão. O banco não desembolsa dinheiro, já que o pagamento ocorreu na aquisição, mas registra uma despesa de amortização que reduz o lucro tributável, gerando uma economia de caixa de 45% sobre o valor amortizado”, disse o sócio do Fonseca Brasil Serrão.
O Santander, por exemplo, utilizou muito a amortização de ágios oriundos das aquisições do Banespa e do ABN Amro para manter a alíquota efetiva baixa por anos.
Além disso, no Santander, parte relevante do lucro vem de uma carteira própria de títulos isentos, segundo Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research. A receita gerada por esses papéis já nasce livre de imposto de renda, o que puxa a alíquota efetiva para baixo.
Além disso, bancos convivem naturalmente com inadimplência elevada, o que gera despesas dedutíveis, explicou outro advogado tributarista ouvido pelo Seu Dinheiro.
Créditos considerados irrecuperáveis podem ser reconhecidos como perdas fiscais, reduzindo a base de cálculo do imposto.
“Valores que são provisionados, que provavelmente o banco está considerando que ele não vai conseguir recuperar, podem ser lançados como perda no passivo”, disse o especialista.
Como isso influencia os balanços dos bancões?
Todos esses mecanismos têm impacto direto nos balanços. Eles ajudam a suavizar a volatilidade do lucro líquido, melhoram indicadores de rentabilidade e aumentam a previsibilidade dos resultados — especialmente em momentos de maior estresse no crédito.
Segundo Chinchila, esse efeito reforça a resiliência financeira dos grandes bancos sem uma distorção contábil, já que todas as práticas estão previstas nas regras atuais. Ainda assim, em alguns casos, o uso desses mecanismos volta a chamar a atenção do mercado.
No terceiro trimestre, por exemplo, o Santander apresentou um resultado acima das expectativas. Mas, na leitura do JP Morgan, a qualidade desse lucro foi "ruim".
Isso porque o lucro antes dos impostos caiu 6% no período, movimento que, segundo os analistas, teria sido “mascarado” por uma alíquota efetiva extremamente baixa — em torno de 4%, bem menor do que os 15% esperados pelo banco norte-americano.
Para Caio Cesar Braga Ruotolo, advogado tributarista e sócio do Silveira Advogados, esse tipo de resultado acontece devido às diferentes estratégias de planejamento tributário, como o uso de créditos fiscais e o diferimento de impostos.
“Esse planejamento tributário permite que as instituições identifiquem oportunidades legítimas para reduzir o valor devido, enquanto os créditos fiscais podem ser utilizados para abater parte do imposto a pagar”, disse Ruotolo. "Uma carga efetiva menor ajuda os bancos a manter margens elevadas.”
Na prática, isso reduz a despesa tributária registrada no balanço e eleva o lucro líquido reportado, fortalecendo indicadores de rentabilidade.
Petrobras (PETR4): com novo ciclo de investimentos, dividendos devem viver montanha-russa, segundo Itaú BBA e XP
O novo ciclo de investimentos da Petrobras (PETR4) tende a reduzir a distribuição de proventos no curto prazo, mas cria as bases para dividendos mais robustos no médio prazo, disseram analistas. A principal variável de risco segue sendo o preço do petróleo, além de eventuais pressões de custos e riscos operacionais. Na visão do Itaú […]
Depois de despencarem quase 12% nesta terça, ações da Azul (AZUL4) buscam recuperação com otimismo do CEO
John Rodgerson garante fluxo de caixa positivo em 2026 e 2027, enquanto reestruturação reduz dívidas em US$ 2,6 bilhões
Ozempic genérico vem aí? STJ veta prorrogação de patente e caneta emagrecedora mais em conta deve chegar às farmácias em 2026
Decisão do STJ mantém vencimento da patente da semaglutida em março de 2026 e abre espaço para a chegada de versões genéricas mais baratas do Ozempic no Brasil
Por que tantas empresas estão pagando dividendos agora — e por que isso pode gerar uma conta alta para o investidor no futuro
A antecipação de dividendos tomou a B3 após o avanço da tributação a partir de 2026, mas essa festa de proventos pode esconder riscos para o investidor
Cosan (CSAN3) vende fatia da Rumo (RAIL3) e reforça caixa após prejuízo bilionário; ações caem forte na B3
A holding reduziu participação na Rumo para reforçar liquidez, mas segue acompanhando desempenho da companhia via derivativos
Raízen (RAIZ4) recebe mais uma baixa: S&P reduz nota de crédito para ‘BBB-‘, de olho na alavancagem
Os analistas da agência avaliam que a companhia enfrenta dificuldades para reduzir a alavancagem, em um cenário de dívida nominal considerável e queima de caixa
Fim da era Novonor na Braskem (BRKM5) abre oportunidade estratégica que a Petrobras (PETR4) tanto esperava
A saída da Novonor da Braskem abre espaço para a Petrobras ampliar poder na petroquímica. Confira o que diz a estatal e como ficam os acionistas minoritários no meio disso tudo
Fusão entre Petz (PETZ3) e Cobasi finalmente vai sair do papel: veja cronograma da operação e o que muda para acionistas
As ações da Petz (PETZ3) deixarão de ser negociadas na B3 ao final do pregão de 2 de janeiro de 2026, e novas ações ordinárias da Cobasi serão creditadas aos investidores
Adeus, telefone fixo: Vivo anuncia fim de operação e deixa para trás uma história de memória afetiva para milhões de brasileiros
Ao encerrar o regime de concessão do telefone fixo, a Vivo sela o fim de um modelo que moldou a comunicação no Brasil por décadas
Vamos (VAMO3), LOG CP (LOGG3), Blau Farmacêutica (BLAU3) anunciam mais de R$ 500 milhões em dividendos; Rede D´Or (RDOR3) aprova recompra de ações
A LOG fica com a maior parte da distribuição aos acionistas, ou R$ 278,5 milhões; Rede D´Or já havia anunciado pagamento de proventos e agora renova a recompra de ações
Itaúsa (ITSA4) vai bonificar investidor com novas ações; saiba quem tem direito a participar
Quem é acionista da holding vai ganhar 2 ações bônus a cada 100; operação acontece depois do aumento de capital
Casas Bahia (BHIA3) busca fôlego financeiro com nova emissão, mas Safra vê risco para acionistas
Emissão bilionária de debêntures promete reduzir dívidas e reforçar caixa, mas analistas dizem que pode haver uma diluição pesada para quem tem ações da varejista
Banco do Brasil (BBAS3) ou Bradesco (BBDC4)? Um desses bancos está na mira dos investidores estrangeiros
Em roadshow com estrangeiros nos EUA, analistas do BTG receberam muitas perguntas sobre as condições do Banco do Brasil e do Bradesco para 2026; confira
Um novo controlador será capaz de resolver (todos) os problemas da Braskem (BRKM5)? Analistas dizem o que pode acontecer agora
O acordo para a saída da Novonor do controle da petroquímica reacendeu entre os investidores a expectativa de uma solução para os desafios da empresa. Mas só isso será suficiente para levantar as ações BRKM5 outra vez?
Nubank (ROXO34) pode estar ajudando a ‘drenar’ os clientes de Tim (TIMS3) e Vivo (VIVT3); entenda
Segundo a XP, o avanço da Nucel pode estar acelerando a migração de clientes para a Claro e pressionando rivais como Tim e Vivo, o que sinaliza uma mudança mais rápida na dinâmica competitiva do setor
Bradespar (BRAP4) distribui quase R$ 600 milhões em dividendos e JCP; pagamento será feito em duas etapas
Do total anunciado, R$ 330 milhões correspondem aos dividendos e R$ 257 milhões aos juros sobre capital próprio (JCP); Localiza também detalha distribuição de proventos
Falta de luz em SP: Prejuízo a bares, hotéis e restaurantes pode chegar a R$ 100 milhões
Estimativa da Fhoresp é que 5 mil estabelecimentos foram atingidos pelo apagão
Isa Energia (ISAE4) recebe upgrade duplo do JP Morgan depois de comer poeira na bolsa em 2025
Após ficar atrás dos pares em 2025, a elétrica recebeu um upgrade duplo de recomendação. Por que o banco vê potencial de valorização e quais os catalisadores?
Não colou: por que a Justiça barrou a tentativa do Assaí (ASAI3) de se blindar de dívidas antigas do Pão de Açúcar
O GPA informou, nesta segunda (15), que o pedido do Assaí por blindagem contra passivos tributários anteriores à cisão das duas empresas foi negado pela Justiça
Braskem (BRKM5) com novo controlador: IG4 fecha acordo com bancos e tira Novonor do comando
Gestora fecha acordo com bancos credores, avança sobre ações da Novonor e pode assumir o controle da petroquímica
