Confiança em xeque: mercado de capitais brasileiro recebe nota medíocre em pesquisa da CVM e especialistas acendem alerta
Percepção de impunidade, conflitos de interesse e falhas de supervisão reforçam a desconfiança de investidores e profissionais no mercado financeiro brasileiro
A confiança no mercado de capitais brasileiro está em baixa. Uma sequência de crises de governança, fraudes contábeis de grandes dimensões e suspeitas de manipulação de mercado têm colocado à prova a integridade da indústria local.
Uma nova pesquisa da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) revelou a fragilidade da percepção sobre o mercado, que se mostrou aquém da média.
O mercado de capitais brasileiro recebeu uma nota média de 2,57 em uma escala de 1 a 5, onde 1 significava "nada íntegro" e 5, "completamente íntegro". Isso coloca o mercado brasileiro em um patamar medíocre, entre a classificação de “pouco íntegro” e “razoavelmente íntegro”.
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O levantamento contou com mais de 1.500 respostas, incluindo tanto o público geral quanto profissionais do mercado financeiro.
Vale destacar que a pesquisa foi realizada entre os dias 28 de abril e 19 de maio de 2025 — isto é, antes da deflagração da Operação Carbono Oculto, que investiga o envolvimento de figuras proeminentes da Faria Lima com o crime organizado e pode colaborar ainda mais para a deterioração do sentimento dos investidores quanto ao mercado brasileiro.
A deterioração da confiança no mercado de capitais brasileiro
O resultado da pesquisa — com indicadores tão baixos para toda a indústria — levantou preocupações entre especialistas em governança corporativa.
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Segundo Rafael Oliveira, inspetor na Assessoria de Análise Econômica, Gestão de Riscos e Integridade da CVM, os resultados ajudarão a autarquia a entender como o mercado de capitais está sendo visto e a como agir para restaurar a confiança.
Porém, ele destaca que eventuais efeitos de ações que venham a ser implementadas pela CVM só tendem a ser percebidos no médio e longo prazo.
A pesquisa também indicou uma percepção negativa sobre a eficácia das ações da CVM para garantir a proteção do investidor e a supervisão do mercado. Com uma avaliação média de 2,55, o indicador mostra que, apesar de ações regulatórias, há uma sensação no mercado de que as medidas são insuficientes.
O ponto mais crítico foi a área de supervisão e sanção do mercado, que recebeu as piores avaliações. Entre os entrevistados, também havia uma forte sensação de irregularidades no mercado, como manipulação e insider trading, e críticas à falta de punições efetivas para quem comete essas infrações.

Casos de fraudes como a da Americanas (AMER3) e do IRB Brasil Re (IRBR3), que marcaram o cenário nos últimos anos, foram citados como exemplos emblemáticos que alimentaram ainda mais a sensação de vulnerabilidade no mercado.
Esses casos, aliados à ausência de medidas mais duras e eficientes pelos reguladores, fizeram com que os investidores e os profissionais do mercado perdessem parte da confiança no sistema financeiro.
O dilema dos assessores de investimento
Outro ponto levantado pelos entrevistados foi o comportamento ético dos profissionais de mercado, especialmente dos assessores de investimentos.
Em geral, todos os resultados ficaram abaixo da média no quesito integridade. Porém, os assessores receberam a pior pontuação: 2,17.
As críticas estavam voltadas a práticas como a recomendação de produtos inadequados para os investidores e a falta de transparência nas remunerações.
Para muitos dos entrevistados, o modelo baseado em comissões cria um desalinhamento de incentivos, prejudicando ainda mais a confiança.
Mas é preciso destacar que algumas iniciativas recentes ainda não foram captadas pela pesquisa, como a maior transparência na remuneração dos assessores e as novas regras de portabilidade de valores mobiliários.
O mercado de fundos de investimento também tem gerado desconforto. A percepção de conflitos de interesse entre os gestores e as preocupações com a falta de proteção para os investidores minoritários, que muitas vezes se veem em uma posição vulnerável, também figuraram entre os temas mais comentados pelos participantes da pesquisa.
O que dizem os especialistas do mercado de capitais
Na avaliação de Fábio Coelho, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), a pesquisa conduzida pela CVM é “inédita e corajosa”.
“Ao medir de forma sistemática a percepção de integralidade no mercado de capitais, a Autarquia assume publicamente que seu modelo de supervisão ainda apresenta fragilidades e precisa de ajustes. O relatório mostra que há espaço para a aplicação de ferramentas de regulação prudencial na prevenção de problemas reiterados, buscando antecipar situações conhecidas e diminuindo a dependência de fiscalização direta e reativa”, disse Coelho ao Seu Dinheiro.
Para ele, os resultados da pesquisa da CVM confirmam percepções já conhecidas dos investidores institucionais: a sensação de ocorrência mais frequente de casos de insider trading e de manipulação de mercado e as dificuldades no processo de reparação de danos após escândalos corporativos.
“Em situações emblemáticas, o mercado espera punições mais severas, com capacidade de afastar a sensação de impunidade”, afirmou Coelho. “O desafio será o de fortalecer a capacidade sancionadora e de supervisão, condição essencial para que o mercado de capitais brasileiro avance em legitimidade e credibilidade.”
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Para André Camargo, advogado e professor especializado em direito societário, governança corporativa e mercado de capitais, o patamar tão baixo de confiança no mercado brasileiro levanta sérias preocupações sobre a indústria.
“Esse indicador muito baixo é realmente preocupante. Porque tudo bem se houver um certo pessimismo de quem não está atuando profissionalmente, mas a CVM também obteve opiniões de profissionais que atuam no próprio mercado. A média está beirando o limite do pouco íntegro, abaixo de 3,00. É bastante preocupante. Existe uma desconfiança muito grande em relação ao mercado de capitais como um todo”, disse Camargo.
Segundo ele, se os participantes do mercado de capitais estão desanimados e entendendo que a integridade é questionável, isso age como um freio emocional nos modelos de investimento e de negócio.
Já na visão de Geraldo Affonso Ferreira, conselheiro independente e especialista em governança corporativa, o desafio para o mercado de capitais brasileiro é transformar o diagnóstico dos problemas em ações, de fato.
Segundo ele, são necessários “mais independência e recursos para a CVM, enforcement ágil e transparente, e uma cultura de governança que vá além do ‘box ticking’, realmente voltada à criação de valor sustentável para todos os acionistas”.
Propostas em curso
Um passo importante nessa direção seria o Projeto de Lei 2925 de 2023, que visa melhorar os direitos dos investidores minoritários e reforçar a proteção contra danos causados por atos ilícitos de acionistas controladores e administradores.
Um dos principais pontos da proposta é a possibilidade de acionistas minoritários e debenturistas passarem a propor ação civil coletiva de responsabilidade. O texto também prevê o aumento da publicidade em processos arbitrais, além do reequilíbrio de incentivos econômicos e riscos para as partes em processos judiciais ou arbitrais.
“Isso coloca mais gasolina nesta discussão. Porque, se o próprio mercado está dizendo que existe um problema de supervisão, sanção, direito e proteção de investidores, uma resposta do Estado precisaria vir para colocar uma certa pressão”, afirmou o advogado. “Esse projeto de lei recebe mais um insumo importante para que possa ter uma discussão mais rápida e incorporar as melhores ideias”, disse Camargo.
Embora traga propostas de melhorias para o mercado, o PL se tornou alvo de polêmica nos últimos anos, especialmente devido a um artigo que trata da responsabilidade das empresas pelos danos causados aos investidores.
Basicamente, o texto determina que os administradores — e não as companhias — poderão ser civilmente responsáveis pelos prejuízos sofridos por investidores em caso de infração às regulações.
Em discussão com parlamentares em junho, Fabio Coelho, presidente da Amec, afirmou que, “se não houver imputação de responsabilidade das empresas pelos danos sofridos pelos investidores, teremos o caso clássico de risco moral, afastando os incentivos das empresas para melhoria de seus controles”.
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