Jeff Bezos revolucionou o mundo dos livros e disputa o espaço com Elon Musk; saiba como o dono da Amazon se tornou o terceiro homem mais rico do mundo
O bilionário foi o homem mais rico do planeta por três anos consecutivos, antes de ser desbancado por Elon Musk; Bezos também teve o divórcio mais caro do mundo
“Oi, Alexa?” Se você ainda não chamou esse nome e conversou com um dispositivo, pode estar certo de que esse dia chegará. Falar com uma coisa que pode te ouvir e responder é fruto da visão de um homem obcecado por uma visão: a de que servir bem o cliente é a chave para um negócio de sucesso. Estamos falando de Jeff Bezos.
Tudo que gira em torno do bilionário tem essa ideia por trás. E isso inclui os planos de tornar as viagens ao espaço um empreendimento comercial.
O terceiro homem mais rico do mundo não hesita em investir e expandir o seu negócio. De uma pequena garagem, hoje a Amazon é uma das empresas mais versáteis e valiosas do mundo.
Com um marketplace que tem de tudo, Jeff Bezos também inovou em produtos tecnológicos, como smart relógios de mesa e tablets exclusivos para leitura — o famoso Kindle —, além da Alexa e da triunfante entrada no mundo do streaming.
Hoje, o dono da Amazon é o terceiro homem mais rico do planeta, com um patrimônio de US$ 148,5 bilhões, de acordo com o ranking em tempo real da revista Forbes. Em maio de 2022, Bezos era o segundo no levantamento, atrás apenas de Elon Musk.
Mas, afinal, quem é Jeff Bezos? Um típico americano que começou a carreira em Wall Street e ganhou o mundo fora do mercado financeiro? Como ele conseguiu se tornar um dos homens mais poderosos do planeta?
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Para responder essas e outras perguntas, confira a trajetória do bilionário no especial da Rota do Bilhão.
O início de tudo
Jeff não nasceu sendo Bezos: fruto de um relacionamento da adolescência de sua mãe, Jacklyn Gise, aquele que viria ser um dos empresários mais bem-sucedidos dos EUA veio ao mundo em Albuquerque, Novo México (EUA), em 1964.
Registrado como Jeffrey Preston Jorgensen, ele adotou anos depois o sobrenome do padrasto — Miguel Bezos, um imigrante cubano com quem Jacklyn casou; Jeff tinha quatro anos.
Mike, como era chamado o pai adotivo, chegou ao solo americano aos 15 anos de idade, fugindo da ditadura de Fidel Castro. Sem falar inglês, ele foi acolhido por uma entidade católica e formou-se como engenheiro de petróleo.
Já casado com a mãe de Bezos, viveu uma vida em trânsito pelos EUA. O garoto viveu parte da sua infância no Texas e o final da adolescência em Miami. Jeff começou sua carreira em uma loja do McDonald’s e, durante o ensino médio, frequentou um programa de ciências da Universidade da Flórida.
Mas o sonho de Bezos foi verbalizado em sua formatura no ensino médio: “retirar todas as pessoas da Terra e transformá-la em um grande parque nacional”. Pois seu desejo, quem diria, começa a ganhar forma.
Aluno exemplar, seguiu os passos de seu pai e foi cursar Engenharia Mecânica e Ciência da Computação na Universidade de Princeton. Tornou-se o destaque da turma e foi convidado a assumir a presidência do diretório universitário do grupo de exploração e desenvolvimento espacial.
Bezos formou-se em 1986. Recém-diplomado, recusou uma proposta da Intel e foi trabalhar em uma startup de telecomunicações voltada para o comércio internacional. Degrau por degrau, construiu carreira dentro da empresa e tornou-se o diretor de relacionamento com o cliente.
Mas isso não foi suficiente: ele desejava “novas emoções”. E Wall Street e o “glamour” do mercado financeiro chamaram a atenção de Jeff Bezos. Em 1988, ele assumiu o cargo de gerente de produto na Bankers Trust, onde ficou por dois anos.
Em seguida, migrou para a gestora de investimentos D. E. Shaw & Co e chegou ao cargo de vice-presidente sênior, aos 30 anos de idade. Foi nesta empresa também que o futuro bilionário conheceu MacKenzie Scott, com quem viria a se casar.
A virada na vida de Bezos começou na D.E. Shaw: numa pesquisa de mercado da empresa, ele descobriu que o uso da internet aumentava cerca de 2.300% ao ano, e isso acendeu uma luz em sua cabeça: o comércio eletrônico era o futuro.
Correndo para longe do touro de Wall Street
Bezos saiu de Nova York em direção a Seattle. O plano do negócio, que poderia dar muito errado, foi esboçado durante a viagem de carro. No caminho, ele ainda fez os primeiros contatos com possíveis investidores que poderiam fazer o sonho acontecer.
O casal Bezos e Scott, amante de livros, apostou no universo da leitura e fundou uma livraria, na garagem de casa, em 1993. Para fazer a empreitada dar certo, ele se matriculou em um curso na Associação Americana de Livrarias para aprender a vender as obras literárias.
Com a lógica de que os preços baixos atraíam clientes, o que aumentava o volume de vendas, o casal vendia os livros com valores abaixo do mercado. Os primeiros investidores foram os próprios pais de Jeff Bezos, que apostaram cerca de US$ 245 mil no negócio.
Os primeiros passos já haviam sido dados e vender livros de forma online, ainda em tempos de descoberta da internet por usuários comuns, era uma ideia que estava dando lucro. Mas engana-se quem pensa que ‘Amazon’ foi o primeiro nome do negócio.
‘Cadabra’ e ‘Relentless’ foram as primeiras “marcas”. E aqui vai uma curiosidade: o domínio relentless.com ainda pertence a Bezos, então ao digitar na barra de busca de sites, você vai ser direcionado ao site da Amazon — pode testar!
Mas, então, como Bezos chegou ao nome Amazon? Foi vasculhando o dicionário. Nas primeiras páginas, o empresário se deparou com o termo, palavra em inglês para a Amazônia, e que remetia a algo “diferente”.
Outro ponto a favor: o Google ainda nem existia e as empresas eram listadas em sites de buscas em ordem alfabética.
A garagem ficou pequena para Amazon
Com um pouco mais de um ano, a livraria online mostrou-se uma boa e lucrativa ideia. Mas Bezos queria mais: com mais alguns ajustes, o negócio poderia se tornar gigante.
Em um período de dois meses, a empresa já havia enviado encomendas para todo o território americano e atravessado fronteiras.
Com algumas características de uma startup, como o crescimento em ritmo acelerado, o lucro cresceu, mas não o suficiente para o constante reinvestimento nas operações. Contudo, Bezos — com sua expertise dos mundo dos investimentos —, logo pensou em uma solução: a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês)
Um passo gigantesco, que tinha por trás números robustos — a receita líquida semanal girava em torno da casa dos US$ 20 mil — e um plano agressivo de crescimento. Em 1997, com três anos de atividades, a Amazon fez seu IPO na Nasdaq, a US$ 18 por ação; a empresa tinha valor de mercado de US$ 560 milhões.
Na época, a empresa tinha pouco mais de 600 funcionários e uma base de mais de um milhão de clientes ativos. E fez de Bezos um milionário.
No ano seguinte ao IPO, o dono da Amazon decidiu ampliar o ramo de atuação. Além de livros, o site começou a ofertar CDs e filmes — e, a partir daí, foi incluindo cada vez mais itens. E essa expansão fez a conta bancária de Bezos saltar para a casa dos bilhões de dólares.
Em 1998, o empresário entrou na lista de bilionários da revista Forbes. Vale ressaltar que Jeff Bezos deixou o cargo de CEO da empresa em julho de 2021 e tem acompanhado os negócios como presidente executivo (chairman). Em seu lugar, Andy Jassy ocupa o cargo desde então.
Blue Origin: Rumo ao espaço
Mas deixemos a Amazon de lado por um instante. Você se lembra do sonho de Bezos, descrito em sua formatura do ensino médio? Pois bem: a Nasa avançava em descobrir o espaço, o homem já tinha ido à Lua — mas o desejo do bilionário ainda não tinha se concretizado.
Vamos lembrar: ele queria tornar a Terra em um grande parque e que os seres humanos poderiam habitar em outras partes do universo.
Um delírio? Para Bezos, nunca foi. O bilionário fundou em 2000 a Blue Origin, dois anos antes de Elon Musk começar os trabalhos com a SpaceX. Mas tudo foi feito de um jeito muito discreto.
A existência da empresa espacial só foi revelada três anos depois, quando o dono da Amazon começou a comprar vários terrenos na região do Texas — e o motivo não era, apenas, um resgate das memórias no local onde ele passou a infância.
Por si só, a empresa nunca foi uma rendeira de lucros como a Amazon. Bezos vende cerca de US$ 1 bilhão em ações ano a ano para financiar o seu sonho — ou melhor, sua empresa de foguetes.
Uma das maiores ambições é chegar à Lua, e os aprimoramentos nas aeronaves da Blue Origin caminham nessa direção. Em 2021, Jeff Bezos e mais três tripulantes fizeram o primeiro voo espacial na órbita da Terra.
Neste ano, o bilionário repetiu o feito — levar pessoas “comuns” ao espaço, com seis tribulantes, sendo um deles o engenheiro brasileiro Victor Correa Hespanha.
Varejo e tecnologia: um bom casamento
Também, nos anos 2000, os computadores pessoais já eram comuns nas casas e a internet também era um ferramenta para se buscar informações, além da televisão e do rádio.
Aqui no Brasil, por exemplo, havia 9,8 milhões de internautas, cerca de 5,7% da população brasileira — o que era um bom número.
Com o perfil visionário, Jeff Bezos não perdeu tempo e lançou a Amazon Web Services, em 2002. A empresa de serviços de dados e estatísticas para sites, em pouco tempo, tornou-se uma das principais provedoras de armazenamento virtual — a “nuvem”.
Hoje, ela presta serviços para vários setores, entre eles tecnologia de jogos, mídia e entretenimento, educação, automotivo e serviços financeiros. Além disso, já teve como clientes a Nasa e a Netflix, e é uma das fortes concorrentes da Microsoft, de Bill Gates.
Todos os livros em um só lugar
Bezos também voltou ao início de tudo e revolucionou a venda dos livros. O ano de 2007 não é apenas memorável pelo lançamento do primeiro iPhone por Steve Jobs.
O dono da Amazon lançou um dispositivo que poderia guardar centenas de livros em um só lugar, permitindo uma experiência semelhante à leitura de um livro comum: o Kindle. O tablet de livros deu certo e já chegou a 10ª geração.
A empresa de Bezos também apostou em outras inovações, como a assistente virtual Alexa, disponível nos dispositivos Echo, e o serviço de streaming Amazon Prime.
Jeff Bezos jornalista?
Ter uma das maiores varejistas do planeta, uma rede streaming, o “livro portátil” e uma empresa espacial não bastava: Bezos queria ingressar no mundo dos formadores de opinião.
Não por acaso, em 2013, o bilionário comprou o tradicional jornal de The Washington Post, por US$ 250 milhões.
Em meio à migração dos velhos jornalões de papel e uma crise interna por falta de dinheiro, uma das primeiras atitudes de Bezos foi liberar o acesso integral e gratuito ao site, sem o paywall, para assinantes de jornais locais e em cidades em que o The Washington Post não tinha uma boa circulação física.
A ideia, assim como as demais apostas de Bezos, deu certo. O jornal dobrou o número de acessos em três anos e tornou-se novamente lucrativo em 2016.
Em 2020, o site conquistou a marca de 3 milhões de assinantes e cimentou sua posição como uma das fontes de jornalismo mais importantes nos EUA, atrás apenas do The New York Times.
Mas, como em todos os países governados por presidentes que flertam com a ditadura, Bezos conquistou um grande inimigo: o agora ex-presidente Donald Trump.
Com algumas reportagens que não agradavam o republicano, o bilionário virou alvo de críticas e acusações — o então presidente dos EUA interferiu numa licitação de US$ 10 bilhões entre a Amazon e o Pentágono; a Microsoft acabou levando o contrato.
O pior chefe do mundo
Os sucessos de Jeff Bezos são memoráveis. Ele é um empresário fora da curva, mas, como líder, deixa a desejar — e recebeu um dos prêmios que quase ninguém gostaria de ter na estante.
Em 2014, o bilionário foi eleito o pior chefe do planeta, em um congresso mundial da Confederação Internacional de Sindicatos (ITUC, na sigla em inglês), em Berlim, Alemanha.
Isso porque os empregados da Amazon na Alemanha alegam que o chefe os tratava como robôs e não escondia que desejava substituí-los por máquinas. Mas o prêmio não mudou a relação entre Bezos e os seus funcionários.
Nos últimos dois anos, durante a pandemia de coronavírus, a Amazon enfrentou sérias críticas dos senadores dos EUA e do público em geral sobre o péssimo tratamento aos funcionários nos centros de distribuição.
A empresa foi “forçada” a parar e cumprir a quarentena, com inúmeros casos positivos e sem equipamentos adequados de proteção individual.
Jeff Bezos & MacKenzie: o divórcio mais caro da história
“Sorte nos negócios, azar no amor”: esse mantra parece perseguir os bilionários e, no caso do dono da Amazon, não foi diferente.
Bezos e MacKenzie se divorciaram em 2019, após 25 anos de casamento. Na época, o dono da Amazon foi acusado de manter uma relação extraconjugal com a ex-apresentadora de TV Lauren Sanchez, mas tudo não passou de uma fraude.
Investigações apontaram que o celular do bilionário havia sido invadido e o mandante seria o príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.
O motivo: o colunista do The Washington Post Jamal Khashoggi, que criticava a ditadura do país, foi assassinado e o jornal passou a fazer uma cobertura massiva contra o governo saudita, o que teria "manchado" a imagem do príncipe.
Em um evento, o dono do jornal e o governante haviam trocado seus números de telefone e um “vírus” teria acessado o celular do executivo. Até hoje, o governo saudita nega as acusações.
Mas, mesmo assim, o divórcio se concretizou, sendo o mais caro da história. Mackenzie ficou com 25% dos papéis de Bezos na Amazon, o que lhe rendeu cerca de US$ 35,6 bilhões. O casal detinha, em conjunto, cerca de 16% da varejista, ou seja, 78,8 milhões em ações.
Por fim, ele manteve o controle da Amazon em suas mãos.
Além da Amazon
A Amazon, a Blue Origin e o jornal The Washington Post não são os únicos empreendimentos de Jeff Bezos. Recentemente, o bilionário adquiriu a plataforma de streaming de jogos Twitch, por quase US$ 1 bilhão.
Ele foi um dos primeiros investidores da empresa de caronas Uber, da rede de hotéis Airbnb e da gigante Google — em 1998, adquiriu cerca de 3,3 milhões de ações, por US$ 250 mil.
Ainda em seu portfólio, encontram-se ações do Twitter e do jornal Business Insider. O empresário também possui uma venture capital, gestora de capital de risco ,a Bezos Expeditions.
Em 2018, o bilionário criou, por meio da Amazon, uma joint venture, a Haven Healthcare. Ela é uma organização não governamental no setor de saúde que tem o objetivo de reduzir o custo dos medicamentos. A operação contou com a parceria do JP Morgan Chase e da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett.
Ainda no setor de saúde, a Amazon colocou no carrinho e levou para casa a empresa One Medical, por US$ 3,9 bilhões, a sua mais recente aquisição. Essa é a terceira maior compra da big tech, atrás apenas da Whole Foods, de alimentos in natura, e do estúdio de cinema Metro-Goldwyn-Mayer.
Por fim, Jeff Bezos ocupou o posto de o homem mais rico do mundo por quatro anos consecutivos: entre 2018 e 2021.
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