Quem é Justin Sun, o bilionário das criptos que virou sócio em sonho pessoal de Trump e comeu a banana mais cara da história
Ícone das criptomoedas possui história excêntrica, desde proximidade com Donald Trump a título de primeiro-ministro de micronação
É isso mesmo: ele comeu a banana mais cara da história. Na sexta-feira (29), Justin Sun, bilionário chinês de 34 anos e fundador da blockchain Tron, compartilhou na rede social X um vídeo no qual aparece comendo a obra Comedian, do artista italiano Maurizio Cattelan — uma peça que consiste, literalmente, em uma banana presa à parede com fita adesiva.
Até aí, tudo bem, pelo menos se ignorarmos o valor de US$ 6,2 milhões pago pela fruta. E, acredite, essa nem é a história mais excêntrica envolvendo o chinês. Além de bilionário, Sun ostenta os títulos de Diretor Executivo da Rainberry, antiga BitTorrent, primeiro-ministro e, tecnicamente, sócio de Donald Trump.
Mas antes de irmos além, voltemos à história da banana. Sobre a experiência, Sun escreveu no post: “Muitos amigos me perguntaram como é o sabor dessa banana. Honestamente, para uma banana com uma história assim, o sabor é naturalmente diferente de uma banana comum. Consigo sentir um gosto que lembra as bananas Big Mike de 100 anos atrás.”
Gros Michel é uma variedade do que foi considerada a melhor banana do mundo, antes de ser extinta, no início do século XX.
O engraçado é que a banana usada no vídeo não é a mesma do emblemático dia do leilão. Ela precisa ser substituída periodicamente, já que, como qualquer outra fruta, inevitavelmente estraga. Segundo o próprio Sun, a fruta exibida no vídeo foi comprada em Hong Kong, cidade onde ele reside.
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Pode parecer difícil de entender para quem vê de fora, mas, segundo o bilionário, a obra simboliza algo maior, alinhado à sua visão sobre criptomoedas. "Com obras de arte, você precisa pagar impostos, se preocupar com seguro e segurança. Com a arte conceitual, você pode levá-la para onde quiser, sem restrições", explicou.
O bilionário já é uma figura de destaque no mercado artístico há algum tempo. Conhecido por sua ousadia tanto no universo das criptomoedas quanto no das artes, Sun ficou em segundo lugar no leilão do NFT Everydays: The First 5,000 Days, de Beeple, vendido por um recorde de US$ 69 milhões em fevereiro de 2021. No mesmo ano, adquiriu a escultura Le Nez (1947), de Alberto Giacometti, por US$ 78 milhões.
De apenas um bilionário chinês a sócio de Donald Trump
Toda a atenção em torno do caso da banana acabou ofuscando um movimento ainda mais relevante no cenário político e financeiro dos Estados Unidos. Justin Sun foi anunciado como conselheiro da World Liberty Financial, um projeto de finanças descentralizadas lançado por Donald Trump, com envolvimento direto da família do presidente norte-americano recém-eleito.
A nomeação veio após um investimento de US$ 30 milhões, que garantiu a Sun 60% dos tokens da World Liberty Financial atualmente em circulação. Essa injeção de capital foi fundamental para salvar o projeto, que enfrentava forte desvalorização desde o lançamento e dificuldades para alcançar suas metas de arrecadação.
Donald Trump, assim como outros fundadores do projeto, deve receber pagamentos por sua participação na World Liberty Financial.
A eleição do candidato republicano em 2024 criou um ambiente altamente favorável para as criptomoedas. Grandes players do setor estão buscando formas de se aproximar do presidente eleito — e Justin Sun já saiu na frente.
Essa, no entanto, não é a primeira tentativa do bilionário de se conectar com Trump. Em 2019, ele chegou a convidar o então presidente para um jantar com Warren Buffett. Sun garantiu o encontro por meio de uma doação de US$ 4,57 milhões, com a intenção de mudar a visão de Buffett e Trump sobre os criptoativos, considerado por ambos como um investimento inseguro na época.
O convite a Trump veio após uma publicação no Twitter, hoje rede X:
Trump não compareceu ao jantar (nem Buffett, que só foi encontrá-lo em 2020), mas, seja pela influência de Sun, de outros players ou de um conjunto de fatores, o rali das criptomoedas após sua eleição em 2024 indica uma mudança significativa em sua percepção sobre esses ativos desde 2019.
De self-made man a líder libertário
Justin Sun nasceu em Xining, na província de Qinghai, na China, em 1990. Formado em Artes, com especialização em História pela Universidade de Pequim e Mestrado em Estudos do Leste Asiático pela Universidade da Pensilvânia, o bilionário começou a desenvolver interesse por criptomoedas durante seus estudos nos Estados Unidos. Ele teria acumulado sua fortuna como um dos primeiros investidores em bitcoin e, em 2017, fundou sua própria blockchain, a Tron.
Em junho de 2018, adquiriu a empresa BitTorrent, posteriormente renomeada para Rainberry, por US$ 140 milhões. A empresa é responsável pelo desenvolvimento do Torrent, que é um protocolo de compartilhamento de arquivos que distribui dados de forma descentralizada entre usuários na internet — o que basicamente significa que é uma das formas mais populares de distribuição de arquivos piratas.
Nessa escalada Sun se espelhou em figuras como Jack Ma, fundador do Alibaba Group. Mas seu comportamento ousado o levou a lugares mais inusitados que o mentor.
Em 2021, Justin Sun foi nomeado representante da pequena nação caribenha de Granada na Organização Mundial do Comércio, em Genebra. A aproximação entre as nações caribenhas e o mercado de criptoativos ocorreu de forma natural, dada a atratividade desses países como refúgios fiscais para empresas do setor, especialmente pela proximidade com a América do Norte. Na mesma época, a problemática FTX, por exemplo, havia transferido sua sede para as Bahamas.
O cargo não durou muito, e no ano passado Sun acabou perdendo sua posição. No entanto, como diz o ditado, quando uma porta se fecha, outra se abre. Em outubro, a micronação de Liberland — um "estado" europeu teórico fundado por libertários de direita em 2015 — anunciou a eleição de Sun como seu chefe de Estado.
Liberland é um “país” que, apesar de reivindicar território, não possui terras reconhecidas. No entanto, conta com reservas monetárias em bitcoin.
Com aproximadamente 1.000 cidadãos digitais, seus fundadores buscam construir uma utopia libertária. A micronação se promove como um paraíso cripto, planejando operar funções governamentais por meio de sua própria rede blockchain, aprovar legislações favoráveis às criptomoedas e implementar uma "hiperdemocracia descentralizada", na qual decisões são tomadas por meio de mecanismos de votação on-chain.
A ‘nação’ não é um caso isolado. Em 2014, a Bitnation foi a primeira micronação baseada em criptomoedas a declarar soberania unilateralmente. Desde então, surgiram diversos projetos semelhantes, incluindo localidades sem saída para o mar, como Liberland, e conceitos mais audaciosos, como os seasteads — cidades flutuantes teóricas em águas internacionais.
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Ficando por cima
Nos últimos anos, figuras ousadas do mundo cripto,semelhantes a Sun, foram presas por diversos crimes, principalmente fraude. Alguns exemplos são Sam Bankman Fried, dono do Grupo FTX e da corretora (exchange) de mesmo nome, Changpeng Zhao, ex-CEO da Binance, e Do Kwon, cofundador do protocolo Terra (LUNA).
O primeiro-ministro, o cara da banana, do Tron, do Torrent e novo sócio de Trump continua em pé, mesmo que com seus arranhões. Em 2023 a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), acusou o bilionário e suas empresas de fraude e outras violações das leis de valores mobiliários.
O grupo foi acusado de, desde agosto de 2017, arquitetar um esquema para distribuir bilhões de ativos digitais, inflando artificialmente o volume de negociações. Além de ocultar pagamentos a celebridades para promover TRX e BTT em contas de redes sociais. Figuras como Lindsay Lohan e Jake Paul estariam envolvidas.
Não houveram atualizações públicas desde o início do processo.
Sair por cima enquanto outros caem e se aproximar a figuras como Donald Trump aos 34 anos mostram a força de certas figuras no mundo cripto. Para além de obras de arte comestíveis, o futuro ainda parece guardar muito mais para Justin Sun.
* Com informações da Bloomberg, South China Morning Post, Al Jazeera e CoinMarketCap
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