Onde investir em 2022: As ações para comprar na bolsa em mais um ano que promete ser turbulento
Com um cenário macroeconômico complicado e a proximidade das eleições, os especialistas apostam nas ações de bancos, proteínas e papel e celulose; confira as indicações
As primeiras semanas animadoras de 2021 e o primeiro semestre cheio de expectativas promissoras, mesmo diante de uma nova e avassaladora onda do coronavírus, parecem quase uma lembrança de outra vida quando comparadas ao caos e cautela que se instalou na bolsa durante a segunda metade do ano.
Em poucos meses, o processo de vacinação — que começou lento e se tornou uma surpresa positiva —, foi quase completamente varrido do noticiário, dando lugar aos atritos políticos em Brasília, a escalada da inflação e a corrida do Banco Central para tentar segurar a elevação dos preços.
Além disso, as tão esperadas reformas foram escanteadas e deram lugar à preocupação com o estado das contas públicas brasileiras, cada vez mais deterioradas pelas manobras em torno do teto de gastos.
A mudança brusca de cenário pegou muita gente de surpresa e frustrou não só as projeções positivas feitas no calor dos primeiros momentos do ano, mas também o que seria a grande tese de investimentos de 2021: a reabertura econômica pós-pandemia.
Tantas frustrações levaram a um fim de ano melancólico e a perspectiva de que 2022 se torne ainda mais difícil de navegar, já que os próximos passos do Banco Central ainda são incertos, o mundo começa a ver uma diminuição da liquidez abundante dos estímulos monetários e entramos em um ano eleitoral.
Os especialistas ouvidos pelo Seu Dinheiro — Ricardo Peretti, estrategista de ações da Santander Corretora; Victor Natal, estrategista de ações para pessoa física do Itaú BBA; Daniel Utsch, gestor do Fator Sinergia; William Leite, sócio da Helius Capital; e Tomás Awad, sócio fundador da 3R Investimentos —, possuem algumas divergências, mas todos têm um recado em comum:
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Senhores passageiros, apertem os cintos! Estamos entrando nos céus de 2022, com probabilidade de grandes turbulências pelos próximos 12 meses.
Este texto faz parte de uma série especial do Seu Dinheiro sobre onde investir em 2022. Embarque na sua estação favorita:
- Bolsa (você está aqui)
- Renda fixa
- Bitcoin e criptomoedas
- Fundos imobiliários e imóveis
- BDRs e ações estrangeiras
- Dólar, ouro e proteções (disponível em 12/1)
O que deu errado?
O início da imunização em escala global nos primeiros meses do ano e os problemas brasileiros para aprovar e receber as vacinas repercutiram no mercado, mas foram diluídos pela reabertura econômica internacional.
A bolsa chegou a renovar as máximas e as projeções que mostravam o principal índice da bolsa finalizando 2021 na casa dos 130 mil pontos pareciam até conservadoras.
Apesar dos enroscos, a vacinação brasileira fluiu melhor do que o esperado e essa deixou de ser uma preocupação e deu força à tese de reabertura, focada em empresas ligadas à economia doméstica.
A inflação e a elevação da taxa de juros por parte do Banco Central, no entanto, foram grandes vilões.
Embora uma normalização da Selic já fosse esperada, ninguém imaginava que a taxa fecharia o ano encostando na casa dos 10%, alimentada pela disparada dos preços e uma crise político-fiscal interminável em Brasília.
No fim, a reabertura realmente aconteceu, e o índice de mobilidade retornou aos patamares pré-pandemia. Mas os ativos domésticos na bolsa não conseguiram entregar aquilo que o mercado esperava, descolando completamente do movimento visto no exterior. Nem mesmo os bons balanços do terceiro trimestre salvaram o índice da queda.
Mesmo para os mais céticos em relação ao cenário positivo traçado pelo mercado no início do ano, o resultado de 2021 surpreendeu — e para pior. Foi o caso de Tomás Awad, da 3R Investimentos.
“Nós já projetamos que a pandemia poderia dar mais um susto e que a recuperação poderia ser mais lenta. Fomos céticos também quanto ao Banco Central. O Brasil não é país para juros negativos ou um forward guidance. Ainda assim a inflação nos surpreendeu negativamente, pois esperávamos algo em torno de 6%”
O x, y e z da questão
A cautela que permeia as projeções iniciais dos economistas vai muito em linha com o que 2021 entregou e leva em conta as inúmeras variáveis ainda desconhecidas sobre o que nos espera.
O desemprego e a deterioração da renda das famílias afetam as expectativas de lucro das empresas, assim como a Selic em alta e a inflação acima da meta. Isso sem falar nas eleições presidenciais que se aproximam…
O panorama não parece nada amigável, mas os analistas ouvidos pelo Seu Dinheiro acreditam que o pior já está refletido nos preços das ações na B3 — ainda que o Itaú BBA e a 3R Investimentos tenham suas ressalvas.
Se a visão mais otimista prevalecer, há espaço para que notícias positivas sejam gatilhos de alta valorização para a bolsa. Isso não descarta também a possibilidade de uma volatilidade aumentada caso exista alguma deterioração extra no ar.
A situação global também entra na equação, com a elevação de juros nos Estados Unidos já contratada e as consequências de uma desaceleração da economia chinesa. Mas para os especialistas o pesado noticiário local deve mais uma vez se sobrepor ao quadro internacional.
O pé no freio na bolsa, no entanto, não deve seguir ao longo de todo o ano.
Para Ricardo Peretti, do Santander, o Ibovespa pode caminhar e fechar o ano acima dos 120 mil pontos a partir do momento em que houver mais visibilidade para o mercado. Ou seja: sinais mais claros do desenrolar do processo eleitoral e uma definição da meta do Banco Central para a inflação.
Confira algumas das projeções para o Ibovespa em 2022:
- Goldman Sachs: cenário-base de 116.000 pontos
- BTG Pactual: cenário-base de 132.000 pontos
- JP Morgan: cenário-base de 132.000 pontos
Lula ou Bolsonaro, qual o melhor para a bolsa?
Outro recado unânime dos especialistas é de que ano de eleições sempre é turbulento, mas o pleito de 2022 promete ser ainda mais complicado. Não só pela polarização que toma conta do país, mas pela incerteza sobre os planos de governo que serão adotados.
Um gestor experiente que conversou com o Seu Dinheiro afirma que, diante do que sabemos até agora, o pior cenário para o mercado e para a bolsa seria uma reeleição de Jair Bolsonaro.
“Caso isso ocorra, ele chegará fraco politicamente para um segundo mandato, muito mais na mão do Centrão. É verdade que todos precisam negociar com o bloco de centro, mas a forma que Bolsonaro faz isso é completamente errada.”
Para dois gestores — Daniel Utsch, do Fator Sinergia, e William Leite, da Helius Capital —, o cenário-base parece ser o de uma volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, com um alinhamento mais ao centro. Caso a vitória de Lula se materialize, ainda restam dúvidas sobre o plano de governo a ser adotado.
“Não vejo nenhuma razão para uma reação brusca dos investidores, a menos que se fale em reestatização, revogação da reforma da previdência e outros posicionamentos considerados mais radicais”, aponta o gestor do Fator Sinergia.
Tomás Awad, da 3R, projeta que o mercado ensaie uma lua de mel com o vencedor, mas lembra que o novo ocupante da cadeira presidencial terá um grande desafio para solucionar os problemas sociais e colocar o país novamente no caminho do crescimento.
Apesar da discussão focar em Lula e Bolsonaro, os especialistas apontam a “terceira via” como o caminho predileto do mercado pela maior disposição reformista e discurso mais alinhado ao que os investidores gostariam de ouvir. Mas, até agora, nenhum nome foi oficializado ou parece ter força suficiente para rivalizar com os dois principais candidatos.
Ou seja, embora exista um cenário-base, não há uma definição do que pode ocorrer. Assim, a tendência é que a bolsa brasileira só ganhe tração no segundo semestre, com maior visibilidade sobre o cenário eleitoral e até onde o Banco Central irá para tentar segurar a inflação.
As ações para investir na bolsa em 2022
Ninguém nega que a bolsa está barata no atual nível, mas pode ser que ainda não seja hora de arriscar. Afinal, nunca se sabe se o cenário não pode voltar a surpreender negativamente, por mais que as adversidades estejam bem precificadas.
Seguindo o movimento que já vimos em 2021, os analistas e gestores buscam proteger suas carteiras e apostam em ações que tenham um caráter mais defensivo, exposição significativa ao mercado internacional e que consigam surfar bem a alta de juros.
Os setores favoritos dos especialistas consultados pelo Seu Dinheiro são, de forma quase unânime, o financeiro, e de proteínas e papel e celulose.
Para os analistas, o forte balanço dos bancos e o bom provisionamento feito durante a pandemia abrem espaço para que eles consigam surfar um cenário melhor na bolsa diante da alta dos juros sem grandes sustos.
Utsch, do Fator Sinergia, cita também a desaceleração do chamado financial deepening, o movimento de saída dos clientes dos bancões rumo a outras plataformas e fintechs, como um elemento positivo para as instituições tradicionais.
A Helius Capital aposta em Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11), enquanto o Itaú BBA vê as ações do Banco do Brasil (BBSA3) com uma grande oportunidade de ganhos, já que os papéis estão descontados, na visão dos analistas.
Victor Natal, do Itaú BBA, aponta que embora teses de crescimento não sejam a preferência na bolsa, as ações do Banco Inter (BIDI11) também podem surgir como uma oportunidade pontual. “É uma ação muito barata hoje, com um potencial de retorno maior do que 100%.”
Quando o assunto é papel e celulose, a empresa mais citada pelos especialistas foi a Suzano (SUZB3). A expectativa é que, como se trata de uma commodity cíclica, o pior já passou e a companhia se encontra preparada para o futuro.
De olho nos preços baixos dos bois nos Estados Unidos, o que aumenta a margem das companhias que atuam no país, a preferência no setor de proteínas ficou com JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3).
Enquanto a maior parte das casas não aposta as fichas no setor voltado para a economia doméstica, a Helius Capital acredita que Iguatemi (IGTI3) e brMalls (BRML3) podem surpreender.
Já a 3R Investimentos aposta em uma estratégia diferente, renunciando a papéis que dependem de renda, juros e financiamento e vendo com bons olhos setores de consumo essencial. Dentre as apostas na bolsa estão Vulcabrás (VULC3), Pão de Açúcar (PCAR3) e Hypera Pharma (HYPE3), que possuem marcas acessíveis.
Enquanto isso, as ações que um dia figuraram como as grandes vencedoras da fase inicial da crise da covid-19, como Magazine Luiza (MGLU3) e outras gigantes do e-commerce, são observadas de longe, já que o menor poder de compra das famílias, aliado a uma inflação salgada e juros mais altos atrapalham o consumo.
"Até acreditamos que os papéis possam estar baratos, mas o ponto não é esse. Além de estar com um preço atrativo, essas empresas precisam entregar o resultado que prometeram diante de uma competição muito alta”. -
Victor Natal, Itaú BBA,
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