Os investidores sentem uma forte ressaca após a tarde da última quarta-feira (26), que colocou o Federal Reserve no centro das atenções. As bolsas pelo mundo buscam recuperação após as falas do BC americano sobre a alta nos juros “em breve”, segundo o presidente da instituição.
Mesmo com o aperto monetário virando a esquina, o Ibovespa conseguiu encerrar o dia em alta de 0,90%, aos 111.194 pontos, após ter chegado a superar os 112 mil pontos mais cedo.
O dólar à vista, por sua vez, virou para alta nas últimas horas da sessão e fechou com valorização de 0,11%, a R$ 5,4411.
Além do ajuste de carteiras esperado para esta quinta-feira (27), o investidor local ainda deve lidar com o risco fiscal envolvendo a PEC dos combustíveis.
Se, por um lado, a renúncia fiscal pode reduzir significativamente a inflação, por outro, a perda de arrecadação chega a cifras bilionárias.
Confira o que movimenta os mercados hoje:
PEC dos combustíveis
Na noite de ontem, o presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou que a proposta de emenda à constituição (PEC) dos combustíveis já está acertada com a equipe econômica. Ele ainda disse esperar que o Congresso aprove a medida.
A PEC propõe que o governo federal retire o PIS/Cofins dos combustíveis, energia elétrica e gás. Desde o ano passado, o imposto sobre o gás de cozinha foi zerado.
Por outro lado, a proposta ainda exige que governadores isentem o ICMS dos combustíveis, uma das principais fontes de renda dos estados. Também na tarde de ontem, chefes dos poderes executivos estaduais decidiram congelar o imposto por mais 60 dias.
Na ponta do lápis
A medida pode gerar um déficit de até R$ 57 bilhões nas contas públicas — mas um relatório da XP dá conta de uma perda de até R$ 240 bilhões, se os estados entrarem na conta.
O impacto no preço dos combustíveis seria limitado: entre R$ 0,18 e R$ 0,20. De acordo com os cálculos da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a média de preços cairia de R$ 6,71 para R$ 6,51 por litro de combustível.
Por outro lado, a projeção para inflação sente um impacto maior: nos cálculos da XP, os preços sentiriam uma desaceleração de 5,2% para 1%, queda de 4,2 pontos.
De olho em outubro
A PEC desrespeita a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que exige uma compensação para cada renúncia de impostos aprovada. O texto vem na esteira das medidas de caráter eleitoreiro do presidente Bolsonaro, de olho nas eleições de outubro.
O presidente vive um momento de baixa popularidade, de acordo com as últimas pesquisas eleitorais. Seu principal opositor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segue à frente nas intenções de voto.
Agenda local
A divulgação do Caged ficou para a próxima segunda-feira (31). Com isso, as atenções se voltam para a reunião do Conselho Monetário Nacional de hoje, sem maiores indicadores para o dia.
Apertem os cintos, o Fed chegou
Depois de deixar de lado o discurso da inflação transitória, o Federal Reserve, o Banco Central americano, resolveu tomar uma atitude contra a alta nos preços, a maior desde 1982.
Na reunião da última quarta-feira, a taxa de juros foi mantida entre 0% e 0,25%, mas o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, já contratou a primeira alta nos juros para março deste ano.
Esse será o primeiro aumento dos juros nos Estados Unidos desde 2018. Minha colega Carolina Gama conta tudo aqui.
E agora?
O retorno dos títulos do Tesouro americano, os chamados Treasuries, tendem a se valorizar com a alta dos juros.
Na manhã de hoje, no entanto, o T-bond de 10 anos opera próximo da estabilidade, enquanto o T-bond de 20 anos recua 0,61% e o T-bond de 30 anos cai 0,94%, à espera dos dados do PIB e de um leilão do Tesouro dos EUA.
Os números de inflação mensal e anual devem ser divulgados amanhã (28). Para hoje, os investidores digerem os dados de inflação do terceiro trimestre do ano passado.
Bolsas pelo mundo
Após a decisão do Fed de elevar os juros a partir de março, as bolsas da Ásia encerraram o pregão desta quinta-feira em baixa.
Já as bolsas da Europa ensaiam uma recuperação hoje, após o tom mais duro do BC americano contra a inflação.
De maneira semelhante, os futuros de Nova York buscam recuperação das perdas de ontem.
Agenda do dia
- FGV: Confiança da indústria de janeiro (8h)
- Estados Unidos: PCE e Núcleo do PCE do terceiro trimestre (10h30)
- Estados Unidos: Leitura preliminar do PIB do quarto trimestre (10h30)
- Estados Unidos: Pedidos de auxílio-desemprego (10h30)
- Ministério da Economia: Conselho Monetário Nacional (CMN) realiza reunião (15h)
Balanços
Antes da abertura:
- Estados Unidos: Mastercard
- Estados Unidos: McDonald’s
Após o fechamento
- Estados Unidos: Apple
- Estados Unidos: Visa