Em “Apertem os cintos… o piloto sumiu!”, Ted Striker (Robert Hays), ex-combatente de guerra, é forçado a assumir os controles de um avião quando a tripulação sucumbe à comida contaminada. Elaine (Julie Hagerty), sua namorada, tem de ser aeromoça e co-piloto. Juntos, eles vão tentar salvar os passageiros e terminar o voo com sucesso.
Assim como na comédia de 1980, a economia norte-americana parecia flutuar sem um piloto em meio à disparada da inflação. Mas parece que agora o comandante da política de juros resolveu aparecer.
Falando em entrevista coletiva nesta quarta-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, mandou um recado para quem ainda acreditava que o avião inflacionário seguiria sem controle: há muito espaço para aumentar a taxa de juros antes que isso prejudique a economia norte-americana.
A reação foi imediata: as ações recuaram de suas altas em Nova York e os rendimentos (yields) do Tesouro saltaram para seus máximos. No Brasil, o Ibovespa devolveu parte dos ganhos.
Por que a frase de Powell mexeu tanto com os mercados? A declaração provavelmente decepcionou os investidores que esperavam que o banco central norte-americano aumentasse os juros, mas não tanto este ano.
Segundo as projeções do próprio comitê do Fed, são esperadas três altas em 2022, embora o mercado já trabalhe com a possibilidade de quatro elevações.
Powell não parou por aí
E Powell não parou por aí. Na mesma coletiva, ele disse que o banco central está pronto para aumentar os juros em março e não descartou agir em todas as reuniões para combater a inflação - que fechou 2021 em 7%, o nível mais alto em quase 40 anos.
“O comitê pretende aumentar a taxa de juros na reunião de março” se houver condições para isso, afirmou Powell, observando que as autoridades não tomaram nenhuma decisão sobre o caminho da política monetária porque precisa ser “ágil”.
Ele falou depois que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) concluiu sua reunião de dois dias com um comunicado que declarou que “em breve será apropriado aumentar a faixa da taxa de juros”, citando a inflação bem acima de sua meta de 2% e um forte mercado de trabalho.
O primeiro aperto do Fed em 3 anos
Um aumento dos juros nos Estados Unidos seria o primeiro desde 2018. Muitos analistas preveem uma alta de 0,25 ponto percentual em março, seguido por mais três este ano e movimentos adicionais além.
Críticos dizem que o Fed tem sido muito lento para agir e agora está atrasado no combate à inflação, embora os principais indicadores do mercado não apoiem essa visão. Até mesmo alguns membros do banco central discutiram publicamente se deveriam subir a taxa básica mais vezes este ano do que o previsto.
“Precisaremos ser ágeis para que possamos responder a toda a gama de resultados plausíveis”, disse Powell.
“Continuaremos atentos aos riscos, incluindo o risco de que a inflação alta seja mais persistente do que o esperado, e estamos preparados para responder conforme apropriado”, acrescentou.