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Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
Batatinha frita 1-2-3

Na Netflix (NFLX34), a virada operacional e financeira veio no Round 6 — e deu impulso ao balanço do terceiro trimestre

A Netflix (NFLX34) deu um salto no número de novos assinantes no trimestre, reanimando um ano que estava péssimo — tudo graças a Round 6

Victor Aguiar
Victor Aguiar
19 de outubro de 2021
18:38 - atualizado às 18:51
Imagem da série coreana Round 6, sucesso global da Netflix (NFLX34). Nela, três pessoas encapuzadas e vestidas de vermelho, com máscaras com símbolos geométricos, aparecem paradas em frente a uma parede
Série Round 6, da Netflix - Imagem: Divulgação/Netflix

Em março de 2020, quando o mundo todo se viu forçado a ficar em casa — como se uma dessas distopias tivesse virado realidade —, a Netflix (NFLX34) despontou como uma das poucas empresas que poderia se beneficiar com o novo normal. Afinal, se o mundo lá fora está um perigo, nada melhor que o conforto da ficção para acalmar a mente; uma série, um filme, um reality show... É só pegar alguma coisa para comer, sentar no sofá e dar play.

Quem comprou as ações da Netflix no começo da pandemia, apostando nesse raciocínio, se deu bem: os papéis da empresa na Nasdaq, de fato, subiram — mas, já em 2020, encontraram um teto. Depois de um pico inicial em novas assinaturas e horas de conteúdo assistido, a companhia passou por uma certa acomodação nas tendências operacionais. E, com isso, também surgiu um ceticismo por parte do mercado.

As ações do serviço de streaming caíram, em resposta à competição feroz e à escassez de conteúdo novo — o setor de audiovisual foi fortemente abalado pelas restrições da pandemia. E, não menos importante: em 2021, a Netflix precisou disputar a atenção das pessoas com a vida real, que, aos poucos, vai voltando ao que era.

Esse cenário resultou numa desaceleração firme no total de novos assinantes, bem como uma frustração em algumas métricas financeiras. Ao fim do primeiro semestre, muitos analistas chamavam a atenção para a fraqueza nas métricas operacionais da Netflix, destacando que a companhia dificilmente atingiria suas metas para 2021. Seria preciso um evento sem precedentes, um sucesso massivo que atraísse as audiências globais.

Pois bem: ele atende pelo nome de Round 6, ou Squid Game, nos Estados Unidos. Em poucas semanas, a série coreana tornou-se o maior sucesso da história da Netflix — e deu um forte impulso aos resultados da companhia no terceiro trimestre de 2021.

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Antes de mergulharmos nos indicadores financeiros da Netflix, vale a pena destacar alguns números de Round 6. Segundo a Netflix, 142 milhões de assinaturas assistiram a série coreana nas quatro primeiras semanas de exibição — o lançamento foi em 17 de setembro. Para se ter uma ideia, o recorde pertencia à primeira temporada de Bridgerton, com meros 82 milhões de contas no mesmo intervalo de tempo.

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Round 6 ainda ficou no primeiro lugar no ranking de conteúdo mais assistido em 94 países, incluindo os EUA — um dado importante e que serviu para dar um empurrão no número de novas assinaturas em quase todas as regiões do mundo. Por tabela, outras séries e filmes da Netflix também tiveram um ganho de audiência.

Segundo reportagem da Bloomberg, o sucesso estrondoso de Round 6 rendeu à Netflix quase US$ 900 milhões em 'valor de impacto', a métrica usada pela empresa para avaliar o desempenho de seus conteúdos. Um senhor retorno, considerando que a série custou menos de US$ 25 milhões para ser produzida.

Netflix e Round 6: salto nas assinaturas

Os fatores levados em conta no tal 'valor de impacto' não são públicos, o que torna essa métrica um pouco confusa. Sendo assim, vejamos a boa e velha receita líquida: a Netflix reportou US$ 7,48 bilhões no terceiro trimestre, um aumento de 16% em um ano; a receita operacional subiu 23,5% na mesma base, para US$ 1,76 bilhão.

O lucro líquido chegou a US$ 1,45 bilhão, quase o dobro do visto no terceiro trimestre do ano passado — o lucro por ação (LPA) de US$ 3,19 ficou acima do consenso do mercado, de US$ 2,56, segundo dados da Refinitiv.

Mas a métrica que todos realmente estavam de olho é a de novos assinantes, e a Netflix não decepcionou. Ao todo, 4,4 milhões de usuários foram adicionados à base do serviço de streaming entre julho e setembro deste ano, bem acima das projeções da própria empresa, de 3,5 milhões de pessoas.

Foi o melhor trimestre da Netflix em termos de novos assinantes no ano. E, melhor ainda: para o quarto trimestre, a companhia estima que mais 8,5 milhões de pessoas comecem a usar seus serviços no quarto trimestre, período sazonalmente mais forte — férias e festas de fim de ano aumentam o tempo de conteúdo visto.

Além desse fator, também há um volume maior de estreias nos próximos meses: novas temporadas de The Witcher, Tiger King e Cobra Kai, séries bastante populares no mundo, e o último capítulo de La Casa de Papel, devem manter o interesse na Netflix em alta. E, é claro, há ainda o sucesso residual de Round 6, que deve continuar trazendo novos assinantes à base.

Apesar do fortalecimento da tendência em 2021, a Netflix ainda está distante do ritmo visto no ano passado

Dito isso, o gráfico acima mostra que, mesmo com o resultado surpreendente do terceiro trimestre e a projeção bastante forte para os três últimos meses, o ano de 2021 ainda será o mais fraco em termos de novas assinaturas desde 2017. Round 6, pelo menos, ajudou a evitar o desastre que se desenhava ao fim de junho.

Em termos de regiões geográficas, a Netflix teve um desempenho particularmente forte no mercado da Ásia, Oriente Médio e Pacífico, com 2,2 milhões de novos usuários. Até mesmo a área dos EUA e Canadá, que vinha perdendo assinantes, reagiu no trimestre: foram 70 mil novas contas no período.

Netflix (NFLX34): reação na bolsa

No começo do texto, falamos num teto que foi batido pelas ações da Netflix na Nasdaq já em 2020. Esse patamar girava ao redor dos US$ 550 — sempre que os papéis chegavam a esse nível, entravam em rota de realização. Só que, de uns dias para cá, houve uma corrida intensa pelos ativos do serviço de streaming.

Os investidores, é claro, perceberam que o sucesso de Round 6 se traduziria em benefício financeiro para a Netflix. Assim, muita gente montou posição na empresa nas últimas semanas, antecedendo o balanço forte. Nesta terça-feira (19), as ações da companhia fecharam em leve alta de 0,16%, a US$ 639 — muito perto da máxima histórica. Em um mês, os ativos saltaram 11%.

A confirmação dos bons resultados não deu impulso adicional aos papéis no after market de Nova York: por volta das 18h25 (horário de Brasília), as ações da Netflix recuavam 0,38%. Ainda assim, a manutenção dos patamares de preço elevados confirma que o humor do mercado em relação à empresa parece ter mudado.

E na B3? Por aqui, os BDRs da Netflix (NFLX34) também passaram por um rali; nesta terça, encerraram cotados a R$ 71,40, em alta de 1,42%. Desde o começo do ano, já acumulam ganho de mais de 30%

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