Algumas empresas foram cedo demais para a bolsa, mas o fracasso dos IPOs de 2021 foi estrutural, afirma executivo do Itaú BBA
Roderick Greenlees, global head do banco de investimento no Itaú BBA, culpa a deterioração do cenário econômico pelo desempenho pífio das novatas e vê um cenário complicado para novas estreias em 2022
Todo novo ano que começa é envolto de esperança e desejos de que os próximos 365 dias sejam melhores do que os 365 que passaram, e 2021 não foi diferente. O combustível do mercado financeiro, no entanto, não é o voto de felicidade, mas sim, os números. E todos eles indicavam que o ano que estava para começar poderia, de fato, ser O ano.
É bem verdade que o primeiro mês de 2021 ainda esteve marcado pelas incertezas em torno da vacinação contra o coronavírus em solo nacional e o potencial de o país seguir os passos da reabertura econômica vista no exterior, mas os dados mostrados pela B3 indicavam um ano e tanto.
Uma das tantas expectativas positivas era sobre o número de novas empresas listadas na bolsa brasileira. O número no horizonte a ser batido era o de 2007 — mais de 60 ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) —, mas o quarto trimestre frustrou o novo recorde.
Mesmo longe do recorde, o número de estreias impressiona — cerca de 45, isso sem falar nas empresas brasileiras que abriram capital no exterior e nas ofertas secundárias realizadas. Mas é impossível negar a decepção, já que a expectativa era de pelo menos 70 novas listagens.
O volume captado, no entanto, foi maior do que o registrado em 2007, impulsionado pelo tamanho das ofertas realizadas. Contando os follow-ons, cerca de R$ 140 bilhões foram movimentados — e o Itaú BBA foi campeão de captação.
Outro ponto que coloca uma interrogação no sucesso da temporada 2021 de IPOs é o desempenho das empresas novatas. Segundo levantamento realizado pelo Seu Dinheiro, cerca de 25% das empresas estreantes caminham para terminar o ano no vermelho, o que traz um ar de fracasso para o mercado brasileiro.
Leia Também
Embora concorde que o ano ficou longe de atingir o seu potencial e de que algumas empresas de fato foram apressadas e foram cedo demais à bolsa, Roderick Greenlees, global head do banco de investimento no Itaú BBA, culpa a deterioração do cenário econômico pelo desempenho pífio das novatas.
O executivo classifica o ano como extraordinário para o mercado brasileiro, ao mesmo tempo que aponta que as novatas sofreram com uma tempestade perfeita. A alta dos juros, a escalada da inflação e os inumeráveis problemas político-fiscais minaram a confiança dos investidores locais e estrangeiros em relação aos ativos domésticos.
“A resposta não é que essas 50 empresas estavam despreparadas para a bolsa. Infelizmente o país passa por desafios importantes. Alguns IPOs foram muito bem no início do ano, quando o clima estava melhor, e entregaram os ganhos nos últimos meses. Eram companhias que iam muito bem, mas a retração do mercado leva primeiramente o dinheiro das novatas. A grande maioria estava preparada, são boas companhias em setores interessantíssimos, que irão se recuperar ao longo do tempo.”
Para o executivo, o sucesso dos IPOs depende da saúde do país. “Política fiscal, taxa de juros, inflação, desemprego… Se não atacarmos isso, não veremos um boom de IPOs como este por algum tempo. No Brasil, as companhias se preparam bastante para isso, existe uma diligência importante, e a CVM é muito ativa”
Efeito dominó
Com a bolsa em queda e o avanço da taxa de juros, é natural a migração de recursos para ativos de maior segurança, levando tanto investidores profissionais como iniciantes a abandonarem as suas posições em bolsas ou fundos que abraçam uma estratégia de renda variável — e o que mais gera incerteza é o que dá adeus primeiro.
“Conforme elas forem entregando os planos de negócio de acordo com o que os investidores viram no período de marketing e nos roadshows, o mercado vai sentir que elas entregaram o que prometeram e vão voltar a comprar essas ações. É claro que isso tudo depende do cenário político e econômico do país, e vivemos uma instabilidade nesses dois campos. Se eu tenho que vender alguma coisa, vendo aquilo que conheço menos”.

O que o futuro reserva
Depois do fiasco de ofertas no quarto trimestre, as expectativas para 2022 estão mais conservadoras. O fato de termos uma eleição presidencial no horizonte é apenas um detalhe extra, já que a volatilidade nesses períodos já é esperada.
Segundo Roderick, o número de IPOs no próximo ano deve girar em torno de 10 a 20 transações, incluindo ofertas de empresas brasileiras na bolsa americana. O volume captado tende a ficar ao redor dos R$ 100 bilhões. “O que eu acho que vai acontecer é que provavelmente veremos um número elevado de ofertas secundárias. Essas são empresas mais líquidas, mais conhecidas, e é natural que seja mais fácil você realizar follow-ons do que IPOs. Nossa estimativa é de até 35 transações, com a maior concentração no primeiro trimestre”.
Em 2021, os setores de saúde e tecnologia brilharam e o executivo do Itaú BBA não vê uma grande mudança no horizonte. “Normalmente as companhias que vêm ao mercado para realizar um IPO ou um follow-on são empresas que têm um crescimento importante. Veremos empresas do setor de saúde, infraestrutura e companhias de tecnologia. São os três macro setores que serão bem representados no ano que vem”.
Embora as empresas de tecnologia venham enfrentando uma estrada difícil na bolsa, com os investidores precificando um fluxo de caixa menos favorável com uma taxa de juros mais alta, Greenlees não acredita que esse seja o maior problema a ser enfrentado pelas empresas do setor.
“O questionamento em geral é em relação à avaliação implícita para essas companhias, com os recursos pretendidos. Quando fazemos um IPO, é comum que a gente olhe quais são as alternativas no mercado neste setor, empresas que fazem o mesmo no Brasil e no exterior para comparação. De certa forma, é isso que vai acabar determinando quais são as probabilidades de sucesso das novas companhias”.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADECONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Como saber que não é cedo demais
No começo da nossa conversa, Greenlees apontou que algumas empresas podem ter avançado o sinal vermelho e procurado a bolsa de valores cedo demais, mas o Itaú BBA possui algumas diretrizes para avaliar se é o momento certo de uma companhia tocar o sino da B3.
São diversos pontos a serem analisados. Um deles é o tamanho da oferta. “Eu não consigo viabilizar uma oferta muito pequena. Quando o mercado está muito volátil, os investidores gostam de investir em empresas maiores porque se eles quiserem comprar e vender ações, é importante que elas tenham uma liquidez alta. Além disso, precisamos ver o potencial da companhia. Na nossa visão, é preciso movimentar pelo menos uns R$ 800 milhões”. Mas não é só isso. Outro elemento levado em consideração é a governança e o quão profissionalizada é a gestão da companhia.
Embora alguns setores entrem e saiam de moda rapidamente, o Itaú BBA segue agnóstico quanto a essa movimentação. O que importa são empresas de crescimento adequado, independentemente do nicho que representam.
Quem deve investir em um IPO?
O último recado deixado por Roderick é sobre a importância de ter um horizonte definido na hora de decidir se deve ou não investir em uma oferta inicial de ações.
“Quando você faz esse tipo de investimento, não pode entrar com a visão de que vai sair em pouco tempo. Se não está confortável com os fundamentos da companhia, do país, do setor, não faz sentido entrar em um IPO. Temos que entender que, como mercado emergente, o Brasil terá um pouco mais de volatilidade. É preciso ter muita calma nessa hora e acompanhar as empresas individualmente”.
Ursos de 2025: Banco Master, Bolsonaro, Oi (OIBR3) e dólar… veja quem esteve em baixa neste ano na visão do Seu Dinheiro
Retrospectiva especial do podcast Touros e Ursos revela quem terminou 2025 em baixa no mercado, na política e nos investimentos; confira
Os recordes voltaram: ouro é negociado acima de US$ 4.450 e prata sobe a US$ 69 pela 1ª vez na história. O que mexe com os metais?
No acumulado do ano, a valorização do ouro se aproxima de 70%, enquanto a alta prata está em 128%
LCIs e LCAs com juros mensais, 11 ações para dividendos em 2026 e mais: as mais lidas do Seu Dinheiro
Renda pingando na conta, dividendos no radar e até metas para correr mais: veja os assuntos que dominaram a atenção dos leitores do Seu Dinheiro nesta semana
R$ 40 bilhões em dividendos, JCP e bonificação: mais de 20 empresas anunciaram pagamentos na semana; veja a lista
Com receio da nova tributação de dividendos, empresas aceleraram anúncios de proventos e colocaram mais de R$ 40 bilhões na mesa em poucos dias
Musk vira primeira pessoa na história a valer US$ 700 bilhões — e esse nem foi o único recorde de fortuna que ele bateu na semana
O patrimônio do presidente da Tesla atingiu os US$ 700 bilhões depois de uma decisão da Suprema Corte de Delaware reestabelecer um pacote de remuneração de US$ 56 bilhões ao executivo
Maiores quedas e altas do Ibovespa na semana: com cenário eleitoral e Copom ‘jogando contra’, índice caiu 1,4%; confira os destaques
Com Copom firme e incertezas políticas no horizonte, investidores reduziram risco e pressionaram o Ibovespa; Brava (BRAV3) é maior alta, enquanto Direcional (DIRR3) lidera perdas
Nem o ‘Pacman de FIIs’, nem o faminto TRXF11, o fundo imobiliário que mais cresceu em 2025 foi outro gigante do mercado; confira o ranking
Na pesquisa, que foi realizada com base em dados patrimoniais divulgados pelos FIIs, o fundo vencedor é um dos maiores nomes do segmento de papel
De olho na alavancagem, FIIs da TRX negociam venda de nove imóveis por R$ 672 milhões; confira os detalhes da operação
Segundo comunicado divulgado ao mercado, os ativos estão locados para grandes redes do varejo alimentar
“Candidatura de Tarcísio não é projeto enterrado”: Ibovespa sobe e dólar fecha estável em R$ 5,5237
Declaração do presidente nacional do PP, e um dos líderes do Centrão, senador Ciro Nogueira (PI), ajuda a impulsionar os ganhos da bolsa brasileira nesta quinta-feira (18)
‘Se eleição for à direita, é bolsa a 200 mil pontos para mais’, diz Felipe Miranda, CEO da Empiricus
CEO da Empiricus Research fala em podcast sobre suas perspectivas para a bolsa de valores e potenciais candidatos à presidência para eleições do próximo ano.
Onde estão as melhores oportunidades no mercado de FIIs em 2026? Gestores respondem
Segundo um levantamento do BTG Pactual com 41 gestoras de FIIs, a expectativa é que o próximo ano seja ainda melhor para o mercado imobiliário
Chuva de dividendos ainda não acabou: mais de R$ 50 bilhões ainda devem pingar na conta em 2025
Mesmo após uma enxurrada de proventos desde outubro, analistas veem espaço para novos anúncios e pagamentos relevantes na bolsa brasileira
Corrida contra o imposto: Guararapes (GUAR3) anuncia R$ 1,488 bilhão em dividendos e JCP com venda de Midway Mall
A companhia anunciou que os recursos para o pagamento vêm da venda de sua subsidiária Midway Shopping Center para a Capitânia Capital S.A por R$ 1,61 bilhão
Ação que triplicou na bolsa ainda tem mais para dar? Para o Itaú BBA, sim. Gatilho pode estar próximo
Alta de 200% no ano, sensibilidade aos juros e foco em rentabilidade colocam a Movida (MOVI3) no radar, como aposta agressiva para capturar o início do ciclo de cortes da Selic
Flávio Bolsonaro presidente? Saiba por que o mercado acendeu o sinal amarelo para essa possibilidade
Rodrigo Glatt, sócio-fundador da GTI, falou no podcast Touros e Ursos desta semana sobre os temores dos agentes financeiros com a fragmentação da oposição frente à reeleição do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva
‘Flávio Day’ e eleições são só ruído; o que determina o rumo do Ibovespa em 2026 é o cenário global, diz estrategista do Itaú
Tendência global de queda do dólar favorece emergentes, e Brasil ainda deve contar com o bônus da queda na taxa de juros
Susto com cenário eleitoral é prova cabal de que o Ibovespa está em “um claro bull market”, segundo o Santander
Segundo os analistas do banco, a recuperação de boa parte das perdas com a notícia sobre a possível candidatura do senador é sinal de que surpresas negativas não são o suficiente para afugentar investidores
Estas 17 ações superaram os juros no governo Lula 3 — a principal delas entregou um retorno 20 vezes maior que o CDI
Com a taxa básica de juros subindo a 15% no terceiro mandato do presidente Lula, o CDI voltou a assumir o papel de principal referência de retorno
Alta de 140% no ano é pouco: esta ação está barata demais para ser ignorada — segundo o BTG, há espaço para bem mais
O banco atualizou a tese de investimentos para a companhia, reiterando a recomendação de compra e elevando o preço-alvo para os papéis de R$ 14 para R$ 21,50
Queda brusca na B3: por que a Azul (AZUL4) despenca 22% hoje, mesmo com a aprovação do plano que reforça o caixa
As ações reagiram à aprovação judicial do plano de reorganização no Chapter 11, que essencialmente passa o controle da companhia para as mãos dos credores
