Vacina empolga, mas incertezas ainda são muitas e limitam os ganhos do Ibovespa; dólar fica estável
Embora o início da vacinação tenha criado um princípio de euforia, as incertezas ainda são muitas e nublam o cenário
Pode soltar o grito de gol da garganta. O Brasil está oficialmente no mapa dos países que começaram a vacinar a sua população contra a covid-19 e dá o primeiro passo para garantir que a vida um dia volte ao normal.
O caminho até aqui não foi fácil e pelo jeito ainda temos uma estrada e tanto para percorrer, mas sempre é preciso começar de algum lugar…
Por agora, é o suficiente. O mercado financeiro recebe a aprovação das vacinas de braços abertos, com uma visão de que o início da vacinação fecha as portas para que o país aprove novos estímulos fiscais e abafe até mesmo uma discussão sobre uma nova rodada do auxílio emergencial.
É bem verdade que o Ibovespa fechou o dia longe das máximas — quando subiu 1,86%, aos 122.585,82 —, e a cautela predominou durante a tarde, mas ainda assim o dia foi de ganhos de 0,74%, aos 121.241,63.
Depois de ganhar força no decorrer da manhã, o índice começou a ter menos fôlego. Além de pesar algumas incertezas sobre a logística da campanha de vacinação no país, a perda de ímpeto também tem uma pressão técnica. É o que aponta a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, que lembra que pela manhã tivemos vencimento de opções sobre as ações da bolsa, o que pode ter deflagrado um ajuste no meio da tarde.
O dólar também teve um dia de volatilidade. A moeda americana chegou a cair 1,28%, a R$ 5,2365, mas fechou o dia perto da estabilidade, com alta de 0,01%. As incertezas contribuíram para esse movimento, mas a divisa acabou tendo um comportamento em linha do que se viu no mercado internacional.
O alívio com a vacinação também recaiu sobre o mercado de juros, que seguiu uma trajetória de realização dos lucros recentes. Sem Wall Street, que ficou fechada em celebração ao feriado do Dia de Martin Luther King, a liquidez global foi comprometida, o que favoreceu esse movimento de ajuste.
O mercado também acompanha de perto a movimentação em torno da eleição do próximo presidente da Câmara — a disputa está entre Baleia Rossi e Arthur Lira e os dois reforçaram o compromisso com o teto de gastos ao longo do último fim de semana. A disputa para as duas cadeiras deve movimentar de forma mais expressiva o mercado nas próximas semanas, segundo Abdelmalack. Confira as taxas de fechamento dos juros futuros:
- Janeiro/2022: de 3,345% para 3,26%
- Janeiro/2023: de 5,035% para 4,99%
- Janeiro/2025: de 6,63% para 6,47%
- Janeiro/2027: de 7,11% para 7,10%
Com a pulga atrás da orelha
Embora o início da vacinação tenha aliviado os mercados nesta segunda-feira, nem tudo são flores. Ainda temos um cenário complicado, com uma série de incertezas que devem ser recorrentes no noticiário dos próximos dias.
Em primeiro plano temos o embate público entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador do estado de São Paulo, João Doria. Logo pela manhã o presidente quebrou o silêncio sobre a aprovação para uso emergencial das vacinas e seguiu defendendo o “tratamento precoce” com medicamentos que não possuem comprovação científica, voltou a questionar a eficácia da CoronaVac, indo na contramão do que disseram os técnicos da Anvisa, e disse que a “vacina é do Brasil” e não de um governador só.
Além das rusgas que geram um desgaste político, o plano do governo federal para a vacinação em massa ainda é uma grande incógnita. Não existem informações sobre cronograma e ainda não se sabe o quão eficiente (e rápida) a logística de distribuição pode ser.
O início da campanha de vacinação do governo federal foi adiantada após o estado de São Paulo vacinar a primeira pessoa no domingo mesmo, mas começou com atrasos e erros de logística.
Em evento simbólico hoje pela manhã, o ministro da saúde, Eduardo Pazuello, e governadores de diversos estados fizeram um acordo para que a imunização começasse às 17 horas desta segunda-feira. Mas não foi possível cumprir o prazo, já que os aviões que levavam a carga atrasaram e tiveram problemas no embarque. Muitos estados que já deveriam ter recebido as doses ainda aguardam informações sobre o carregamento.
Lucas Carvalho, analista de Toro Investimentos, acredita que essa será a tônica dos próximos dias e o mercado deve testar a capacidade do governo federal em prover uma vacinação em larga escala.
Por ora, a vacina em mãos foi suficiente para que os investidores voltassem a apostar naqueles segmentos que normalmente são colocados como os grandes perdedores da crise do coronavírus. É o caso das empresas ligadas ao consumo, varejo físico e farmacêutico e companhias aéreas, que tiveram um bom desempenho na sessão de hoje.
Alívio que vem da China
Além do otimismo com as vacinas, o dia foi muito positivo também para o setor de commodities. E o gatilho para isso veio da China.
Mesmo em um ano conturbado como 2020, a China teve um desempenho positivo da sua economia — o único entre as grandes economias.
O gigante asiático cresceu 2,3% em 2020, acima do que os analistas estavam projetando. Nos últimos três meses do ano a alta foi de 6,5% ante o mesmo período do ano anterior. A China foi o primeiro país a ser afetado pelo coronavírus e conseguiu conter a situação enquanto o restante do mundo ainda aprendia como lidar com o vírus.
Com o bom desempenho da economia chinesa, as empresas produtoras de commodities saem ganhando. O país é grande consumidor de matéria-prima e uma recuperação econômica mais rápida do que o esperado pode indicar um aumento da demanda para essas empresas.
Apoiadas nessas expectativas, empresas de peso como CSN (+1,98%), Vale (0,81%) e Gerdau (1,42%), tiveram altas consideráveis na sessão de hoje, também apoiadas na alta do preço do minério.
O resultado surpreendente da economia chinesa também embalou os negócios na Europa. Depois de uma sessão em que predominou um viés negativo — de olho no avanço do número de casos da covid-19 e o desdobramento das novas cepas identificadas no continente — a maior parte das bolsas da região fechou em alta.
Monitorando a economia
Logo pela manhã, os investidores digeriram os dados do IBC-Br, ‘prévia do PIB do BC’, que mostrou sinais de desaceleração, mas veio acima do projetado pelos analistas.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apresentou crescimento de 0,59% em novembro, na comparação com o mês anterior, quando cresceu 0,75%, dado que foi revisado para baixo.
Sobe e desce
Depois de um recuo recente, as ações da Weg (WEGE3) dispararam mais de 6% nesta segunda-feira e chegaram a romper a máxima histórica da companhia, ao chegar aos R$ 92.
“Com um cenário de feriado nos EUA, rusgas e vencimento de opções, os investidores acabam buscando aqueles ativos considerados mais resilientes”, destaca Márcio Lórega, analista técnico da Ativa Investimentos. Ao comentar a nova máxima histórica da companhia, o analista também destacou que a Weg tem potencial para mais.
Entre as maiores altas do dia também estão o BTG Pactual, que anunciou na semana passada que fará uma oferta de ações que pode movimentar R$ 2,353 bilhões, e a Hapvida, que ainda surfa o efeito da sua proposta de fusão com a Intermédica.
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
WEGE3 | Weg ON | R$ 92,21 | 7,02% |
NTCO3 | Natura ON | R$ 51,94 | 5,16% |
BPAC11 | BTG Pactual units | R$ 92,27 | 3,97% |
GNDI3 | Intermédica ON | R$ 99,00 | 3,66% |
HAPV3 | Hapvida ON | R$ 17,93 | 3,64% |
Confira também as maiores quedas do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
EQTL3 | Equatorial ON | R$ 22,86 | -2,14% |
PRIO3 | PetroRio ON | R$ 72,84 | -1,94% |
SBSP3 | Sabesp ON | R$ 41,80 | -1,79% |
BRFS3 | BRF ON | R$ 20,39 | -1,78% |
CMIG4 | Cemig PN | R$ 14,43 | -1,64% |
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