O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) sinalizou que pode deixar de utilizar “em breve” o instrumento de forward guidance, que indica o rumo da Selic, diante da convergência das expectativas de inflação de 2022 para perto do centro da meta.
Por ora, os membros do Comitê consideram adequado o nível “extraordinariamente elevado” de estímulos monetários, diante das condições atuais da economia. Na reunião, ocorrida em 8 e 9 de dezembro, foi decidida a manutenção da taxa básica de juros em 2,00% ao ano e da divulgação do forward guidance.
O instrumento adicional de política monetária do BC, adotado em agosto, sinaliza que a autoridade monetária não vai reduzir os estímulos enquanto a economia estiver enfrentando os efeitos da pandemia. Mas isso depende do cumprimento de três fatores:
- projeções de inflação abaixo da meta no horizonte relevante,
- manutenção do regime fiscal e
- expectativas de inflação de longo prazo ancoradas.
Segundo a ata do último encontro, divulgada nesta terça-feira (15), estas três condições seguiram sendo satisfeitas, mas os membros do Copom avaliam que isto não será mais verdade indo adiante, porque eles vão começar a considerar em suas decisões as projeções para a inflação de 2022. E as expectativas do mercado para o futuro sinalizam que a inflação ficará em “torno da meta”.
Pode parecer um detalhe, mas vale destacar a condição imposta pelo BC para manutenção do forward guidance, de que as projeções para inflação fiquem “abaixo da meta no horizonte relevante”, e não “em torno da meta”.
Ainda que tenha sinalizado a possibilidade de retirar o forward guidance, o Copom destacou que isto não significa automaticamente um aperto monetário.
“A manutenção desse cenário de convergência da inflação sugere que, em breve, as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas, o que não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”, diz trecho do comunicado.
Inflação ainda não é problema
Olhando para o presente, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros e o forward guidance por avaliar que a recuperação da economia permanece desigual. A pandemia e a necessidade de ajustes dos gastos públicos a partir de 2021 aumentam “a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica”.
“O Comitê ponderou que os riscos associados à evolução da pandemia podem implicar um cenário doméstico caracterizado por uma retomada ainda mais gradual”, diz trecho da ata.
A decisão de manter os juros baixos ocorre em meio à aceleração da inflação nos últimos meses. Isso não passou batido pelos integrantes do Copom. Eles admitiram que as últimas leituras do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vieram acima do esperado.
E mais, eles projetam que a inflação deve continuar alta em dezembro, apesar do arrefecimento previsto para os preços dos alimentos, por causa das mensalidades escolares e a adoção da bandeira vermelha nas contas de luz.
Mesmo assim, eles avaliaram que “os choques atuais são temporários” e que a projeção para a inflação permanece abaixo da meta de 4%. Além disso, de acordo com a ata, “as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas”.
Risco fiscal
A ata destacou que o prolongamento de medidas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal ou o atraso na continuidade das reformas estruturais podem “elevar os prêmios de risco”, impulsionando a alta dos preços.
“O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, diz trecho da ata.