O Banco Central anunciou nesta quarta-feira (9) que decidiu manter a Selic em 2% ao ano, na última decisão do ano. A expectativa pela manutenção da taxa básica de juros era majoritária entre agentes do mercado.
A Selic está no atual patamar desde agosto, depois de sucessivas reduções impulsionadas pela pandemia. De lá para cá, houve três reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), incluindo a desta quarta.
A definição da taxa de juros acontece em meio a um avanço da inflação. O BC comentou em decisão que o movimento dos preços deve seguir elevado, mas defendeu novamente que há um choque temporário. "As expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas".
Em comunicado, o Copom disse que o nível de ociosidade atual da economia pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado. "O risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional".
O comitê ponderou que um prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que piore a trajetória fiscal do país ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco.

Retirada de indicação, mas juros seguem baixos
O BC considera adequado o atual nível de estímulo monetário que vem sendo produzido pela manutenção da taxa atual e pelo "forward guidance" - indicação de Selic baixa por um longo período.
Segundo a autoridade monetária, o cenário sugere que as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas em breve - o que não implicaria mecanicamente uma elevação da taxa de juros, segundo o Copom.
"No cenário de retirada do forward guidance, a condução da política monetária seguirá o receituário do regime de metas para a inflação, baseado na análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos", disse o BC.
Para o sócio da Acqua Investimentos Bruno Musa, a menção ao forward guidance com possibilidade de retirada foi a única novidade no comunicado — mas segue uma postura esperada dos bancos centrais. "A política monetária vai se manter da mesma forma e a Selic não muda antes do ano que vem", diz.
"É um comunicado hawkish, não porque vê chance de alta de juros no curtíssimo prazo, mas porque ele está preocupado com a inflação", diz Fabio Akira, economista-chefe da BlueLine Asset Management.
Akira menciona ainda a caracterização que o BC fez sobre os núcleos de inflação, afirmando, no comunicado, que o choque é temporário, "mas que segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente" — isto é, os preços que flutuam menos segundo choques de oferta.
A economista da Veedha Investimentos Camila Abdelmalack conta que estava até hoje projetando uma alta da Selic ano que vem a partir do segundo semestre, terminado em 3% ao ano. No entanto, ela diz aumentou a chance de a taxa terminar a 4% em 2021.
Segundo a especialista, com estímulos dos BCs no exterior, pode haver excesso de liquidez. "A tendência seria de retomada do comércio internacional. Ainda teria a descompressão do câmbio, podendo haver pressão nas commoditties - o que pressionaria mais o IPCA de forma permanente."