Gol tem capital de giro para manter operações de modo consistente, diz presidente
A posição de caixa e a disponibilidade de liquidez da Gol foram as principais ferramentas usadas pelo presidente da empresa, Paulo kakinoff, para tentar afastar as dúvidas quanto ao futuro da companhia no atual momento de crise
Apesar de todas as dificuldades impostas pela escalada do dólar e pela crise do coronavírus, o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, afirma que a companhia aérea possui capital de giro suficiente para manter suas operações de modo consistente, buscando afastar as dúvidas quanto à sobrevivência da empresa no curto prazo.
"Mesmo com os ativos de que dispomos e com todas as medidas já implantadas, estamos trabalhando duro, todos os dias, para buscar sempre o máximo de eficiência e inteligência na utilização de nossa liquidez", disse Kakinoff, em vídeo divulgado na página de relações com investidores da Gol.
A companhia fechou o primeiro trimestre deste ano com um prejuízo líquido de R$ 2,288 bilhões. No lado operacional, a Gol registrou poucos impactos da pandemia da Covid-19, mas, no lado financeiro, foi fortemente afetada pela desvalorização do real — quase toda a dívida bruta da empresa é denominada em moeda estrangeira.
Apesar da perda expressiva contabilizada entre janeiro e março de 2020, a Gol fez questão de ressaltar em todo seu demonstrativo de resultados que possui níveis elevados de liquidez: o caixa da companhia soma pouco menos de R$ 3 bilhões.
Se consideradas outras fontes de dinheiro — como valores a receber, depósitos em garantia, despesas pré-pagas e ativos não onerados — a posição de liquidez da Gol chega a cerca de R$ 7 bilhões.
Essa atenção especial ao caixa não é à toa: a própria Gol projeta que os próximos trimestres serão bastante complexos, dada a forte redução na demanda por voos em meio à crise do coronavírus.
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Em mensagem aos acionistas, a companhia ressalta que a redução de capacidade no segundo trimestre deve ser de aproximadamente 80%, com 100% de corte nas rotas internacionais.
Assim, a própria Gol projeta uma queda de 70% na receita operacional líquida na base anual, para algo em torno de R$ 900 milhões — no primeiro trimestre deste ano, a receita foi de R$ 3,15 bilhões. Por outro lado, a empresa também prevê uma redução de 50% nas despesas entre abril e junho.
"Estamos elaborando nosso plano para a retomada dos patamares normais no devido tempo", disse Kakinoff. "Continuamos focados na busca incansável pela diminuição de custos, pela proteção de empregos e trabalhando com o governo para mitigar o impacto destrutivo da pandemia".
Em termos de projeções para o segundo trimestre, a Gol diz esperar encerrar o mês de junho com cerca de R$ 2,6 bilhões em caixa e R$ 10,4 bilhões em dívida líquida ajustada — atualmente, o endividamento líquido é de quase R$ 11 bilhões.
Auxílio do governo
A Gol destaca que o governo federal tem discutido a criação de uma linha de crédito para socorrer as companhias aéreas nacionais, via BNDES — cada empresa teria acesso a uma quantia próxima a R$ 3 bilhões.
Esse financiamento, no entanto, ainda não foi oficializado: segundo Kakinoff, o próprio BNDES sinalizou que pretende divulgar as condições finais até 15 de maio.
"Os termos ainda não foram apresentados", disse o presidente da Gol, em teleconferência com analistas e investidores, ao ser perguntado sobre maiores detalhes sobre a linha de crédito. "Quando os termos forem conhecidos, aí sim poderemos comentar e sinalizar se vamos assinar ou não".
Mercado cauteloso
Apesar do tom otimista assumido por Kakinoff e pela Gol, o mercado mostrou-se preocupado com os resultados da companhia e com as sinalizações para o futuro.
As ações PN da empresa (GOLL4) fecharam em forte queda de 10,08%, a R$ 11,15, e apresentaram um dos piores desempenhos de todo o Ibovespa nesta segunda-feira — o índice teve um dia bastante negativo e caiu mais de 2%.
Com a baixa de hoje, os papéis da Gol já acumulam perdas de mais de 70% desde o começo do ano — dentro do Ibovespa, apenas IRB ON (IRBR3), Azul PN (AZUL4) e CVC ON (CVCB3) têm quedas maiores.
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