Urso de carteirinha: como ganhei dinheiro apostando na baixa dos mercados
As quedas são mais rápidas do que as altas. Crashes, então, nem se fala. Podem acontecer em um único pregão
Embora os termos “touro” e “urso” só recentemente estejam sendo usados pelos profissionais brasileiros de mercado, nos Estados Unidos bulls e bears são coisa antiga.
Touros (bulls) são os que apostam na alta; ursos (bears), na baixa.
Nos três primeiros parágrafos do capítulo 76 de meu livro Os mercadores da noite (edição da Inversa, página 291) explico a origem desses nomes:
“Quando, em janeiro de 1848, James W. Marshall descobriu ouro na Califórnia, aventureiros de todo o país correram para a região. Um ano depois, os garimpeiros podiam ser contados às dezenas de milhares, acomodados em cidades improvisadas.
Era preciso alguma coisa para divertir aquela multidão de homens rudes. Surgiram, então, as touradas que os mexicanos, vindos do Sul, haviam herdado de seus colonizadores espanhóis. Mas a luta entre o homem e o touro não foi suficiente para agradar aos garimpeiros. Queriam algo mais violento, menos previsível, uma luta igual em que pudessem apostar. Os touros foram, então, aproveitados para lutar contra ursos, encontrados em abundância no norte do estado.
A nova luta foi um sucesso. Durava apenas alguns minutos. Terminava, invariavelmente, com a morte de um dos participantes. Algumas vezes, o touro, com um rápido movimento de cabeça para cima, perfurava com os chifres o peito do adversário. Em outras, o urso, com uma violenta patada para baixo, esmigalhava o crânio do inimigo. O touro sempre atacava para cima. O urso, para baixo.
Leia Também
Veio dessa época o hábito de chamar de touros as pessoas que apostam nas altas do mercado, pois estão jogando na expectativa de um movimento para cima. Por outro lado, ursos são os que apostam no movimento para baixo. Bull market é o mercado do touro, para cima. Bear market é o mercado do urso, para baixo.”
É preciso ficar claro que urso não é quem simplesmente vende e sim quem vende “a descoberto”, ou fica short, como preferirem. Eles “shorteiam” na expectativa que o mercado caia e possam recomprar mais barato.
Nos mercados futuros, isso é possível mediante o depósito de uma margem de garantia.
Se por acaso o urso é teimoso, e insiste no short mesmo com o mercado subindo, as Bolsas se protegem cobrando ajustes negativos. Estes são feitos diariamente. Se o urso for desobediente, e não pagar o ajuste, faz-se uma liquidação compulsória de sua posição.
Mesmo porque, a cada urso corresponde um touro do outro lado da operação. Este recebe o ajuste positivo referente a alta que o favoreceu, penalizando o obstinado perdedor.
Vida de urso
Na primeira vez em que vendi a descoberto, me senti como se estivesse inventando a pólvora. Não fazia a menor ideia desse negócio de short, muito menos que se tratava de uma prática comum nos mercados internacionais.
O ano era 1958. Eu operava câmbio para uma corretora, a H. Picchioni, de Belo Horizonte, um negócio burocrático, meio que cartorial. Nós comprávamos dólares dos exportadores (Cia. Vale do Rio Doce, por exemplo) e vendíamos para as empresas importadoras (sendo a Petrobras a maior delas).
Cobrávamos uma comissão e esse era o nosso ganho.
Certa ocasião, convicto de que o dólar iria cair, vendi um grande lote para a Petrobras, sem me cobrir com nenhum exportador. Dormi short.
No dia seguinte, aconteceu o que eu esperava: o dólar desabou. Então comprei da Vale para fazer a entrega à Petrobras. Naquele dia, deixei de ser um simples amanuense (com as devidas vênias a Eça de Queiroz) e me tornei um especulador, chancela que carregaria por toda a vida profissional.
De BH, pulei para Nova York. Em janeiro de 1966, fui estudar mercado de capitais na NYU. Lá aprendi que ser urso, vender sem ter, era prática normal em Wall Street. Havia até um bar (que existe até hoje) no Waldorf Astoria, em Midtown, chamado Bulls & Bears.
Fiquei também sabendo que ficar short fora uma operação corriqueira no mercado de arroz do Japão. Isso no século 18. Aqueles que vendiam arroz da safra do ano seguinte chamavam esse trade de “arroz vazio”.
“Operação Seu Sete”
Quando regressei ao Brasil, fui ser operador de pregão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. O grande bull market 1968/1971 apenas começara. Uma das modalidades de negócio praticadas eram as operações a termo.
Normalmente, os investidores compravam papéis a vista e os vendiam a termo por 90 dias, uma simples operação de renda fixa, que rendia um plus quando o comprador futuro antecipava a liquidação.
Naquele boom exuberante negociava-se muitas ações de empresas de fachada, quando não insignificantes e até mesmo inexistentes, como foi o caso da inesquecível Merposa. Outras eram apenas “puxadas” de ocasião.
Por diversas vezes, vendi essas ações (exóticas, digamos) a termo. Vendi sem tê-las, mediante deposito de margem de 20%.
Já me tornara um urso de carteirinha.
Era também comum alugar ações e vendê-las, para recompra posterior, sempre que alguém achava que o mercado exagerara na alta.
Alguns floor traders simplesmente vendiam papéis que não tinham e atrasavam a entrega, pagando uma multa diária cobrada pela Bolsa. Eu não gostava muito dessa tática mas adorava a “Operação Seu Sete”.
Seu Sete da Lira era na verdade uma mulher: a mãe de santo dona Cacilda de Assis, umbandista muito procurada num subúrbio do Rio.
Os ursos do pregão “shorteavam” ações por sete dias, em acordo de boca com o comprador. Ou seja, tratava-se de uma operação futuro informal, sempre honrada pelas duas partes. Touros e ursos podiam até ter uma moral elástica em certas ocasiões, mas todo mundo honrava a Seu Sete, que sabe por medo de uma represália do Além.
Azar na “Black Monday”
A partir de 1977, passei a me interessar mais pelo mercado internacional. De 1983 em diante, esqueci as bolsas brasileiras e só fazia trades em Chicago e Nova York, às vezes me estendendo para Londres, Tóquio e Singapura, não raro sendo obrigado a varar a noite no escritório (nem se pensava em telefones celulares).
Não que fosse urso sempre, mas me sentia mais à vontade quando estava vendido.
As quedas são mais rápidas do que as altas. Crashes, então, nem se fala. Podem acontecer em um único pregão, como foi o caso da Black Monday, segunda-feira 19 de outubro de 1987.
Nesse dia, o S&P500 perdeu um quinto de seu valor, dando um lucro de US$ 28.820,00 por contrato para quem estava short.
Infelizmente, e lamento isso até hoje, eu vendera o S&P Setembro, que venceu um mês antes do crash. Como o time value do vencimento seguinte, Dezembro, era muito alto, resolvi aguardar um pouco para iniciar meu trade.
A Black Monday me pegou zerado.
Pior foi aguentar os telefonemas de parabéns dos amigos. Sim, de parabéns, já que durante dois ou três meses eu dissera para todo mundo que a Bolsa de Nova York levaria um tombaço.
Quase larguei o mercado na ocasião. Pensei em ser corretor de imóveis, comprador e vendedor de carros usados, sei lá.
Felizmente, a dor de corno foi passando aos poucos e no ano seguinte dei uma das maiores tacadas de minha vida, desta vez no mercado de soja e comprado. Sim, comprado. Foi o touro Ivan que ganhou.
Vendedor do tempo
Após a porrada na soja em 1988, ainda trabalhei sete anos como trader internacional, até ser seduzido por Julius Clarence e me tornado escritor.
Nesse período final, passei a ser vendedor do tempo (time value). Isso significa vender calls e puts (opções de compra e de venda) fora do dinheiro (out of the money), na expectativa de que elas virem pó, o que quase sempre acontece.
Quem faz esse tipo de operação ganha na grande maioria de seus trades. O problema é que, quando perde, perde uma grana preta. Isso porque para baixo o ganho de uma call ou put se limita ao seu valor. Para cima, a perda é ilimitada.
Portanto, para vender o tempo, é preciso que o mercado tenha grande liquidez, de modo que se possa fazer um stop quando as coisas se encaminham para o lado contrário ao que você previu.
Infelizmente, no Brasil as opções têm pouca liquidez. Algumas, praticamente nenhuma, como as calls e puts do mercado de dólar futuro.
O curioso é que algumas pessoas, inclusive profissionais de mercado, te olham torto quando você, por exemplo, vende o Ibovespa futuro à descoberto. Acham que é falta de patriotismo. Pelas costas, te acusam de quinta coluna.
Um detalhe do qual pouca gente se dá conta é que, quando você compra dólar futuro, está vendendo reais à descoberto. Basta o Banco Central entrar no mercado vendendo um zilhão de dólares (nossas reservas são de quase US$ 400 bilhões) que você vai descobrir que era um urso sem saber. E agora é um urso gravemente chifrado pelo touro.
Do céu ao inferno: Ibovespa tem a maior queda desde 2021; dólar e juros disparam sob “efeito Flávio Bolsonaro”
Até então, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, era cotado como o mais provável candidato da direita, na avaliação do mercado, embora ele ainda não tivesse anunciado a intenção de concorrer à presidência
Pequenas e poderosas: Itaú BBA escolhe as ações small cap com potencial de saltar até 50% para carteira de dezembro
A Plano & Plano (PLP3) tem espaço para subir até 50,6%; já a Tenda (TEND3) pode ter valorização de 45,7%
Ibovespa sobe 1,65% e rompe os 164 mil pontos em forte sequência de recordes. Até onde o principal índice da bolsa pode chegar?
A política monetária, com o início do ciclo de cortes da Selic, é um dos gatilhos para o Ibovespa manter o sprint em 2026, mas não é o único; calculamos até onde o índice pode chegar e explicamos o que o trouxe até aqui
Ibovespa vai dar um salto de 18% e atingir os 190 mil pontos com eleições e cortes na Selic, segundo o JP Morgan
Os estrategistas reconhecem que o Brasil é um dos poucos mercados emergentes com um nível descontado em relação à média histórica e com o múltiplo de preço sobre lucro muito mais baixo do que os pares emergentes
Empresas listadas já anunciaram R$ 68 bilhões em dividendos do quarto trimestre — e há muito mais por vir; BTG aposta em 8 nomes
Levantamento do banco mostra que 23 empresas já anunciaram valor ordinários e extraordinários antes da nova tributação
Pátria Malls (PMLL11) vai às compras, mas abre mão de parte de um shopping; entenda o impacto no bolso do cotista
Somando as duas transações, o fundo imobiliário deverá ficar com R$ 40,335 milhões em caixa
BTLG11 é destronado, e outros sete FIIs disputam a liderança; confira o ranking dos fundos imobiliários favoritos para dezembro
Os oito bancos e corretoras consultados pelo Seu Dinheiro indicaram três fundos de papel, dois fundos imobiliários multiestratégia e dois FIIs de tijolo
A bolsa não vai parar: Ibovespa sobe 0,41% e renova recorde pelo 2º dia seguido; dólar cai a R$ 5,3133
Vale e Braskem brilham, enquanto em Nova York, a Microsoft e a Nvidia tropeçam e terminam a sessão com perdas
Vai ter chuva de dividendos neste fim de ano? O que esperar das vacas leiteiras da bolsa diante da tributação dos proventos em 2026
Como o novo imposto deve impactar a distribuição de dividendos pelas empresas? O analista da Empiricus, Ruy Hungria, responde no episódio desta semana do Touros e Ursos
Previsão de chuva de proventos: ação favorita para dezembro tem dividendos extraordinários no radar; confira o ranking completo
Na avaliação do Santander, que indicou o papel, a companhia será beneficiada pelas necessidades de capacidade energética do país
Por que o BTG acha que RD Saúde (RADL3) é uma das maiores histórias de sucesso do varejo brasileiro em 20 anos — e o que esperar para 2026
Para os analistas, a RADL3 é o “compounder perfeito”; entenda como expansão, tecnologia e medicamentos GLP-1 devem fortalecer a empresa nos próximos anos
A virada dos fundos de ações e multimercados vem aí: Fitch projeta retomada do apetite por renda variável no próximo ano
Após anos de volatilidade e resgates, a agência de risco projeta retomada gradual, impulsionada por juros mais favorável e ajustes regulatórios
As 10 melhores small caps para investir ainda em 2025, segundo o BTG
Enquanto o Ibovespa disparou 32% no ano até novembro, o índice Small Caps (SMLL) saltou 35,5% no mesmo período
XP vê bolsa ir mais longe em 2026 e projeta Ibovespa aos 185 mil pontos — e cinco ações são escolhidas para navegar essa onda
Em meio à expectativa de queda da Selic e revisão de múltiplos das empresas, a corretora espera aumento do fluxo de investidores estrangeiros e locais
A fome do TRXF11 ataca novamente: FII abocanha dois shoppings em BH por mais de R$ 257 milhões; confira os detalhes da operação
Segundo a gestora TRX, os imóveis estão localizados em polos consolidados da capital mineira, além de reunirem características fundamentais para o portfólio do FII
Veja para onde vai a mordida do Leão, qual a perspectiva da Kinea para 2026 e o que mais move o mercado hoje
Profissionais liberais e empresários de pequenas e médias empresas que ganham dividendos podem pagar mais IR a partir do ano que vem; confira análise completa do mercado hoje
O “ano de Troia” dos mercados: por que 2026 pode redefinir investimentos no Brasil e nos EUA
De cortes de juros a risco fiscal, passando pela eleição brasileira: Kinea Investimentos revela os fatores que podem transformar o mercado no ano que vem
Ibovespa dispara 6% em novembro e se encaminha para fechar o ano com retorno 10% maior do que a melhor renda fixa
Novos recordes de preço foram registrados no mês, com as ações brasileiras na mira dos investidores estrangeiros
Ibovespa dispara para novo recorde e tem o melhor desempenho desde agosto de 2024; dólar cai a R$ 5,3348
Petrobras, Itaú, Vale e a política monetária ditaram o ritmo dos negócios por aqui; lá fora, as bolsas subiram na volta do feriado nos EUA
Ações de Raízen (RAIZ4), Vibra (VBBR3) e Ultrapar (UGPA3) saltam no Ibovespa com megaoperação contra fraudes em combustíveis
Analistas avaliam que distribuidoras de combustíveis podem se beneficiar com o fim da informalidade no setor