Os segredos da bolsa: o exterior dá as cartas para as ações, mas Brasília segue em destaque
Diversas incertezas continuam no radar dos mercados, tanto no Brasil quanto no exterior — o que pode mexer com os rumos da bolsa nesta semana
					O clima não tem estado favorável para os ativos locais: na bolsa, o Ibovespa amargou perdas na semana passada e foi às mínimas desde 24 de abril; no câmbio, o dólar à vista continuou sob pressão, flertando com os R$ 6,00. Tudo por causa de um ambiente mais cauteloso no exterior e no Brasil — um cenário que tende a permanecer inalterado nos próximos dias.
Afinal, a falta de visibilidade em relação ao coronavírus, ao estado da economia global e aos desdobramentos do cenário político doméstico, em conjunto, acabam colocando os investidores na defensiva. E, ao longo do fim de semana, quase não houve alterações nessas variáveis.
Assim, o foco dos agentes financeiros permanecerá sobre as eventuais pistas e notícias que possam amenizar esse quadro de incerteza generalizada. E, no exterior, teremos alguns eventos que têm potencial para mexer com a percepção de risco dos mercados.
A começar pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell. Na semana passada, ele deu declarações que caíram como um balde de água fria sobre os investidores: descartou a adoção de juros negativos — uma hipótese que vinha ganhando o coração do mercado — e disse que o pior da recessão ainda estava por vir.
É claro que a fala azedou o humor dos investidores, provocando quedas nas bolsas globais e derrubando o Ibovespa por tabela. Dito isso, é preciso ficar atento às movimentações de Powell — e elas não serão poucas nessa semana.
Na noite de domingo, ele deu mais sinais pouco animadores: em entrevista à CBS, ele disse que o processo de recuperação da economia americana pode começar já no segundo semestre desse ano, mas ressaltou que esse processo pode se arrastar até o fim de 2021.
Leia Também
"Assumindo que não teremos uma segunda onda do coronavírus, eu acredito que a economia pode se recuperar de maneira mais firme no segundo semestre" — Jerome Powell, presidente do Fed, em entrevista à CBS
O problema, novamente, reside na incerteza: tudo depende da não ocorrência de uma segunda onda da Covid-19 nos EUA — e as informações disponíveis no momento não são muito animadoras nesse sentido, já que, na Ásia, começam a ser registrados novos casos da doença.
Ou seja: o modelo existente indica que os países que já passaram por uma primeira onda e reabriram suas economias podem estar sujeitos a uma nova fase de contaminações — uma leitura que eleva a cautela quanto ao processo de normalização atualmente em vigor na Europa e nos EUA. Será que esse fenômeno também se repetirá no Ocidente?
Os dados mais atualizados a respeito da pandemia também não servem para trazer alívio: segundo levantamento da universidade americana Johns Hopkins, mais de 4,7 milhões de pessoas já foram infectadas no mundo, com cerca de 315 mil mortes — somente nos EUA, já são quase 80 mil óbitos em função da doença.
Desta maneira, a tendência é de continuidade da cautela no exterior — um pano de fundo que exerce pressão negativa sobre a bolsa brasileira.
O novo normal
Por aqui, as tensões políticas permanecem lá no alto: com a saída de Nelson Teich do ministério da Saúde, ainda há uma espécie de vácuo quanto às diretrizes oficiais a serem tomadas no front do coronavírus — uma situação que apenas aumenta o estresse em Brasília.
O fato de o presidente Jair Bolsonaro ter novamente feito acenos aos protestos a seu favor — e que também pedem o fechamento da Câmara e do STF, diga-se — não contribui em nada para acalmar os ânimos e diminuir a percepção de que não há governabilidade.
É certo que Bolsonaro amenizou um pouco o tom em seus acenos aos manifestantes, não dando declarações de apoio explícito às pautas antidemocráticas. Ainda assim, a deterioração no cenário político é evidente, o que eleva a tensão dos investidores quanto a continuidade das reformas econômicas e ao cumprimento das metas fiscais.
Considerando a somatória de estresse doméstico com incerteza internacional, não seria surpreendente ver o dólar dando continuidade à tendência de alta e o Ibovespa se afastando cada vez mais dos 80 mil pontos.
Ainda há um segundo fator de nervosismo no radar dos investidores: a possibilidade de decretação de um lockdown em São Paulo, conforma já foi sinalizado pelas autoridades estaduais e municipais nos últimos dias.
Caso a medida seja de fato anunciada, os mercados terão um risco duplo para lidar: por um lado, há o natural impacto econômico — e com implicações negativas para as ações de diversas empresas da bolsa — e, por outro, há o atrito entre o governo paulista e o federal, já que Bolsonaro é contra as políticas de isolamento.
Em meio às disputas políticas, fato é que a curva de contágio do coronavírus no país continua aumentando: até sábado, já eram 233 mil contaminados no Brasil, com 15.633 mortes.
Agenda cheia
Em termos de agenda econômica, teremos uma semana particularmente agitada no exterior, com dados de inflação e atividade no mundo. Veja abaixo os destaques dos próximos dias:
- Segunda-feira (18)
- EUA: índice NAHB de confiança das construtoras em maio
 
 - Terça-feira (19)
- EUA: Powell faz discurso em comitê do Senado americano
 - Alemanha: índice Zew de expectativa econômica em maio
 
 - Quarta-feira (20)
- EUA: ata da última reunião do Fed
 - Zona do euro: 
- Inflação (CPI) em abril
 - Índice de confiança do consumidor (preliminar) em maio
 
 - Japão: PMI industrial e de serviços (preliminar) em maio
 
 - Quinta-feira (21)
- EUA:
- Novos pedidos de seguro-desemprego até 16/05
 - PMI industrial e de serviços (preliminar) em maio
 - Índice NAR de venda de moradias usadas em abril
 - Powell fala em evento do Fed sobre o coronavírus
 
 - Reino Unido: PMI industrial e de serviços (preliminar) em maio
 
 - EUA:
 - Sexta-feira (22)
- Alemanha: PMI industrial e de serviços (preliminar) em maio
 - Reino Unido: vendas no varejo em abril
 - Zona do euro: PMI industrial e de serviços (preliminar) em maio
 
 
Como eu disse no começo do texto, é preciso acompanhar de perto as declarações de Powell ao longo da semana: além da entrevista deste domingo, ele ainda fará outras duas aparições públicas. O destaque fica com o evento promovido pelo Fed, onde se espera que ele fará novas considerações a respeito do cenário econômico.
Chama a atenção, também, a ata da última reunião do BC americano. Por mais que a taxa de juros tenha permanecido inalterada na faixa de 0% a 0,25% ao ano, o mercado buscará eventuais pistas quanto à visão dos demais diretores da instituição para o cenário econômico em meio à pandemia.
Em termos de dados, vale ficar atento aos indicadores de atividade, tanto os PMIs quanto os índices de confiança — são termômetros importantes da economia real no mundo, mostrando quão aquecida está a economia e qual a perspectiva de melhora no curto prazo.
No Brasil, a semana será atipicamente tranquila em termos de agenda econômica. Há poucos dados programados para os próximos dias — o destaque fica com dois indicadores de inflação:
- Segunda-feira (18): IGP-10 em maio
 - Quarta-feira (20): segunda prévia do IGP-M em maio
 
São dois dados que, em condições normais, não interferem muito no mercado. No entanto, considerando o atual quadro deflacionário e as perspectivas de cortes ainda mais profundos na Selic, esses indicadores podem mexer com as apostas dos investidores em relação ao futuro da política monetária no país.
Caso esses dados continuem mostrando que a inflação está bastante sob controle, os agentes financeiros tendem a aumentar as apostas em mais baixas da Selic — o que afeta a curva de juros e tende a pressionar ainda mais o dólar.
E, nesse cenário, é possível vermos efeitos secundários na bolsa, especialmente nas ações mais dependentes da cotação do dólar: ações de exportadoras se beneficiam com o câmbio mais alto, enquanto companhias com dívida e custos e dólar tendem a sofrer.
Mais alguns balanços
Por fim, fique atento à temporada de resultados do primeiro trimestre: após a agitação da semana passada, os próximos dias serão mais tranquilos — ainda assim, teremos diversas integrantes do Ibovespa reportando seus números:
- Segunda-feira (18): Equatorial e Marfrig;
 - Quinta-feira (21): Lojas Renner;
 - Sexta-feira (22): Usiminas.
 
A minha colega Jasmine Olga preparou uma matéria especial com as projeções e principais pontos a serem observados nos balanços da Marfrig, Renner e Usiminas — é só clicar aqui.
Ibovespa alcança o 5º recorde seguido, fecha na marca histórica de 149 mil pontos e acumula ganho de 2,26% no mês; dólar cai a R$ 5,3803
O combo de juros menores nos EUA e bons desempenhos trimestrais das empresas pavimenta o caminho para o principal índice da bolsa brasileira superar os 150 mil pontos até o final do ano, como apontam as previsões
Maior queda do Ibovespa: o que explica as ações da Marcopolo (POMO4) terem desabado após o balanço do terceiro trimestre?
As ações POMO4 terminaram o dia com a maior queda do Ibovespa depois de um balanço que mostrou linhas abaixo do que os analistas esperavam; veja os destaques
A ‘brecha’ que pode gerar uma onda de dividendos extras aos acionistas destas 20 empresas, segundo o BTG
Com a iminência da aprovação do projeto de lei que taxa os dividendos, o BTG listou 20 empresas que podem antecipar pagamentos extraordinários para ‘fugir’ da nova regra
Faltou brilho? Bradesco (BBDC4) lucra mais no 3T25, mas ações tombam: por que o mercado não se animou com o balanço
Mesmo com alta no lucro e na rentabilidade, o Bradesco viu as ações caírem no exterior após o 3T25. Analistas explicam o que pesou sobre o resultado e o que esperar daqui pra frente.
Montanha-russa da bolsa: a frase de Powell que derrubou Wall Street, freou o Ibovespa após marca histórica e fortaleceu o dólar
O banco central norte-americano cortou os juros pela segunda vez neste ano mesmo diante da ausência de dados econômicos — o problema foi o que Powell disse depois da decisão
Ouro ainda pode voltar para as máximas: como levar parte desse ganho no bolso
Um dos investimentos que mais renderam neste ano é também um dos mais antigos. Mas as formas de investir nele são modernas e vão de contratos futuros a ETFs
Ibovespa aos 155 mil pontos? JP Morgan vê três motores para uma nova arrancada da bolsa brasileira em 2025
De 10 de outubro até agora, o índice já acumula alta de 5%. No ano, o Ibovespa tem valorização de quase 24%
Santander Brasil (SANB11) bate expectativa de lucro e rentabilidade, mas analistas ainda tecem críticas ao balanço do 3T25. O que desagradou o mercado?
Resultado surpreendeu, mas mercado ainda vê preocupações no horizonte. É hora de comprar as ações SANB11?
Ouro tomba depois de máxima, mas ainda não é hora de vender tudo: preço pode voltar a subir
Bancos centrais globais devem continuar comprando ouro para se descolar do dólar, diz estudo; analistas comentam as melhores formas de investir no metal
IA nas bolsas: S&P 500 cruza a marca de 6.900 pontos pela 1ª vez e leva o Ibovespa ao recorde; dólar cai a R$ 5,3597
Os ganhos em Nova York foram liderados pela Nvidia, que subiu 4,98% e atingiu uma nova máxima. Por aqui, MBRF e Vale ajudaram o Ibovespa a sustentar a alta.
‘Pacman dos FIIs’ ataca novamente: GGRC11 abocanha novo imóvel e encerra a maior emissão de cotas da história do fundo
Com a aquisição, o fundo imobiliário ultrapassa R$ 2 bilhões em patrimônio líquido e consolida-se entre os maiores fundos logísticos do país, com mais de 200 mil cotistas
Itaú (ITUB4), BTG (BPAC11) e Nubank (ROXO34) são os bancos brasileiros favoritos dos investidores europeus, que veem vida ‘para além da eleição’
Risco eleitoral não pesa tanto para os gringos quanto para os investidores locais; estrangeiros mantêm ‘otimismo cauteloso’ em relação a ativos da América Latina
Gestor rebate alerta de bolha em IA: “valuation inflado é termo para quem quer ganhar discussão, não dinheiro”
Durante o Summit 2025 da Bloomberg Linea, Sylvio Castro, head de Global Solutions no Itaú, contou por que ele não acredita que haja uma bolha se formando no mercado de Inteligência Artificial
Vamos (VAMO3) lidera os ganhos do Ibovespa, enquanto Fleury (FLRY3) fica na lanterna; veja as maiores altas e quedas da semana
Com a ajuda dos dados de inflação, o principal índice da B3 encerrou a segunda semana seguida no azul, acumulando alta de 1,93%
Ibovespa na China: Itaú Asset e gestora chinesa obtêm aprovação para negociar o ETF BOVV11 na bolsa de Xangai
Parceria faz parte do programa ETF Connect, que prevê cooperação entre a B3 e as bolsas chinesas, com apoio do Ministério da Fazenda e da CVM
Envelhecimento da população da América Latina gera oportunidades na bolsa — Santander aponta empresas vencedoras e quem perde nessa
Nova demografia tem potencial de impulsionar empresas de saúde, varejo e imóveis, mas pressiona contas públicas e produtividade
Ainda vale a pena investir nos FoFs? BB-BI avalia as teses de seis Fundos de Fundos no IFIX e responde
Em meio ao esquecimento do segmento, o analista do BB-BI avalia as teses de seis Fundos de Fundos que possuem uma perspectiva positiva
Bolsas renovam recordes em Nova York, Ibovespa vai aos 147 mil pontos e dólar perde força — o motivo é a inflação aqui e lá fora. Mas e os juros?
O IPCA-15 de outubro no Brasil e o CPI de setembro nos EUA deram confiança aos investidores de que a taxa de juros deve cair — mais rápido lá fora do que aqui
Com novo inquilino no pedaço, fundo imobiliário RBVA11 promete mais renda e menos vacância aos cotistas
O fundo imobiliário RBVA11, da Rio Bravo, fechou contrato de locação com a Fan Foods para um restaurante temático na Avenida Paulista, em São Paulo, reduzindo a vacância e ampliando a diversificação do portfólio
Fiagro multiestratégia e FoFs de infraestrutura: as inovações no horizonte dos dois setores segundo a Suno Asset e a Sparta
Gestores ainda fazem um alerta para um erro comum dos investidores de fundos imobiliários que queiram alocar recursos em Fiagros e FI-Infras
