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Terra arrasada: Ibovespa despenca mais de 12% e dólar vai a R$ 4,72 com a crise no petróleo

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No ápice da Segunda Guerra Mundial, as tropas de Adolf Hitler marcharam em direção a Moscou, tentando conquistar o território da União Soviética. Sabendo do plano nazista, o exército vermelho adotou uma estratégia que entrou para a História como 'terra arrasada': ordenou que os cidadãos queimassem e destruíssem tudo que poderia ser útil aos invasores.

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O resultado é conhecido: sem recursos à disposição, os soldados alemães sucumbiram ao rigoroso inverno — um episódio apontado por muitos como o início da derrocada nazista. Para derrotar o inimigo, os soviéticos destruíram seu próprio patrimônio.

Pois, quase 80 anos depois da Segunda Guerra, a estratégia se voltou contra os russos: a Arábia Saudita cortou violentamente os preços do petróleo vendido ao exterior, prejudicando seus próprios interesses para tentar encurralar o governo de Moscou, que se opõe à liderança saudita na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

O resultado foi uma verdadeira terra arrasada no Ibovespa e nos mercados globais, que tiveram nesta segunda-feira (9) uma sessão de perdas massivas e forte valorização do dólar em relação às moedas de países emergentes.

Por aqui, o Ibovespa desabou mais de 10% logo na abertura, acionando pela primeira vez desde 2017 o chamado circuit breaker — um mecanismo que paralisa as negociações por 30 minutos, de modo a tentar conter a espiral negativa. Mas nem mesmo a pausa forçada foi capaz de parar o colapso da bolsa brasileira.

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Ao fim da sessão, o Ibovespa marcava 86.067,20 pontos, com uma impressionante queda de 12,17%. Trata-se da maior baixa diária desde 10 de setembro de 1998, quando o índice brasileiro fechou em queda de 15,82%, em meio à crise da Rússia.

Com o desempenho de hoje, o Ibovespa caiu ao menor patamar desde 27 de dezembro de 2018, quando marcava 85.460,21 pontos. Desde o início de 2020, o índice já acumula perdas de 25,58%.

Lá fora, o dia foi igualmente caótico. As principais praças acionárias da Europa recuaram mais de 7% e, nos Estados Unidos, o Dow Jones (-7,79%), o S&P 500 (-7,60%) e o Nasdaq (-7,29%) desabaram em bloco.

No mercado de câmbio, o dólar à vista disparou e fechou em forte alta de 1,95%, para R$ 4,7243 — e olha que, logo depois da abertura, a moeda americana chegou a subir 3,43%, a R$ 4,7927.

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Todas as divisas de países emergentes passaram por fortes desvalorizações nesta segunda-feira, com os agentes financeiros buscando opções mais seguras para investir. Por aqui, o dólar à vista agora acumula uma valorização de 17,76% desde o início o ano.

Guerra comercial, versão 2.0

Essa espiral negativa se deve ao derretimento nos preços do petróleo: o Brent com vencimento em maio caiu impressionantes 24,10%, a US$ 34,36, enquanto o WTI para abril desvalorizou 24,58%, a US$ 31,13 — mais cedo, ambos os contratos chegaram a despencar mais de 30%. É a maior queda diária da commodity desde a Guerra do Golfo.

A derrocada do petróleo é causada pela "guerra de preços" desencadeada pela Arábia Saudita. O governo de Riad desejava cortar a produção da commodity, de modo a se adequar a um cenário de menor demanda por causa do surto de coronavírus, mas a Rússia não aderiu ao plano — o que criou um impasse na Opep.

Assim, os sauditas resolveram tomar uma atitude drástica: anunciaram que vão vender petróleo com enormes descontos, derrubando os preços internacionais da commodity. A medida impacta diretamente a economia russa, no que parece ser uma estratégia para forçar Moscou a negociar.

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Mas a briga entre os dois países traz efeitos colaterais ao mundo todo e cria toda uma nova camada de incerteza em relação à economia global, que já vinha sendo afetada pelo surto de coronavírus. E, com dois fatores de risco no horizonte, os mercados operam em pânico.

As principais afetadas pela derrocada do petróleo foram, obviamente, as petroleiras. Em Nova York, as ações da BP despencaram 19,49%, enquanto os ativos da Exxon Mobil desabaram 9,79%.

Por aqui, Petrobras ON (PETR3) fechou em forte baixa de 28,95%, enquanto Petrobras PN (PETR4) derreteu 28,60% — os papéis da estatal brasileira já haviam recuado mais de 10% na última sexta-feira (6). Em duas sessões, a companhia perdeu R$ 125 bilhões em valor de mercado.

BC não faz nem cócegas

Em meio à escalada da moeda americana na semana passada, o Banco Central (BC) anunciou, ainda na noite de sexta-feira (6), que faria leilões extraordinários de dólar à vista já na abertura da sessão desta segunda.

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O que o BC não imaginava é que, durante o fim de semana, estouraria a nova crise do petróleo. Assim, por mais que a autoridade monetária tenha injetado US$ 3 bilhões no segmento à vista, a medida nem de longe serviu para acalmar os investidores.

Durante a tarde, a autoridade monetária fez mais um leilão no segmento à vista, injetando pouco menos de US$ 500 milhões — um esforço que, novamente, não conseguiu acalmar os ânimos dos investidores.

Com a nova disparada do dólar à vista, as curvas de juros fecharam em alta nesta segunda-feira. Mas, apesar da correção positiva, o mercado continua apostando em mais um corte na Selic na reunião da próxima semana.

Veja abaixo como ficaram os principais DIs nesta segunda-feira:

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Dia vermelho

Nenhum ativo do Ibovespa fechou em alta nesta segunda-feira. Veja abaixo as maiores quedas do índice hoje:

CÓDIGONOME PREÇO (EM R$)VARIAÇÃO
PETR4Petrobras PN16,22-28,95%
PETR3Petrobras ON17,18-28,60%
CSNA3CSN ON8,39-24,48%
MRFG3Marfrig ON8,60-23,62%
BPAC11BTG Pactual units47,21-18,07%
GGBR4Gerdau PN13,30-17,65%
GOAU4Metalúrgica Gedau PN6,27-17,50%
GOLL4Gol PN17,43-17,20%
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