Ibovespa sobe com ações mais enérgicas dos governos, mas não consegue ultrapassar os 75 mil pontos
O Ibovespa e as bolsas globais fecharam em alta, de olho nas iniciativas globais para barrar o avanço do coronavírus e conter os impactos à economia. A situação, contudo, segue preocupante

Quando li o livro "1929: Quebra da bolsa de Nova York", escrito pelo mestre Ivan Sant'Anna, uma análise do comportamento de Wall Street nos meses anteriores ao crash me chamou a atenção. Os mercados americanos entraram numa tendência de 'lower highs, higher lows' — algo como 'máximas menores, mínimas maiores'.
Ou seja: mesmo quando as bolsas começaram a cair, essa baixa não ocorria em linha reta, com quedas firmes sendo sucedidas por sessões mais tranquilas e otimistas.
No entanto, para cada dia ligeiramente positivo, havia uma sessão com baixas expressivas, de modo que os pregões de recuperação nunca apagavam as perdas do passado — e o saldo final ia ficando cada vez pior.
Veja bem: eu não estou tentando comparar o momento atual com a crise de 1929. A dinâmica do surto de coronavírus, a estrutura de organização da economia global, a maturidade dos mercados financeiros — tudo é absolutamente diferente do cenário visto no crash.
Mas é impossível não notar que o Ibovespa está repetindo esse comportamento de 'lower highs, higher lows'. Há sessões de alta — como a desta terça-feira (17), em que o índice subiu 4,85%, aos 74.617,24 pontos —, mas elas nem de longe conseguem interromper o viés de baixa.
Para entender melhor o conceito, eu fiz um gráfico mostrando o comportamento do Ibovespa desde o início de março. Veja que as altas nunca o recolocam no patamar anterior, apenas ficando pelo caminho; as baixas, contudo, vão empurrando o índice cada vez mais para baixo:
Leia Também

Os mercados globais também têm mostrado comportamento semelhante. A sessão de hoje foi marcada por uma recuperação dos índices da Europa e dos Estados Unidos — o Dow Jones subiu 5,20%, o S&P 500 avançou 5,99% e o Nasdaq teve alta de 6,23%. São ganhos que, em condições normais, encheriam os olhos.
No entanto, as condições estão muito longe da normalidade: vale lembrar que, apenas ontem, o Dow Jones caiu 12,93%, o S&P 500 teve perda de 11,98% e o Nasdaq fechou em baixa de 12,32%.
Novamente: não estou prenunciando qualquer tipo de colapso ainda mais acentuado dos mercados no futuro. Apenas estou alertando que a alta vista hoje não necessariamente sinaliza o início de uma retomada — especialmente em circunstâncias tão incertas quanto as atuais.
E o próprio mestre Ivan Sant'Anna — que infelizmente está confinado após retornar de uma viagem do exterior — também alerta para algo semelhante. Leia aqui a análise dele.
Ações enérgicas
Os investidores recebem bem as últimas iniciativas dos governos mundiais para tentar conter o avanço do coronavírus. Nos Estados Unidos, por exemplo, o governo Trump tem anunciado desde ontem pacotes de estímulo econômico e iniciativas para fortalecer o sistema de saúde do país.
Obviamente, a percepção de que a economia global será afetada fortemente não se dissipou com essas medidas, mas a postura diferente dos EUA — até agora, o alto escalão da Casa Branca mostrava certo desdém com o coronavírus — foi bem recebida pelo mercado.
Nesta terça-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deu mais um passo em direção ao auxílio da economia, anunciando um programa de US$ 10 bilhões para reforçar a disponibilidade de crédito para famílias e empresas.
- Eu gravei um vídeo para comentar esse movimento de recuperação visto nas bolsas globais. Veja abaixo:
No Brasil, também tivemos o lançamento de medidas de estímulo econômico. Ontem, o ministro Paulo Guedes anunciou um pacote de até R$ 147,3 bilhões para conter os impactos da doença, dos quais R$ 83,4 bilhões serão destinados à população mais vulnerável aos efeitos da crise.
Vale ressaltar que, dadas as fortes quedas vistas nas bolsas globais desde a semana passada, os níveis de preços de muitas ações caíram muito, o que naturalmente atrai investidores. E, considerando o noticiário mais animador, há quem opte por aumentar ligeiramente a posição em bolsa, apostando numa recuperação mais adiante.
No entanto, o bom desempenho visto nas bolsas globais nesta terça-feira não neutraliza as perdas relevantes contabilizadas ontem e na semana passada. Apenas no pregão de segunda-feira (16), o Ibovespa despencou quase 14%.
Mesmo com esse viés mais otimista visto hoje, a pandemia de coronavírus continua em primeiro plano para os mercados globais e ainda gera enorme preocupação. No mundo todo, já são mais de 7,8 mil mortos e cerca de 195 mil contaminados.
Além disso, tivemos hoje a confirmação da primeira morte por causa da doença no Brasil. Assim que a informação foi veiculada, a bolsa passou por um momento de instabilidade e chegou, inclusive, a aparecer no campo negativo. No entanto, levando em consideração o tom mais ameno visto lá fora, o Ibovespa conseguiu se recuperar.
Alívio no dólar, mas nem tanto
Após disparar quase 5% na sessão passada, o dólar à vista conseguiu algum alívio nesta terça-feira (17). A moeda americana até chegou a aparecer abaixo do nível dos R$ 5,00 no momento de maior calmaria, mas não conseguiu se sustentar nesses patamares.
Ao longo da sessão, a moeda americana oscilou entre os R$ 4,9610 (-1,81%) e os R$ 5,0857 (+0,66%) — um novo recorde nominal, em termos intradiários. Ao fim do dia, a divisa era negociada a R$ 5,0087, em baixa de 0,86%.
Analistas e operadores de câmbio destacam que houve uma certa correção no mercado de dólar, considerando a forte valorização da moeda americana na sessão passada e nos últimos dias. E esses ajustes foram desencadeados pela postura mais enérgica dos governos no combate ao surto de coronavírus.
Vale lembrar, ainda, que o BC promoveu um leilão de linha de até US$ 2 bilhões mais cedo, de modo a trazer algum alívio à moeda americana — iniciativa que foi eficaz para conter uma nova escalada da divisa americana.
Indecisão
Por aqui, os investidores continuaram apreensivos quanto ao futuro da Selic, em meio à postura agressiva do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Desde o início do mês, a autoridade dos EUA cortou os juros do país de maneira extraordinária em duas ocasiões, derrubando as taxas ao nível entre 0% e 0,25% ao ano.
Dada a influência do BC americano e de movimentos recentes por parte de outras autoridades monetárias do mundo, há a expectativa quanto a um corte semelhante por parte do Copom — a reunião que decidirá o futuro da Selic ocorrerá amanhã (18).
Muitos, inclusive, apostavam que o Copom também mexeria na Selic de forma extraordinária, o que não se concretizou. O argumento global para esse novo ciclo de alívio nos juros é o fornecimento de estímulo à economia, num esforço para reduzir os impactos do surto da doença.
No entanto, há quem acredite que mais cortes de juros não surtirão o efeito desejado, uma vez que a crise do coronavírus cria um gargalo na oferta, e não na demanda. Além disso, há a questão da cotação do dólar: mais reduções na Selic fatalmente trarão ainda mais pressão ao câmbio.
No front das curvas de juros, os vencimentos mais curtos continuaram em baixa, evidenciando que o mercado está convencido de que o BC irá sim cortar a Selic. Veja abaixo como ficaram os principais DIs:
- Janeiro/2021: de 3,84% para 3,60%;
- Janeiro/2022: de 4,92% para 4,45%;
- Janeiro/2023: de 5,93% para 5,38%;
- Janeiro/2025: de 7,08% para 6,59%.
Top 5
Saiba quais foram as cinco maiores altas do Ibovespa hoje:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
RAIL3 | Rumo ON | 16,60 | +14,01% |
CRFB3 | Carrefour Brasil ON | 19,80 | +12,50% |
COGN3 | Cogna ON | 5,91 | +11,72% |
NTCO3 | Natura ON | 27,84 | +11,36% |
BBSE3 | BB Seguridade ON | 26,67 | +10,76% |
Confira também as maiores baixas do índice no momento:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
SMLS3 | Smiles ON | 16,56 | -7,74% |
VVAR3 | Via Varejo ON | 7,04 | -6,88% |
CVCB3 | CVC ON | 9,95 | -4,33% |
SULA11 | SulAmérica units | 30,58 | -3,69% |
GOLL4 | Gol PN | 7,78 | -3,24% |
Rodolfo Amstalden: Falta pouco agora
Depois de lambermos a lona no início de janeiro, a realidade acabou se mostrando um pouco mais piedosa com o Kit Brasil
Gafisa (GFSA3) recebe luz verde para grupamento de 20 por 1 e ação dispara mais de 10% na bolsa
Na ocasião em que apresentou a proposta, a construtora informou que a operação tinha o intuito de evitar maior volatilidade e se antecipar a eventuais cenários de desenquadramento na B3
Balanço da Weg (WEGE3) frustra expectativa e ação despenca 10% na bolsa; o que fazer com a ação agora
Lucro líquido da companhia aumentou 16,4% na comparação anual, mas cresceu menos que o mercado esperava
Santander (SANB11) divulga lucro de R$ 3,9 bi no primeiro trimestre; o que o CEO e o mercado têm a dizer sobre esse resultado?
Lucro líquido veio em linha com o esperado por Citi e Goldman Sachs e um pouco acima da expectativa do JP Morgan; ações abriram em queda, mas depois viraram
Mexendo o esqueleto: B3 inclui Smart Fit (SMFT3) e Direcional (DIRR3) na última prévia do Ibovespa para o próximo quadrimestre; veja quem sai para dar lugar a elas
Se nada mudar radicalmente nos próximos dias, as duas ações estrearão no Ibovespa em 5 de maio
Alguém está errado: Ibovespa chega embalado ao último pregão de abril, mas hoje briga com agenda cheia em véspera de feriado
Investidores repercutem Petrobras, Santander, Weg, IBGE, Caged, PIB preliminar dos EUA e inflação de gastos com consumo dos norte-americanos
Azul (AZUL4) volta a tombar na bolsa; afinal, o que está acontecendo com a companhia aérea?
Empresa enfrenta situação crítica desde a pandemia, e resultado do follow-on, anunciado na semana passada, veio bem abaixo do esperado pelo mercado
Para Gabriel Galípolo, inflação, defasagens e incerteza garantem alta da Selic na próxima semana
Durante a coletiva sobre o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do segundo semestre de 2024, o presidente do Banco Central reafirmou o ciclo de aperto monetário e explicou o raciocínio por trás da estratégia
Quando o plano é não ter plano: Ibovespa parte dos 135 mil pontos pela primeira vez em 2025 em dia de novos dados sobre mercado de trabalho dos EUA
Investidores também se preparam para o relatório de produção e vendas da Petrobras e monitoram entrevista coletiva de Galípolo
Trump quer brincar de heterodoxia com Powell — e o Fed que se cuide
Criticar o Fed não vai trazer parceiros à mesa de negociação nem restaurar a credibilidade que Trump, peça por peça, vem corroendo. Se há um plano em andamento, até agora, a execução tem sido tudo, menos coordenada.
Tony Volpon: EUA, novo mercado emergente
Não tenham dúvidas: chegamos todos na beira do abismo neste mês de abril. Por pouco não caímos.
Azul (AZUL4) chega a cair mais de 10% (de novo) e lidera perdas do Ibovespa nesta segunda-feira (28)
O movimento de baixa ganhou força após a divulgação, na última semana, de uma oferta pública primária
Copom busca entender em que nível e por quanto tempo os juros vão continuar restritivos, diz Galípolo, a uma semana do próximo ajuste
Em evento, o presidente do BC afirmou que a política monetária precisa de mais tempo para fazer efeito e que o cenário internacional é a maior preocupação do momento
Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços
Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana
Ibovespa: Dois gatilhos podem impulsionar alta da bolsa brasileira no segundo semestre; veja quais são
Se nos primeiros quatro meses do ano o Ibovespa tem atravessado a turbulência dos mercados globais em alta, o segundo semestre pode ser ainda melhor, na visão estrategista-chefe da Empiricus
Se errei, não erro mais: Google volta com o conversor de real para outras moedas e adiciona recursos de segurança para ter mais precisão nas cotações
A ferramenta do Google ficou quatro meses fora do ar, depois de episódios nos quais o conversor mostrou a cotação do real bastante superior à realidade
OPA do Carrefour (CRFB3): de ‘virada’, acionistas aprovam saída da empresa da bolsa brasileira
Parecia que ia dar ruim para o Carrefour (CRFB3), mas o jogo virou. Os acionistas presentes na assembleia desta sexta-feira (25) aprovaram a conversão da empresa brasileira em subsidiária integral da matriz francesa, com a consequente saída da B3
Vale (VALE3) sem dividendos extraordinários e de olho na China: o que pode acontecer com a mineradora agora; ações caem 2%
Executivos da companhia, incluindo o CEO Gustavo Pimenta, explicam o resultado financeiro do primeiro trimestre e alertam sobre os riscos da guerra comercial entre China e EUA nos negócios da empresa
JBS (JBSS3) avança rumo à dupla listagem, na B3 e em NY; isso é bom para as ações? Saiba o que significa para a empresa e os acionistas
Próximo passo é votação da dupla listagem em assembleia marcada para 23 de maio; segundo especialistas, dividendos podem ser afetados
Vai dar zebra no Copom? Por que a aposta de uma alta menor da Selic entrou no radar do mercado
Uma virada no placar da Selic começou a se desenhar a pouco mais de duas semanas da próxima reunião do Copom, que acontece nos dias 6 e 7 de maio