Mesmo diante de uma situação mais complicada para os nossos vizinhos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem (1) em entrevista ao jornal O Globo que o "timing político" começa a mudar, mas que a agenda liberal não será paralisada "de forma alguma".
"Se nós acelerarmos as reformas agora, os frutos estarão colhidos ali na frente. Mas digo isso como economista. Agora, tem também o processamento político das reformas. Nós estávamos em um caminho. E aí, de repente, começa a confusão na América Latina . Bagunça, desordem, aí o timing politico começa a mudar", destacou Guedes.
Ele ainda comentou que é "falso dizer que o presidente não apoia a reforma administrativa" e que "quando você bota quatro reformas, pelo menos uma começa a fazer bagunça".
Ainda assim, Guedes disse que o timing político não levará a uma paralisação das outras reformas. Ele afirmou que "o pacto federativo tem três relatores trabalhando à máxima capacidade. Fora isso, a Câmara tem uma agenda fortíssima. O (presidente da Câmara) Rodrigo Maia está mandando o projeto de lei do saneamento , feito pelo (senador) Tasso Jereissati (autor da proposta), que é fundamental. É uma das reformas mais importantes para o país".
O ministro da Economia disse ainda que o marco regulatório do saneamento vai trazer milhões em investimento e que ele é ideal para o Brasil porque o país está sem recursos. "O estado brasileiro está quebrado. Com essa lei, em cinco ou seis anos acaba o problema do saneamento básico no Brasil", destaca.
Segundo ele, não há dúvida de que quanto mais rápido as reformas forem implementadas, mais rápido o país retoma o caminho do crescimento sustentável e mais baixo é o risco de acontecer o que aconteceu na Argentina. Com isso, a expectativa do ministro é que o país consiga crescer 1% este ano, 2% no ano que vem, 3% no seguinte e 4% no último ano.
Juros do cheque especial
Já ao tratar sobre a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) que estabeleceu limites aos juros do cheque especial, Guedes disse que a agenda é do Banco Central e que achou uma "esculhambação" o projeto, mas que terminou convencido de que isso não diverge dos preceitos liberais.
"Então minha reação inicial há cinco meses foi: Campos, cuidado onde você está indo... Ele então argumentou que não era tabelamento e sim a redefinição do produto: “Eu sei onde nós bancos estamos fazendo a maldade. Eu vou desmontar a maldade”, destacou o ministro.
Ele ainda explicou que, ao conversar com Roberto Campos Neto, ele disse que quem é muito rico tem um cheque especial de R$ 1 milhão, mas que não usa. E que há o pobre que usa toda hora, porém possui um limite pequeno porque o produto é analisado conjuntamente.
Segundo Guedes, a ideia de estabelecer um limite máximo existe nos Estados Unidos, na França e em outros países onde também há abusos.
Estatais
Ao comentar sobre as estatais, Guedes disse que o STF teve um movimento importante ao definir uma regra clara para facilitar a venda de todas as subsidiárias e que apenas a venda da empresa-mãe terá de ser levada para o Legislativo.
"Isso é bom porque criou um marco jurídico. Neste primeiro ano, a meta era de R$ 80 bilhões porque sabíamos que seria difícil. Então, voltando à pergunta: o objetivo de privatização é difícil? Sim. Mais difícil do que eu esperava? Sim. De onde está vindo a dificuldade? No primeiro ano cumprimos a meta", pontuou.