Terceiro choque do petróleo? O que a gente compra?
Quando entra um risco de cauda no jogo, todas as peças do tabuleiro precisam ser reposicionadas. Não estamos mais num mundo bem-comportado. Não sabemos o que vai acontecer, o que não significa que não temos nada a fazer

“Entrai pela porta estreita; porque larga é porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela;
E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.”
Mateus 7:13,14
Eu poderia começar dizendo que é muito prematura qualquer inferência sobre o comportamento futuro dos preços do petróleo, hoje o principal assunto para os mercados em nível global. De fato, seria verdade.
Quem sabe haveria espaço para tomar emprestadas as palavras dos analistas Abhishek Deshpande e Shakil Begg, do JPMorgan Chase, que sugerem que preços do petróleo até 90 dólares por barril têm efeito líquido positivo para o crescimento global. Ou, eventualmente, até resgataria a constatação de Ben Bernanke, que identificou uma correlação positiva a partir de 2008 entre os retornos mensais do S&P 500 (o principal índice da Bolsa de Nova York) e os preços do óleo bruto.
Ainda no sentido de tentar minimizar qualquer possibilidade de pânico, complementaria identificando um salto percentual muito superior nos choques anteriores da commodity, em 1973 e 1979, como mostra o gráfico abaixo:
Leia Também
Também poderia afirmar que, em não havendo novas surpresas, a produção deveria se normalizar nas próximas semanas, com consequente acomodação dos preços. O cenário de desaceleração global, a possibilidade de uso de estoques estratégicos e a retomada expressiva da produção de xisto nos EUA, viabilizada com preços mais altos da commodity, sugerem dificuldade para o petróleo se manter em níveis elevados por mais tempo.
Todas as considerações poderiam ser pertinentes, admitidas como “normais”, aqui no sentido de gaussianas, lineares e bem comportadas. Ocorre que os fenômenos sociais e geopolíticos obedecem a outro tipo de distribuição e de lógica — se é que há alguma lógica neles.
Recorrendo mais uma vez a Nassim Taleb — não há como fugir de si mesmo e daquilo em que se acredita —, “start looking from the tail”, ou seja, comece pensando pela cauda, pelos eventos considerados improváveis, mas que, muitas vezes, podem ter efeitos brutais e definir toda uma trajetória.
Quando se está diante de um potencial evento considerado raro e cujas consequências podem ser devastadoras, você não pode pensar apenas com a expectativa de consenso, contemplando apenas o cenário de maior probabilidade. Você seria um habitué da ponte aérea se a probabilidade de queda dos aviões fosse de “apenas” 10 por cento? Lembre-se de que um habitué voa mais de dez vezes por ano.
Eis um alerta importante para quem venera as Finanças Comportamentais e acha tão descoladinho o conceito de aversão à perda identificado por Daniel Kahneman e Amos Tversky: só há uma única definição possível de racionalidade e ela se liga à ideia de sobrevivência.
Quando você vê um indivíduo sendo avesso ao risco diante de uma situação de lucros potenciais e disposto ao risco num cenário de prejuízos ou ferimentos potenciais, isso nada tem a ver com vieses cognitivos ou desafios à racionalidade estrita. Isso se liga exclusivamente à sobrevivência e é perfeitamente racional.
Hoje, estando saudável e lendo essas pobres linhas, você aceitaria ser cobaia de um tratamento promissor para o câncer de pâncreas que, no entanto, também traria riscos de severos efeitos colaterais? Provavelmente, você não toparia, sendo avesso ao risco.
Agora, eu pergunto: e se você estivesse acometido por um câncer de pâncreas, já flertando com estado terminal? Não parece razoável topar a mesma proposta nesse caso. Se você está sob real ameaça, é natural assumir uma postura em favor do risco, porque a sobrevivência está em jogo. E, obviamente, há um corolário dessa construção: nenhuma estratégia que envolva risco de sobrevivência deve ser adotada, independentemente do benefício potencial.
Por que estou falando tudo isso? Porque entrou um risco de cauda na história, que se liga a um eventual recrudescimento das relações entre EUA e Irã, cujas consequências extremas poderiam levar a um fechamento, mesmo que parcial, do Estreito de Ormuz.
É uma pequena extensão, de 54 quilômetros de largura mínima e com trecho mais largo inferior a 100 quilômetros, mas representa um dos mais estratégicos “choke points” do planeta, por onde passam diariamente até 19 milhões de barris de óleo por dia. Isso significa cerca de um terço do petróleo negociado por mar do mundo e aproximadamente 1,2 bilhão de dólares em valor.
Veja: não se trata do cenário mais provável, nem tampouco da minha expectativa central. Mas o quadro precisa ser considerado, porque o Irã exerce importante influência na área, podendo afetar dramaticamente como uma espécie de “cartada final”.
Quando entra um risco de cauda no jogo, todas as peças do tabuleiro precisam ser reposicionadas. Não estamos mais num mundo bem-comportado. Não sabemos o que vai acontecer, o que não significa que não temos nada a fazer.
A medida imediata a se tomar é montar uma posição em ouro. Seguro clássico contra um eventual problema geopolítico. Representa escassez, reserva de valor e unidade de conta supranacional. Ademais, se o choque do petróleo for inflacionário, isso representa perda de valor da moeda fiduciária, o que também sugere ativos físicos, como o ouro, para cima. E já se o impacto maior for sobre a atividade econômica, os bancos centrais vão reagir cortando ainda mais os juros e empurrando os ativos para a profundidade do terreno negativo, aumentando a atratividade relativa daquilo que tem yield zero (de novo, como o ouro).
“Ah, mas e se não tiver guerra?” Tudo bem também, porque o metal precioso já vem subindo. Ele não depende da materialização do cenário de cauda para se valorizar, entende? Se vier, apenas fica como catálise adicional.
E a outra atitude parece um tanto óbvia. Pode até ser em termos estritamente pragmáticos, mas as razões efetivas talvez não sejam tanto. Entendo que devemos ter Petrobras e PetroRio em carteira. Não necessariamente porque tenho expectativa de preços do petróleo ascendentes. A verdade é que, a esta altura, ninguém sabe ainda o que vai acontecer com os preços da commodity.
O ponto é que essas ações gozam de valuation atrativo e drivers interessantes, sem depender de uma escalada adicional do petróleo para estarem atrativas. Possivelmente ainda mais interessante seja o fato de que a recente conjuntura do setor, embora recheada de dúvidas e incerteza, parece ter afastado um quadro de petróleo abaixo de 55 dólares por barril no horizonte tangível. Então, tendo isso como piso, a margem de segurança para comprar esses dois papéis aumenta significativamente. Podemos ter um pouco mais de convicção de que as certezas estarão no campo positivo.
Mercados
Mercados iniciam a terça-feira em clima predominantemente negativo. Ainda pesam as incertezas em torno do futuro do setor de petróleo, além de haver certa cautela na véspera da conclusão das reuniões do Fed e do Copom. Alguma frustração com a falta de novidades da política monetária na China também impede maior disposição ao risco.
Agenda local é bastante tímida, enquanto nos EUA a produção industrial chama a atenção.
Ibovespa Futuro abre em baixa de 0,72 por cento, dólar e juros futuros sobem.
Show de talentos na bolsa: Ibovespa busca novos recordes em dia de agenda fraca
Ibovespa acaba de renovar sua máxima histórica em termos nominais e hoje depende do noticiário corporativo para continuar subindo
Ibovespa dispara quase 3 mil pontos com duplo recorde; dólar cai mais de 1% e fecha no menor patamar em sete meses, a R$ 5,60
A moeda norte-americana recuou 1,32% e terminou a terça-feira (13) cotada a R$ 5,6087, enquanto o Ibovespa subiu 1,74% e encerrou o dia aos 138.963 pontos; minério de ferro avançou na China e CPI dos EUA veio em linha com projetado
Nada de gastança na Petrobras (PETR4): Presidente da estatal fala em enxugar custos diante da queda do preço internacional do petróleo
Em teleconferência de resultados, a CEO Magda Chambriard destacou comprometimento com a austeridade da companhia — mas capex não deve cair
Um acordo para buscar um acordo: Ibovespa repercute balanço da Petrobras, ata do Copom e inflação nos EUA
Ibovespa não aproveitou ontem a euforia com a trégua na guerra comercial e andou de lado pelo segundo pregão seguido
O prejuízo ficou para trás: Petrobras (PETR4) tem lucro 48,6% maior no 1T25, investe 29% a menos do que no 4T24 e paga R$ 11,72 bilhões em dividendos
Entre janeiro e março, o lucro líquido da estatal subiu para R$ 35,209 bilhões em base anual; as projeções indicavam R$ 28,506 bilhões
Exportadoras carregam o Ibovespa: Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3) sobem até 3% com acordo comercial entre EUA e China
Negociação entre EUA e China melhora as perspectivas de demanda por commodities no mundo e faz exportadoras terem um dia do alívio na bolsa
Trégua entre EUA e China acende o pavio das petroleiras e impulsiona ações de commodities
Depois de atingirem as menores cotações desde 2021, os contratos futuros do petróleo Brent sobem mais de 3% e levam as petroleiras junto
Todo mundo de olho na Petrobras (PETR4): capex pode ser o grande vilão do trimestre e comprometer dividendos bilionários
De acordo com analistas, a grande questão da estatal entre janeiro e março deste ano é o investimento — e como isso pode atingir as expectativas de alcançar um dividend yield acima de 10% no ano
A Petrobras (PETR4) não para: estatal anuncia novos poços na Bahia e retomada de fábricas de fertilizantes
A petroleira voltou a explorar na Bahia depois de seis anos e prevê a perfuração de 100 poço no estado em cinco anos
Petrobras (PETR4) anuncia descoberta de petróleo de excelente qualidade na Bacia de Santos
O achado faz parte do Plano de Avaliação de Descoberta (PAD) e ainda terá mais dois poços perfurados, com realização de teste de formação
Não há escapatória: Ibovespa reage a balanços e Super Quarta enquanto espera detalhes de acordo propalado por Trump
Investidores reagem positivamente a anúncio feito por Trump de que vai anunciar hoje o primeiro acordo no âmbito de sua guerra comercial
Duas ações para os próximos 25 anos: gestores apostam nestes papéis para sobreviver ao caos — e defendem investimentos em commodities
No TAG Summit 2025 desta quarta-feira (7), os gestores destacaram que a bolsa brasileira deve continuar barata e explicaram os motivos para as commodities valerem a pena mesmo em meio à guerra comercial de Trump
Prio (PRIO3) divulga resultados dentro do esperado pelos analistas, mas ações caem 2%; entenda o motivo
Segundo XP e BTG, os dados que importam são o Ebitda e o fluxo de caixa livre — e ambos mostram que a empresa tem fôlego para a operação
Bola de cristal monetária: Ibovespa busca um caminho em dia de Super Quarta, negociações EUA-China e mais balanços
Investidores estão em compasso de espera não só pelas decisões de juros, mas também pelas sinalizações do Copom e do Fed
É recorde: Ações da Brava Energia (BRAV3) lideram altas do Ibovespa com novo salto de produção em abril. O que está por trás da performance?
A companhia informou na noite passada que atingiu um novo pico de produção em abril, com um aumento de 15% em relação ao volume visto em março
Expectativa e realidade na bolsa: Ibovespa fica a reboque de Wall Street às vésperas da Super Quarta
Investidores acompanham o andamento da temporada de balanços enquanto se preparam para as decisões de juros dos bancos centrais de Brasil e EUA
Banqueiros centrais se reúnem para mais uma Super Quarta enquanto o mundo tenta escapar de guerra comercial permanente
Bastou Donald Trump sair brevemente dos holofotes para que os mercados financeiros reencontrassem alguma ordem às vésperas da Super Quarta dos bancos centrais
Em viagem à Califórnia, Haddad afirma que vai acelerar desoneração de data centers para aumentar investimentos no Brasil
O ministro da Fazenda ainda deve se encontrar com executivos da Nvidia e da Amazon em busca de capital estrangeiro para o País
Petrobras anuncia nova redução de 4,6% no preço do diesel nas refinarias
O reajuste segue outras duas reduções recentes, de 3,3% em 18 de abril e também de 4,6% em 1º de abril
Espírito olímpico na bolsa: Ibovespa flerta com novos recordes em semana de Super Quarta e balanços, muitos balanços
Enquanto Fed e Copom decidem juros, temporada de balanços ganha tração com Itaú, Bradesco e Ambev entre os destaques