Semana decisiva? Ou small caps: algumas instruções
Uma das coisas mais difíceis para um aconselhador financeiro (será que posso me definir assim, dessa forma cafona?) é convencer o investidor a não fazer nada. Eis a hercúlea tarefa para a semana.

Quase posso sentir o cheiro de ansiedade no ar. Há uma tensão latente. Todos querem saber o que vem por aí, naquela que é, possivelmente, a semana mais recheada de indicadores relevantes do ano.
O olfato não basta. Testam-se os demais sentidos também. Enquanto tentava abaixar meu próprio tempo e retirar do corpo o vinho ingerido na noite anterior — não necessariamente nessa mesma ordem —, encontrei uma invasão auditiva: “Esta semana define tudo, né?”.
Como a tentativa naquele momento era apenas sobreviver (o que consegui por pequena margem), devolvi: “Uhum. Loucura. Define tudo. Tudinho”.
Ele insistiu com outras perguntas, encontrando respostas ainda mais lacônicas. Desculpe. Pareceu falta de educação, eu sei — e eu me preocupo bastante com isso. Mas, naquele momento, eu juro, era tudo que poderia fazer.
No final, ele conseguiu o que queria: minha visão para os mercados. Eu pude perceber que, se aquele era o sentimento de um empresário de futebol que tratava a Bolsa como uma espécie de terapia ocupacional, a mesma interpretação poderia ser mais geral.
Volatilidade
A semana pode, de fato, conferir mais volatilidade aos mercados. Poucas vezes tivemos uma concentração tão grande de referências relevantes. Como maior destaque, temos a batizada “super quarta”, com Fed e Copom atualizando suas respectivas taxas de juro — nos EUA, deve vir um corte de 25 pontos-base; aqui, os economistas se dividem entre uma redução de 25 e 50 pontos, enquanto os traders (sempre mais ligeiros e ganhadores de dinheiro) estão mais para 0,5 ponto percentual. No mesmo dia, EUA e China retomam formalmente negociações comerciais.
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Temos outras referências ainda dentro da política monetária. Banco do Japão e Banco da Inglaterra também seu reúnem para discutir o juro básico de suas economias. Ampliando o escopo, saem também o importante Relatório de Emprego nos EUA, o PCE (medida de inflação preferida do Fed), PMI na China e PIB da Zona do Euro.
Por aqui, esfera corporativa ganha destaque, com temporada de balanços trimestrais pegando fogo — Vale, Petrobras e Itaú estão entre os nomes de maior peso soltando resultados financeiros. Está bom para você?
Estão todos preocupados com esse futuro de curto prazo. O que seria da semana diante de tanta novidade? Eu estou mesmo é interessado no passado, estimulado por um sentimento de nostalgia.
Etimologicamente, nostalgia vem de “nostos”, uma espécie de volta para casa, reencontro; e “algos”, que significa dor, sofrimento. É uma saudade idealizada, como se sonhássemos em voltar a um passado que não necessariamente existe mais. A nostalgia é diferente da saudade, porque ela é inexoravelmente platônica, não pode ser endereçada a partir do encontro do alvo desejado. Fora de Hollywood, ainda não inventaram o nosso DeLorean.
Filho do Bull market
Eu comecei formalmente no mercado financeiro no final de 2003. Já acompanhava Bolsa antes disso, por razões pessoais e familiares. Mas aquele foi o ano de meu ingresso na atividade profissional, no Deutsche Bank, na época do Daniel Gleizer. Durei pouco no Deutsche — curioso como o próprio Deutsche talvez não dure muito —, mas jamais deixei as finanças.
Aquele começo foi uma delícia. Ganhei o apelido típico da época: “filho do bull market”. De fato, surfei toda aquela onda deliciosa de 2003 a 2007 — como tinham gênios à época. Como tudo que você comprava subia, a Paulista (ainda era relevante naquele momento), a Berrini e a Faria Lima mais pareciam a Liga da Justiça… era a maior concentração de super-heróis por metro quadrado do mundo. Pegamos aquela porrada do IPO da Natura em maio de 2004 e toda a reabertura do mercado que se seguiu. Um ano depois, veio Localiza — outra porrada seca.
Vi todas aquelas multiplicações das ações. Small caps subindo 10 vezes, fundos de ações sendo criados a cada semana (e com fama de fazer puxeta nas microcaps ao final de cada semestre para garantir performance; alguns devolveram tudo depois, mas pouco importava), a delícia do ciclo de commodities (que maravilha aquelas CAEMIs)...
Aquilo, sim, era vida. Como sinto falta. Hoje, somam-se reuniões, definições de metas, feedbacks, insatisfações com os bônus (por maiores que eles venham a ser, sempre rola pau, não adianta), gerenciamento de egos, necessidade inspiracional, contratos… ora, ora, participar mais ativamente do bull market era tão mais legal. Meus 20 anos de boy… that’s over, baby!
Seria mesmo nostalgia ou saudade? Nós nos preocupamos com o rigor dos termos aqui, com a precisão semântica. Sabe, eu acho que talvez a gente vá voltar àqueles tempos. Metaforicamente, claro.
Esta é a minha verdadeira resposta para a semana. Em vez de se perder em filigranas e nervuras das folhas, dê um passo atrás e tente observar a floresta como um todo. O comportamento dos mercados no curto prazo é absolutamente randômico e aleatório. Eu não faço a menor ideia do que vai ser o Fed. Suspeito que o Copom vá reduzir a Selic em 50 pontos-base, mas nem acho isso, em si, tão relevante (importa muito mais a manutenção do juro baixo por bastante tempo, para mudar as coisas em seu caráter estrutural e não apenas circunstancial). Também não tenho a menor ideia sobre o Employment Report, nem dos resultados de Itaú, Vale e Petrobras — desconfie fortemente de quem tiver. As piores pessoas no mercado financeiro são aquelas que acham que sabem — viram um mapa errado… e mapas errados… bem, você já sabe.
“Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro — dá gosto! A força dele, quando quer — Moço! — me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho — assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza.”
Desconfio que as ações andem mesmo com os lucros corporativos. Esses são os verdadeiros drivers para as cotações que piscam no seu home broker. Na verdade, não é uma mera desconfiança. Trata-se de observação empírica e de constatação feita por gente mais jovem do que eu, mas com um futuro promissor pela frente. Como resume Warren Buffett, “se um negócio vai bem, as ações acabam seguindo no final”.
Independentemente desse ou daquele indicador pontual, entraremos na fase do ciclo econômico no Brasil, sobretudo a partir do final deste ano, de aceleração dos lucros corporativos. Aqui, vivemos o “early cycle” de uma prolongada recuperação que nos aguarda, depois da maior destruição da história republicana brasileira. Ou seja, apenas para voltarmos ao patamar anterior à crise, precisaríamos de anos e anos de expansão econômica, o que significaria explosão dos lucros corporativos e, por conseguinte, das ações.
Somam-se a isso os juros em sua mínima histórica por muito tempo, o fato de que ninguém ainda tem Bolsa no Brasil e os juros em patamares negativos lá fora.
Volatilidade ≠ Risco
Nada do que venha a sair nesta semana pode, materialmente, derrubar esses pilares. Os indicadores têm potencial, sim, para trazer volatilidade aos negócios. Agora, como sabemos, volatilidade é bem diferente de risco, entendido como chance de perda permanente do capital.
Estamos num bull market e, em momentos como esse, você ganha dinheiro apenas comprando e ficando parado, à espera da materialização do ciclo econômico e empresarial que transcorre à sua frente. O resto é ruído. Se você ficar tentando tradar esse ou aquele indicador, essa ou aquela semana, como se pudesse antever com precisão pontos máximos de entrada e mínimos de saída, diminuem suas chances de dar certo.
Chamo atenção para um fato novo: o mercado começa a dar mais atenção para as small caps. Pela primeira vez, vi uma ênfase maior a essa classe de ativos. Em relatório da semana passada confeccionado pelo Itaú BBA, de título “The Bull Market is Back”, aparece lá: “Em períodos de maior liquidez, investidores tendem a ficar mais interessados em small caps, que, portanto, tendem a superar a performance do Ibovespa”.
Nos últimos dez anos, tivemos o período de otimismo entre 2009 e 2010, quando o índice SMAL subiu 190 por cento, contra 76 por cento do Ibovespa. Já no bear market de 2011 a 2016, o Ibovespa perdeu 10 por cento, enquanto o SMAL cedeu 16 por cento. De 2017 até agora, o SMAL sobe 80 por cento, frente a 60 por cento do Ibovespa.
Eu não acho que posso oferecer-lhe um guia para esta semana. Mas, talvez, possa lhe passar algumas instruções para o uso devido de small caps.
A esta altura, a primeira instrução parece um tanto tautológica. Monte uma posição razoável nessa classe de ativos, diversificada e alinhada ao seu perfil de risco.
Feito isso, tire umas férias. Como já dito, precisamos esperar a volta dos lucros corporativos. Isso exige tempo. A paciência será recompensada com ganhos das ações que sempre superam nossas estimativas iniciais — temos uma cabeça linear para um mundo exponencial.
Lembre-se de que, ao ir para as small caps, você está adentrando um ambiente de maior risco (e, claro, maior retorno potencial também). Vai ser normal acontecer um ou outro erro aqui. É fundamental admitir certos equívocos. Você não vai acertar todas. Aqui, tudo que você precisa é de um grande acerto. Ele vai pagar a conta de vários erros. Uma única valorização de 1.000 por cento compensa nove erros de 100 por cento.
Se você é um gestor de ações, lute contra o próprio preconceito. Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça, eu sei. Como muitos FIAs foram dizimados pelo ciclo ruim das small caps entre 2010 e 2016, alguns simplesmente desistiram dessa classe de ativos. Não confunda um ciclo ruim com uma classe supostamente ruim. Se, como você muito bem sentiu na pele, as small caps andam pior no bear market (de fato, andam), não seria intuitivo assumir que andam melhor no bull market? O seu CAPM deve cuspir o mesmo componente beta para os dois lados. Em outras palavras, a hipersensibilidade às condições sistêmicas aqui existe, para cima e para baixo.
Por fim, tente entender um pouco da dinâmica das small caps, para controlar sua ansiedade e permanecer sempre comprado, sabendo que as altas não acontecem todos os dias. Normalmente, as caminhadas em Bolsa não são lineares, nem graduais. Com as small caps, isso acontece com ainda maior intensidade. Como pouca gente cobre, há poucas notícias circulando no mercado e menos investidores têm posição, elas costumam ficar paradas por um tempão; às vezes, até vão caindo marginalmente com a passagem do tempo. Até que, subitamente, acontece alguma notícia e elas saltam 50 por cento, 60 por cento em, sei lá, 40 dias. A trajetória aqui é absolutamente não linear, em saltos súbitos e gigantescos, do dia para a noite. Como você nunca sabe quando essa cabrita vai pular, você fica comprado, pacientemente. Se você quer uma lista das nossas microcaps favoritas, Max Bohm tem feito um trabalho espetacular para identificar grandes potenciais de valorização.
Uma das coisas mais difíceis para um aconselhador financeiro (será que posso me definir assim, dessa forma cafona?) é convencer o investidor a não fazer nada. Eis a hercúlea tarefa para a semana.
Mercados
Mercados iniciam a segunda-feira próximos à estabilidade, alternando leves altas e baixas, enquanto aguardam indicadores da semana e relatórios corporativos. Na agenda doméstica, Relatório Focus trouxe revisões para baixo nas estimativas para Selic em 2020. Dados fiscais do setor público consolidado e balança comercial completam as referências do dia.
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