O que você precisa de fato entender na hora de investir seu dinheiro
Nos mercados mundo afora, pouco importa se você é um expert da tecnologia ou das commodities. Na hora H, o que vale mesmo é saber de preço

Certa ocasião, nos anos 1990, fui convidado pelos diretores de uma cooperativa de produtores agrícolas do município de Rio Verde, em Goiás, para fazer uma palestra sobre o mercado futuro de soja, negociado na Chicago Board of Trade, Bolsa onde eu atuava como broker e trader. Eles queriam saber como fazer hedge de suas safras.
Acertada minha paga e recebida a passagem, viajei para lá. Fui recebido no aeroporto de Goiânia por um japonês (ou nissei), dirigente da cooperativa, que me levou em seu carro pelos 232 quilômetros que separam as duas cidades.
Já quase chegando ao destino, e em um dos inúmeros trechos onde o asfalto da BR-060 corta campos agrícolas a perder de vista, me deslumbrei com o verde da lavoura (era quase época de colheita) e disse para o meu companheiro de viagem:
“Caramba, como estão bonitos os pés de soja.”
Era milho! E a diferença entre uma fileira de pés de milho, com quase dois metros de altura, e uma plantação de soja, que parece um amontoado de ervas daninhas, é mais ou menos como a diferença entre um rebanho de bois e um de ovelhas.
“É milho”, corrigiu o japonês, sem disfarçar sua decepção.
Leia Também
Suponho que, antes da palestra, ele tenha dito aos demais cooperativados que o “professor” não sabia distinguir um milharal de uma cultura de soja. Por isso minha fala não provocou muito entusiasmo nem rendeu aplausos prolongados no final. Mas foi boa, pois ensinei as técnicas de hedge. Falei tudo que sabia a respeito de preço de soja e de como garantir o lucro da safra seguinte.
Preço! É disso que traders e analistas precisam entender.
Não há necessidade de estudar geologia para analisar ações da Vale nem visitar canaviais para comprar ou vender açúcar no mercado futuro de Nova York. Basta (e, falando assim, parece simples, mas não é) saber avaliar se o preço está alto, baixo ou justo. E é esse quesito (análise de preços) que propicia as grandes tacadas e os tombos desmoralizantes.
Antes de mais nada, os investidores, operadores de mercado e gestores de fundos são eternos insatisfeitos. Se compram, por exemplo, determinado ativo a 13 e o mercado sobe para 14, 15, 16, 17 e eles liquidam a posição, ficam arrasados se a cotação continua subindo: 18, 19, 20, 21, 22 e assim por diante.
“Eu sou uma anta, mão fraca”, o cara comenta. “Não podia ter saído a 17”, choraminga o profeta do passado.
Mas digamos que nosso trader, num rasgo genial, comprou sua posição na mínima, a 13, e vendeu na máxima, a 22. Ele sai dando cambalhotas? Nada disso.
“Comprei um lote muito pequeno”, o operador se tortura. “A posição poderia ter sido no mínimo três vezes maior.”
Vamos agora imaginar que o cara seja uma fera e tenha aplicado todas as suas reservas naquele ativo abençoado. Fica feliz?
Negativo.
“Eu devia ter 'shorteado' a 22 e surfado a queda”, corrói-se nosso herói.
Outro erro colossal, que atinge a maior parte dos traders, é dar importância ao preço no qual entrou no mercado. Não percebe que aquele número só tem relevância para ele, é apenas seu ponto de partida, não tem influência nas análises dos demais profissionais.
Eu já vi trader comprar petróleo futuro em Nova York a 40 dólares e ver a cotação cair dia a dia: 39; 38,50; 38; 37,50 e por aí até próximo dos 32. E o cara, firme, proclamando um dos ditados mais burros do mercado:
“Prejuízo nunca deu lucro a ninguém!”
Mas eis que o petróleo virou, por causa de uma crise do Oriente Médio, e tomou rumo norte, só que agora com grande velocidade: 33, 34, 35... e – bingo! – 40.
Sem refletir sobre o motivo da alta, e sem analisar se 40 agora era barato, o trader zerou sua posição e foi tomar um pileque. O mercado, por outro lado, como o leitor já deve estar adivinhando, continuou disparando: 41, 42, 45, 50, 60. Um inverno especialmente severo no hemisfério norte tinha pegado os estoques estratégicos americanos em nível muito baixo e provocado um squeeze no mercado.
Confessa, Ivan. Confessa, Ivan Sant’Anna. Solta a franga. Abre o jogo. Esse trader foi você. E não foi a única vez em que isso aconteceu.
Claro que, ao longo dos quase 40 anos nos quais operei nos mercados, aprendi a dominar a ganância e o medo e deixei de dar importância ao “meu” preço. Só que isso exigiu muita disciplina. Porque é preciso ser muito macho, ou “macha”, e não menos perspicaz, para aplicar 20 mil dólares, ver esses 20 mil dólares se transformarem em um milhão e não vender. Não vender porque aquele ativo de 20 mil dólares tem um potencial gigantesco.
Pode ser o trade de sua vida. Isso aconteceu com diversas ações de empresas de tecnologia lançadas por IPOs (Oferta Pública Inicial, em inglês) e depois negociadas na Nasdaq. Empresas de fundo de quintal que valiam uma merreca e estão hoje entre as maiores do mundo. E aí rebato com outro anexim:
“Lucro nunca deu prejuízo a ninguém.”
Boa parte dos traders é corajosa no prejuízo e covarde no lucro, quando só se é bem-sucedido se agir exatamente no sentido contrário. Errou, cai fora. Acertou, surfe na onda do lucro até que avalie friamente que o ativo que você vendeu, ou “shorteou”, chegou onde devia chegar.
No fim de semana que se seguiu às eleições legislativas de 1986, na qual o presidente José Sarney conseguiu, por causa do sucesso artificial do Plano Cruzado, eleger 80% do Congresso, eu descobri, ao encontrar as prateleiras dos supermercados vazias e os restaurantes com enormes filas na porta, que o congelamento de preços não iria se sustentar.
O Plano havia fracassado e pouca gente percebera isso.
Na segunda-feira comprei todos os contratos de ouro “futurão” na Bolsa de Mercadorias de São Paulo, que estavam, por cegueira dos traders, no limite de baixa. Comprei com tanta convicção que saí em seguida para almoçar (naquela época não havia celulares).
Quando cheguei de volta à trading desk, os “futurões” estavam em limite de alta. Surfei nessa onda até depois do Carnaval. Isso porque descobri, antes de quase todo mundo, que os preços estavam em desacordo com os fundamentos.
Pena que, na época, eu achei que poderia ter comprado lotes bem maiores.
Bolsa nas alturas: Ibovespa sobe 1,34% colado na disparada de Wall Street; dólar cai a R$ 5,7190 na mínima do dia
A boa notícia que apoiou a alta dos mercados tanto aqui como lá fora veio da Casa Branca e também ajudou as big techs nesta quarta-feira (23)
Agora 2025 começou: Ibovespa se prepara para seguir nos embalos da festa do estica e puxa de Trump — enquanto ele não muda de ideia
Bolsas internacionais amanheceram em alta nesta quarta-feira diante dos recuos de Trump em relação à guerra comercial e ao destino de Powell
Ibovespa pega carona nos fortes ganhos da bolsa de Nova York e sobe 0,63%; dólar cai a R$ 5,7284
Sinalização do governo Trump de que a guerra tarifária entre EUA e China pode estar perto de uma trégua ajudou na retomada do apetite por ativos mais arriscados
Dólar fraco, desaceleração global e até recessão: cautela leva gestores de fundos brasileiros a rever estratégias — e Brasil entra nas carteiras
Para Absolute, Genoa e Kapitalo, expectativa é de que a tensão comercial entre China e EUA implique em menos comércio internacional, reforçando a ideia de um novo equilíbrio global ainda incerto
Orgulho e preconceito na bolsa: Ibovespa volta do feriado após sangria em Wall Street com pressão de Trump sobre Powell
Investidores temem que ações de Trump resultem e interferência no trabalho do Fed, o banco central norte-americano
Trump x Powell: uma briga muito além do corte de juros
O presidente norte-americano seguiu na campanha de pressão sobre Jerome Powell e o Federal Reserve e voltou a derrubar os mercados norte-americanos nesta segunda-feira (21)
É recorde: preço do ouro ultrapassa US$ 3.400 e já acumula alta de 30% no ano
Os contratos futuros do ouro chegaram a atingir US$ 3.433,10 a onça na manhã desta segunda-feira (21), um novo recorde, enquanto o dólar ia às mínimas em três anos
A última ameaça: dólar vai ao menor nível desde 2022 e a culpa é de Donald Trump
Na contramão, várias das moedas fortes sobem. O euro, por exemplo, se valoriza 1,3% em relação ao dólar na manhã desta segunda-feira (21)
Com ou sem feriado, Trump continua sendo o ‘maestro’ dos mercados: veja como ficaram o Ibovespa, o dólar e as bolsas de NY durante a semana
Possível negociação com a China pode trazer alívio para o mercado; recuperação das commodities, especialmente do petróleo, ajudaram a bolsa brasileira, mas VALE3 decepcionou
‘Indústria de entretenimento sempre foi resiliente’: Netflix não está preocupada com o impacto das tarifas de Trump; empresa reporta 1T25 forte
Plataforma de streaming quer apostar cada vez mais na publicidade para mitigar os efeitos do crescimento mais lento de assinantes
Lições da Páscoa: a ação que se valorizou mais de 100% e tem bons motivos para seguir subindo
O caso que diferencia a compra de uma ação baseada apenas em uma euforia de curto prazo das teses realmente fundamentadas em valuation e qualidade das empresas
Que telefone vai tocar primeiro: de Xi ou de Trump? Expectativa mexe com os mercados globais; veja o que esperar desta quinta
Depois do toma lá dá cá tarifário entre EUA e China, começam a crescer as expectativas de que Xi Jinping e Donald Trump possam iniciar negociações. Resta saber qual telefone irá tocar primeiro.
É hora de aproveitar a sangria dos mercados para investir na China? Guerra tarifária contra os EUA é um risco, mas torneira de estímulos de Xi pode ir longe
Parceria entre a B3 e bolsas da China pode estreitar o laço entre os investidores do dois países e permitir uma exposição direta às empresas chinesas que nem os EUA conseguem oferecer; veja quais são as opções para os investidores brasileiros investirem hoje no Gigante Asiático
Nas entrelinhas: por que a tarifa de 245% dos EUA sobre a China não assustou o mercado dessa vez
Ainda assim, as bolsas tanto em Nova York como por aqui operaram em baixa — com destaque para o Nasdaq, que recuou mais de 3% pressionado pela Nvidia
Ações da Brava Energia (BRAV3) sobem forte e lideram altas do Ibovespa — desta vez, o petróleo não é o único “culpado”
O desempenho forte acontece em uma sessão positiva para o setor de petróleo, mas a valorização da commodity no exterior não é o principal catalisador das ações BRAV3 hoje
Correr da Vale ou para a Vale? VALE3 surge entre as maiores baixas do Ibovespa após dado de produção do 1T25; saiba o que fazer com a ação agora
A mineradora divulgou queda na produção de minério de ferro entre janeiro e março deste ano e o mercado reage mal nesta quarta-feira (16); bancos e corretoras reavaliam recomendação para o papel antes do balanço
Acionistas da Petrobras (PETR4) votam hoje a eleição de novos conselheiros e pagamento de dividendos bilionários. Saiba o que está em jogo
No centro da disputa pelas oito cadeiras disponíveis no conselho de administração está o governo federal, que tenta manter as posições do chairman Pietro Mendes e da CEO, Magda Chambriard
Até tu, Nvidia? “Queridinha” do mercado tomba sob Trump; o que esperar do mercado nesta quarta
Bolsas continuam de olho nas tarifas dos EUA e avaliam dados do PIB da China; por aqui, investidores reagem a relatório da Vale
Tarifaço de Trump pode não resultar em mais inflação, diz CIO da Empiricus Gestão; queda de preços e desaceleração global são mais prováveis
No episódio do podcast Touros e Ursos desta semana, João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, fala sobre política do caos de Trump e de como os mercados globais devem reagir à sua guerra tarifária
Dividendos da Petrobras (PETR4) podem cair junto com o preço do petróleo; é hora de trocar as ações pelos títulos de dívida da estatal?
Dívida da empresa emitida no exterior oferece juros na faixa dos 6%, em dólar, com opções que podem ser adquiridas em contas internacionais locais