Quem bate o olho nos dados do fechamento da sessão desta quarta-feira (24) — o Ibovespa teve alta de 0,40%, aos 104.119,54 pontos, enquanto o dólar à vista caiu 0,09%, a R$ 3,7693 — pode ter a impressão de que o dia foi relativamente parado.
O que os números não mostram é que o pregão contou com diversos pequenos fatores de influência: os balanços corporativos, o noticiário referente ao FGTS, a queda das commodities e o tom de otimismo dos mercados acionários americanos foram alguns dos pontos que influenciaram as negociações ao longo do dia.
E, ao fim da sessão, o saldo foi positivo para os ativos domésticos. Contudo, convém analisar separadamente cada um desses vetores, para ter uma dimensão exata do que esteve em jogo nesta quarta-feira.
De olho no FGTS
O governo confirmou nesta tarde a liberação do saque de até R$ 500 das contas ativas e inativas do FGTS, numa tentativa de estimular o crescimento do país. Segundo a administração Bolsonaro, o projeto irá injetar R$ 30 bilhões na economia — também foi anunciada uma nova modalidade de acesso aos recursos, o "saque aniversário".
A autorização para retirada de R$ 500 das contas do Fundo de Garantia, contudo, já havia sido sinalizada nesta manhã pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. E, em linhas gerais, o mercado reagiu com cautela às novidades.
Um operador afirmou que, depois de diversas idas e vindas em relação ao fundo de garantia, os agentes financeiros acabaram reduzindo as expectativas nesse front. "Esse teto de R$ 500 já tinha sido ventilado há uns dias, e o mercado já se ajustou a esse cenário".
Operadores e analistas fizeram duas leituras quanto à imposição desse limite. Por um lado, parte dos agentes financeiros mostra frustração com a quantia relativamente pequena a ser sacada, ponderando que esse montante tende a gerar um estímulo pequeno à economia.
Por outro, há o entendimento de que, ao disponibilizar montantes de até R$ 500, esses recursos serão direcionados ao consumo, e não ao pagamento de dívidas — o que deu forças às ações de empresas do setor de varejo. Foi o caso de Via Varejo ON (VVAR3), que subiu 5,78%, Magazine Luiza ON (MGLU3), em alta de 1,57% e B2W ON (BTOW3), com ganho de 2,40%.
Balanços, balanços, balanços
Em meio às diferentes interpretações do noticiário ligado ao FGTS, os agentes financeiros domésticos mostraram-se mais propensos a reagir aos resultados trimestrais de três empresas que compõem o Ibovespa: Cielo, Telefônica Brasil e Weg.
Os ativos ON da operadora de máquinas de cartão (CIEL3) dispararam 12,89% e lideraram a ponta positiva do Ibovespa, apesar de a companhia ter reportado queda de 33,3% em seu lucro líquido em base anual, para R$ 431,2 milhões.
Nesta manhã, o presidente da empresa, Paulo Caffarelli, afirmou que a Cielo possui "bastante apetite" para continuar a guerra das maquininhas. E essa sinalização ajuda a explicar o bom desempenho dos papéis: mesmo com a queda no lucro, a disposição para seguir competindo agradou o mercado.
Quem também fechou em alta foi Weg ON (WEGE3), com ganhos de 1,86%. A companhia terminou o período entre abril e junho deste ano com lucro de R$ 389 milhões — um ganho de 15,6% ante igual intervalo de 2018.
Já Telefônica Brasil ON (VIVT4) teve um dia relativamente estável, terminando o pregão com valorização de 0,41% após a empresa encerrar o segundo trimestre deste ano com lucro líquido contábil de R$ 1,42 bilhão, queda de 55,2% em um ano.
Pressão das commodities
Até agora, todas as ações citadas terminaram o dia com desempenho positivo. No entanto, os papéis de empresas ligadas ao setor de commodities — como Petrobras, Vale e siderúrgicas — encerraram o dia em baixa, limitando o potencial de ganhos do Ibovespa.
O destaque negativo ficou com os ativos que dependem do preço do minério de ferro — a commodity fechou em baixa de 2,42% na China. Nesse cenário, Vale ON (VALE3) caiu 2,14%, CSN ON (CSNA3) recuou 3,92%, Gerdau PN desvalorizou 1,49% e Usiminas PNA (USIM5) teve queda de 1,43%.
O petróleo também teve um dia negativo, tanto o WTI (-1,57%) quanto o Brent (-1,02%), o que afetou Petrobras ON (PETR3), em baixa de 0,83%, e Petrobras PN (PETR4), com queda de 0,62%.
E o exterior?
Nos Estados Unidos, o sentimento dos agentes financeiros permaneceu positivo, em meio à expectativa em relação à reunião do Federal Reserve (Fed), na semana que vem — os mercados apostam que a autoridade monetária americana poderá iniciar um processo de corte de juros já no encontro do dia 31.
Nesse contexto, o S&P 500 teve alta de 0,47% e o Nasdaq avançou 0,85%. Já o Dow Jones fechou em baixa de 0,29%, influenciado negativamente pelo mau desempenho de duas importantes ações do índice: Boeing e Caterpillar, que reportaram resultados trimestrais que desagradaram o mercado.
Essa tranquilidade também foi sentida nas negociações de câmbio, com os agentes financeiros mostrando-se ligeiramente mais propensos ao risco — o que deu força às divisas emergentes, incluindo o real.
Ajustes nos juros
A curva de juros passou a sessão oscilando perto da estabilidade, com os mercados promovendo ajustes pontuais, em meio à percepção cada vez mais firme por parte do mercado de que o Banco Central (BC) irá cortar a taxa Selic na próxima reunião do Copom, no dia 31.
Os debates, agora, concentram-se na magnitude desse ajuste: 0,25 ou 0,50 ponto percentual. Com esse cenário em mente, as curvas com vencimento em janeiro de 2020 recuaram de 5,59% para 5,58%, enquanto as para janeiro de 2021 ficaram inalteradas em 5,41%.
No vértice longo, os DIs para janeiro de 2023 tiveram baixa de 6,31% para 6,27%, e as para janeiro de 2025 foram de 6,87% para 6,83%.