Havia certo ceticismo com a divulgação da ata do Federal Reserve (Fed), banco central americano, pois o documento é referente à reunião de dezembro e muita coisa mudou deste então, inclusive o discurso do presidente Jerome Powell. Mas o documento mostrou que alguns membros já tinham expressado preferência por manutenção do juro americano, mesmo com a decisão final tendo sido unânime por alta de 0,25% para 2,25% a 2,5% ao ano.
A reação do mercado foi, primeiro uma breve puxada de alta, mas depois os índices voltaram a oscilar pouco baixo dos 0,5% (S&P e Dow Jones) e 1% Nasdaq, vistos antes da divulgação.
Uma interpretação possível é que ata, de fato, não representa novidade, mas seja apenas uma confirmação da mudança de discurso vista depois do encontro, que gerou fortes críticas por parte do presidente Donald Trump e algumas vozes de peso no mercado. Podemos falar que os discursos e ata representam um “distensionamento” no discurso da autoridade monetária americana.
A ata aborda outro ponto, a possibilidade de “paciência” do Fed antes de promover novas altas, que também esteve em discurso recente de membro do colegiado.
A grande mudança de aceno já tinha ocorrido na sexta-feira, quando Powell falou que poderia adotar uma postura mais flexível com relação à redução do balanço do Fed. O BC americano comprou trilhões de dólares em títulos do Tesouro e ativos privados depois da crise de 2008 e vinha deixando de atuar nesse mercado. Em dezembro, Powell tinha falado que não pretendia rever a redução de balanço e que o instrumento de política monetária seria apenas a taxa de juros.
4 day central bank jawbone attack:
Powell: Flexible on bal. sheet
Bostic: Only 1 hike
Mester: no urgency to raise
Bullard: Hikes cause recession
Rosengren: Patient
Evans: Wait
BOJ: We may need to print more.And that's how it's done. pic.twitter.com/9IZEO5vn9Q
— Sven Henrich (@NorthmanTrader) 9 de janeiro de 2019
A ata também mostra uma discussão sobre a comunicação do Fed, com os membros defendo uma mudança explícita do “forward guidance” (quando o BC sinaliza os próximos passos, como novas altas) para algo mais “data dependent”, ou seja, o Fed vai acompanhar os dados e decidir sem compromisso com acenos anteriores.
Essa discussão está em linha com as afirmações feitas por Powell desde a reunião de dezembro, de que não há uma rota predeterminada para os juros americanos.
A ata também mostra que embora as condições financeiras tenham ficado mais apertadas e que o crescimento mundial apresentou moderação, o crescimento da economia americana continua acima de sua tendência de longo prazo, com mercado de trabalho forte.
Por isso da manutenção da mensagem, em dezembro, de que alguns apertos adicionais seriam consistentes com uma expansão sustentada da economia, mercado de trabalho forte e inflação ao redor da meta de 2% ao ano.
A queda no preço das ações, a redução das taxas dos papéis do Tesouro e o aumento dos spreads do crédito corporativo também estiveram nas discussões do colegiado e explicam a redução nas projeções de três para duas elevações do juro ao longo de 2019.
Para alguns membros do Fed essa movimentação dos ativos financeiros estaria relacionada a um aumento de preocupação com “riscos de cauda”, como um agravamento das tensões comerciais, ou um aceno de significativa redução no ritmo de crescimento da economia mundial.
Alguns membros ponderaram que esse aperto das condições financeiras ainda não se manifestava no lado real da economia, mas que se tal quadro persistisse, certamente haveria reflexo nos gastos de consumidores e empresas. A conclusão foi acenar que o Fed continua monitorando os movimentos de mercado.
A primeira reunião de 2019 do Fed acontecerá nos dias 29 e 30 de janeiro. Neste ano, Powell dará entrevistas após todas as reuniões.