O conclave dos banqueiros centrais vai começar: saiba o que esperar do simpósio de Jackson Hole
Foi em Jackson Hole que Jerome Powell previu erroneamente que a inflação nos Estados Unidos seria um fenômeno transitório

Estamos em uma semana importante para os mercados internacionais. Depois de uma recuperação relevante entre meados de julho e o início de agosto, com alta de mais de 15% do S&P 500 (mais de 10% para o Dow Jones e cerca de 20% para o índice Nasdaq, que mais havia sofrido no primeiro semestre), voltamos a ver certa pressão sobre os ativos de risco.
Nos últimos dias, o mercado norte-americano interrompeu a sequência positiva.
O centro da questão é aquele que já tenho discutido em certo grau aqui nesta coluna: estamos em um novo mercado de alta ou o que vivemos nas últimas semanas, até a interrupção mais recente, é apenas um rali do mercado de baixa que se dissipará em breve, abrindo espaço para que os ativos busquem novas mínimas?
Minha resposta: para os mercados internacionais, entendo que seja o segundo caso.
Dados de inflação e emprego mudaram perspectiva dos investidores
Desde a última reunião do Federal Reserve, uma série de dados robustos da economia americana, de emprego e inflação, resultados do segundo trimestre não tão ruins quanto o esperado e uma retração nos preços das commodities proporcionaram uma mudança de perspectiva para os investidores.
Isto é, tais fatores funcionaram como catalisadores positivos para o sentimento geral.
Leia Também
Essa perspectiva de soft landing, no entanto, me parece um pouco de afobação do mercado. A inflação ainda parece distante de ser controlada, o ciclo de aperto monetário nas economias centrais está longe de acabar e a economia ainda precisa entrar em recessão.
Como Felipe Miranda, Estrategista-Chefe da Empiricus, colocou em recente carta para investidores:
"[...] se você vê atratividade no S&P 500 a 4.300 pontos [...], é como se concordasse também que: a capacidade explicativa de juros e inflação para determinar o comportamento das ações é a menor da história, lutar contra o Fed funciona ("fight the Fed works”) e o quantitative tightening (enxugamento do balanço do Banco Central) não traz grandes impactos, ainda que o quantitative easing (expansão do balanço do BC) tenha sido fundamental para guiar o preço dos ativos alguns anos atrás."
Ele tem um bom argumento.
O movimento parece não fazer sentido.
Dos 43 ralis de bear market desde 1929, nos quais o S&P 500 subiu mais de 10%, a valorização média foi de 17,2% e a subida durou 39 dias de negociações. Desta vez, o índice chegou a subir mais de 15%, num total de 41 pregões.
Olhando para isso, parece mesmo um "bear market rally".
Na semana passada, a ata dessa última reunião do Fed, junto de falas de autoridades monetárias americanas, pressionou a expectativa mais otimista de que o pior já passou.
Ainda vejo um tom hawkish a ser devidamente precificado pelo mercado. O Banco Central dos EUA parece bastante determinado em vencer a inflação, o que voltaria a elevar os yields nos diferentes vértices da curva, machucando novamente ativos de risco.
O que esperar de Jackson Hole
Por isso, os investidores estão bem atentos ao grande evento dos próximos dias: o Simpósio Anual de Política Econômica de Jackson Hole.
O encontro realizado em Wyoming é marcado por discussões de banqueiros centrais, ministros das finanças, acadêmicos e participantes do mercado financeiro de todo o mundo. Nele, comentários e discursos de banqueiros centrais e outras autoridades influentes podem gerar volatilidade significativa no mercado.
Tradicionalmente, as falas podem dar mais cor sobre os próximos passos da política monetária americana e, de maneira mais genérica, do mundo desenvolvido.
No ano passado, no evento de Wyoming, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse acreditar que as pressões inflacionárias provavelmente seriam transitórias. Ele logo percebeu que estava errado e teve que tentar recuperar o atraso (inflação fora de controle).
O desafio do combate à inflação
Com isso, os mercados voltam a esperar cada vez mais aumentos agressivos das taxas de juros do Fed, uma vez que ainda há muito trabalho pela frente para retornar a inflação de 8,5% para sua meta de 2% (levar a inflação de 8,5% para 4% será uma batalha e de 4% para 2% será outra, talvez muito mais difícil) — esperar mais uma alta de 75 pontos-base para a próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), em 21 de setembro, já é a principal aposta do mercado, pelo menos por enquanto.
Em sendo o caso, o mercado poderia amargar novamente; afinal, ainda estamos com taxas de juros reais negativas nos EUA. A última vez em que o Fed encerrou um ciclo de aperto monetário com taxas de juro reais negativas foi em 1954.
Ou seja, há mais espaço para juros.
Dois outros pontos me chamaram a atenção:
- i) na sexta-feira teremos o PCE, ou o Índice de Preços de Despesas com Consumo Pessoal dos EUA, que costumava ser o indicador favorito de inflação do Fed, por capturar melhor mudanças no padrão de consumo; e
- ii) nem só de alta de juros que vive o aperto monetário ao redor do mundo.
Como fica o balanço de ativos do Fed
Sobre este segundo ponto, vale o espaço para lembrar que há também o aperto monetário sendo conduzido pela redução do balanço de ativos Fed. Em setembro, a autoridade monetária americana passará de uma redução de ativos de US$ 35 bilhões por mês para US$ 95 bilhões por mês.
Fonte: Soc Gen.
Vale lembrar que a função de liquidez do Fed tem uma correlação relevante com o desempenho do S&P 500. Poderíamos até justificar a alta recente, inclusive, com uma melhora marginal das condições de liquidez no curto prazo.
Se a liquidez voltar a piorar em um mês de volta das férias nos EUA (setembro), que costuma ser sazonalmente mais difícil e volátil que agosto, ao menos historicamente, temos uma fórmula interessante para correção adicional dos ativos de risco.
O Simpósio de Jackson Hole também poderá nos dar dicas de para onde o Fed quer levar esse balanço nos próximos anos, o que será um vetor importante para a valorização dos ativos no futuro.
Agenda econômica: Fim da temporada de balanços do 1T25 e divulgação de PIBs globais movimentam a semana
Além dos últimos resultados da temporada, que incluem os balanços de BTG Pactual, Petrobras, Banco do Brasil e Nubank, a agenda traz a ata do Copom e dados do PIB na Europa e no Japão
Uma janela para a bolsa: Ibovespa busca novos recordes em dia de IPCA e sinais de novo estágio da guerra comercial de Trump
Investidores também repercutem a temporada de balanços do primeiro trimestre, com destaque para os números do Itaú e do Magazine Luiza
Bitcoin (BTC) volta aos US$ 100 mil e mercado cripto mira novos recordes
Anúncio de acordo comercial entre EUA e Reino Unido, somado ao otimismo com uma possível negociação entre Trump e Xi Jinping, impulsiona criptomoedas a patamares não vistos há meses
Trump anuncia primeiro acordo tarifário no âmbito da guerra comercial; veja o que se sabe até agora
Trump utilizou a rede social Truth Social para anunciar o primeiro acordo tarifário e aproveitou para comentar sobre a atuação de Powell, presidente do Fed
Não há escapatória: Ibovespa reage a balanços e Super Quarta enquanto espera detalhes de acordo propalado por Trump
Investidores reagem positivamente a anúncio feito por Trump de que vai anunciar hoje o primeiro acordo no âmbito de sua guerra comercial
Bitcoin (BTC) sobrevive ao Fed e se mantém em US$ 96 mil mesmo sem sinal de corte de juros no horizonte
Outra notícia, que também veio lá de fora, ajudou os ativos digitais nas últimas 24 horas: a chance de entendimento entre EUA e China sobre as tarifas
Não vai meter a colher onde não é chamado: Fed mantém taxa de juros inalterada e desafia Trump
Como era amplamente esperado, o banco central norte-americano seguiu com os juros na faixa entre 4,25% e 4,50%, mas o que importa nesta quarta-feira (7) é a declaração de Powell após a decisão
Bola de cristal monetária: Ibovespa busca um caminho em dia de Super Quarta, negociações EUA-China e mais balanços
Investidores estão em compasso de espera não só pelas decisões de juros, mas também pelas sinalizações do Copom e do Fed
Copom deve encerrar alta da Selic na próxima reunião, diz Marcel Andrade, da SulAmérica. Saiba o que vem depois e onde investir agora
No episódio 221 do podcast Touros e Ursos, Andrade fala da decisão de juros desta quarta-feira (7) tanto aqui como nos EUA e também dá dicas de onde investir no cenário atual
Expectativa e realidade na bolsa: Ibovespa fica a reboque de Wall Street às vésperas da Super Quarta
Investidores acompanham o andamento da temporada de balanços enquanto se preparam para as decisões de juros dos bancos centrais de Brasil e EUA
Banqueiros centrais se reúnem para mais uma Super Quarta enquanto o mundo tenta escapar de guerra comercial permanente
Bastou Donald Trump sair brevemente dos holofotes para que os mercados financeiros reencontrassem alguma ordem às vésperas da Super Quarta dos bancos centrais
Espírito olímpico na bolsa: Ibovespa flerta com novos recordes em semana de Super Quarta e balanços, muitos balanços
Enquanto Fed e Copom decidem juros, temporada de balanços ganha tração com Itaú, Bradesco e Ambev entre os destaques
Agenda econômica: temporada de balanços esquenta em semana de Super Quarta; veja os principais eventos
Calendário dos próximos dias traz as primeiras decisões de política monetária no Brasil, nos Estados Unidos e no Reino Unido após as tarifas recíprocas de Donald Trump
Trump descarta demissão de Powell, mas pressiona por corte de juros — e manda recado aos consumidores dos EUA
Em entrevista, Trump afirmou que os EUA ficariam “bem” no caso de uma recessão de curto prazo e que Powell não reduziu juros ainda porque “não é fã” do republicano
Um mês da ‘libertação’: guerra comercial de Trump abalou mercados em abril; o que esperar desta sexta
As bolsas ao redor do mundo operam em alta nesta manhã, após a China sinalizar disposição de iniciar negociações tarifárias com os EUA
Ozempic na mira de Trump? Presidente dos EUA diz que haverá tarifas para farmacêuticas — e aproveita para alfinetar Powell de novo
Durante evento para entregar investimentos, Trump disse entender muito mais de taxas de juros do que o presidente do Fed
Alguém está errado: Ibovespa chega embalado ao último pregão de abril, mas hoje briga com agenda cheia em véspera de feriado
Investidores repercutem Petrobras, Santander, Weg, IBGE, Caged, PIB preliminar dos EUA e inflação de gastos com consumo dos norte-americanos
Trump: “Em 100 dias, minha presidência foi a que mais gerou consequências”
O Diário dos 100 dias chega ao fim nesta terça-feira (29) no melhor estilo Trump: com farpas, críticas, tarifas, elogios e um convite aos leitores do Seu Dinheiro
Quando o plano é não ter plano: Ibovespa parte dos 135 mil pontos pela primeira vez em 2025 em dia de novos dados sobre mercado de trabalho dos EUA
Investidores também se preparam para o relatório de produção e vendas da Petrobras e monitoram entrevista coletiva de Galípolo
Trump quer brincar de heterodoxia com Powell — e o Fed que se cuide
Criticar o Fed não vai trazer parceiros à mesa de negociação nem restaurar a credibilidade que Trump, peça por peça, vem corroendo. Se há um plano em andamento, até agora, a execução tem sido tudo, menos coordenada.