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Eduardo Campos
Eduardo Campos
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo e Master In Business Economics (Ceabe) pela FGV. Cobre mercado financeiro desde 2003, com passagens pelo InvestNews/Gazeta Mercantil e Valor Econômico cobrindo mercados de juros, câmbio e bolsa de valores. Há 6 anos em Brasília, cobre Banco Central e Ministério da Fazenda.
Nada de rali de fim de ano?

Presidente do Fed defende alta de juros e dá resposta a Donald Trump

Jerome Powell defende condução da política monetária, diz que pode ter paciência para realizar novas altas e afirma que a política não vai deter o BC americano de fazer o que acha certo. Não animou os mercados

Eduardo Campos
Eduardo Campos
19 de dezembro de 2018
19:18 - atualizado às 19:28
Presidente do Fed, Jerome Powell.
Powell volta para um mandato de mais 4 anos à frente do Federal Reserve - Imagem: Federal Reserve

O presidente do Federal Reserve (Fed), banco central americano, Jerome Powell, enfatizou que o Banco Central não tem uma rota predeterminada para os juros americanos e que o recente aperto nas condições financeiras levou à reconsideração sobre o número de ajustes no juro de três para dois ao longo de 2019.

Em entrevista após anunciar uma elevação do juro em 0,25 ponto percentual, para 2,25% a 2,5% ao ano, Powell explicou, por diversas vezes, que as decisões futuras estão mais dependentes da evolução dos dados econômicos e se eles se mostram compatíveis com as expectativas do Fed de um crescimento ainda forte em 2019, com queda do desemprego em inflação ao redor da meta de 2%.

Powell disse, ainda, que o comportamento recente da inflação dá ao comitê a capacidade de se ser paciente antes de seguir adiante com o ajuste das condições monetárias, que estão estimulativas, e que a taxa de juro já está na parte inferior das estimativas do que seria o juro neutro (aquele não estimula nem atrapalha o crescimento).

O discurso, no entanto, não agradou aos mercados. Depois de um período de indefinição em Wall Street, com os índices oscilando entre alta e baixa, os principais indicadores firmaram posição em terreno negativo, mostrando que o esperado rali de fim de ano não deve se confirmar agora em 2018. O Dow Jones terminou o dia em queda de 1,49%, o S&P caiu 1,54% e o Nasdaq recuou 2,17%.

Como dissemos mais cedo, o Fed estava em posição difícil, podendo apanhar qualquer que fosse sua decisão e comunicação. Uma das leituras possíveis é que o Fed ainda acena alguma preocupação com a inflação enquanto parte do mercado teme uma forte desaceleração da economia já em 2019. Outra interpretação é que o Fed acompanha os dados da economia, e os mercados não. Os agentes queriam uma postura ainda mais conciliadora, com um aceno claro de pausa ou algo parecido.

O Fed também pensa em ativar as exigências de capital anticíclico para o setor financeiro. Essa é uma medida de estabilidade financeira. Quando o BC avalia que o crescimento do crédito pode estar acima do considerado saudável, o BC exige parcela extra de capital. Powell disse que isso será avaliado no começo de 2019, mas que ele prefere manter “a mente aberta” a essa discussão. Atualmente, os riscos à estabilidade financeira estão equilibrados.

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Isso é má notícia para a "janela de crédito" que parece já ter fechado um pouco, dificultando ainda mais a rolagem de dívidas, principalmente para as empresas com menores notas de crédito.

O presidente do BC também disse que não pretende rever o programa de redução do balanço do Fed (recompra de títulos do governo e do setor privado). O instrumento de política monetária será apenas a taxa de juro.

Economia saudável em 2019

A mediana das projeções do Fed é de crescimento de 2,3% em 2019, com desemprego de 3,5%, acima dos patamares considerados neutros de 1,9% para o PIB e 4,4% para o desemprego.

Para Powell, mesmo que a política monetária venha a dar menor suporte para a atividade, os prognósticos para 2019 mostram uma economia saudável. Segundo o presidente, há um grau de incerteza sobre os próximos passos, por isso mesmo o Fed mudou sua comunicação, colocando explicitamente um acompanhando das condições globais e dos mercados financeiros.

Ele reforçou, também, que a intenção do Fed não é deixar a política monetária restritiva, mas sim neutra. O “gráfico de pontos”, mostrou uma redução na projeção para o juro de 2019, de 3,1% para 2,9%. A taxa de longo prazo caiu de 3% para 2,8%.

Donald Trump

Ao longo da entrevista, Powell foi questionado mais de uma vez sobre os “tuites” do presidente Donald Trump, que vem repetidamente reclamando da atuação do Fed.

Sem mudar o tom de voz, Powell disse que considerações políticas não tem influência sobre as discussões feitas dentro do comitê. O foco está na missão de manter a inflação sob controle e garantir pleno emprego e que nada “vai deter” o Fed de fazer a coisa certa. Além disso, o presidente destacou que a instituição tem independência para atuar, algo “essencial”.

“Não estou preocupado com [comentários] políticos. Vamos fazer nosso trabalho da forma que sempre fizemos”, disse.

Mercados

Powell disse que o Fed não olha especificamente para um mercado, mas sim para uma série de indicadores que podem apontar mudanças no quadro macroeconômico. Na sua avaliação, volatilidade de curto prazo não deixa “uma marca” na economia.

O que o Fed identificou é que houve um aperto nas condições financeiras e isso foi considerado nos modelos de projeção do BC, que mudou os prognósticos para crescimento, desemprego e, também, para o número de altas possíveis em 2019.

“Acompanhamos os mercados, mas de um ponto de vista macroeconômico. Nenhum mercado é o mais importante”, disse.

Perguntado sobre a queda nos juros longos, especialmente das taxas de 10 anos dos papéis do Tesouro, Powell disse que essa redução é consistente com o movimento de maior aversão ao risco (risk off) visto nos mercados, e que não é possível saber se esse cenário vai prevalecer ou não.

“Taxas de juro menores nos vértices mais longos pode ser um sinal de menor crescimento. Mas não sabemos se isso realmente vai ocorrer. Nossa visão é de crescimento sólido, queda no desemprego e economia saudável”, afirmou.

 

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