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Josette Goulart
CORRIDA PRESIDENCIAL

O que pode acontecer a uma semana da eleição? Tudo. 

Em 2018, já tivemos candidato preso, esfaqueado e até pregando em um monte. Pleitos anteriores mostram que jogo pode mudar na reta final e que alto índice de abstenção nas urnas também coloca em xeque validade das pesquisas eleitorais.

Josette Goulart
1 de outubro de 2018
5:38 - atualizado às 13:50
Montagem mostra candidatos em meio a corrida de cavalos - Imagem: Seu Dinheiro

Uma notícia explosiva, uma palavra mal dita, uma fake news, voto útil, ou de ódio, chuva, abstenção, urnas inviabilizadas, voto envergonhado. Os fatores que podem alterar o rumo de uma eleição na reta final são tantos que se alguém me pergunta o que pode mudar na última semana da campanha presidencial deste ano, eu digo sem medo de errar: tudo. Ainda mais em um cenário em que as pesquisas começam a apontar uma forte aproximação, em algumas até empate técnico, entre Jair Bolsonaro, do PSL, e Fernando Haddad, do PT.

Os mercados devem acompanhar de perto as oscilações das pesquisas, assim como o último debate na televisão, que acontece na quinta na TV Globo. Até agora não tivemos nenhum debate com a presença tanto de Haddad quanto de Bolsonaro. Ontem à noite, mesmo que fisicamente Bolsonaro não estivesse nos estúdios da Record, ele esta muito presente no debate. Os ataques foram tão fortes que colocaram o candidato no centro do debate junto com Haddad, também atacado. Mas enquanto um não podia se defender, e por isso mesmo pode ganhar até a simpatia do público, o outro fraquejou em suas respostas. Se isso pode influenciar votos é algo a conferir. 

A eleição ainda está em aberto. Para começo de conversa, não custa lembrar que muitos são os fatos inéditos desta campanha que trazem um risco elevadíssimo para quem fizer uma aposta no resultado das eleições. A lei eleitoral encurtou o tempo de campanha, além de reduzir significativamente os gastos permitidos sem apoio de grandes corporações.

As redes sociais lançaram pela primeira vez um candidato ao estrelato - caso de Jair Bolsonaro, que tem 10 segundos de tempo de horário eleitoral e mesmo assim lidera as pesquisas. Tem ainda o WhatsApp, que não era tão influente há quatro anos e é uma fonte potencial de viralização de fake news. Há ainda manifestações organizadas pelas redes, como vimos no sábado com as mulheres do #elenao, que podem influenciar na decisão de votos de indecisos ou influenciar o voto útil, desidratando  ainda mais campanhas de centro como as de Marina Silva, Alvaro Dias, Henrique Meirelles e João Amoêdo.

Candidato preso, esfaqueado e reza no pé do monte

A eleição chega na última semana com uma coleção de fatos surreais. Em 2018, tivemos um candidato preso, outro esfaqueado e até aquele que prega dos montes. Este ano também temos uma afirmação do líder das pesquisas de que o único resultado que aceitará é a sua vitória. Um juiz de Goiás já foi afastado por planejar conceder uma liminar para determinar que o Exército recolhesse as urnas eletrônicas às vésperas das eleições.

Mas nem é preciso nos atermos às peculiaridades desta eleição para saber que na última semana tudo pode acontecer. Nas eleições para prefeito de 2016, por exemplo, ninguém esperava que João Dória fosse se eleger no primeiro turno. Influenciados que estamos pelos números das pesquisas, esquecemos que só os votos válidos contam. Ou seja, só vão contar os votos efetivamente dados a algum candidato, deixando de fora os nulos e brancos.

Mas além disso, tem o povo que nem vai votar. Na eleição do Dória, o índice de abstenção, votos brancos e nulos somados chegou a 35% do total de eleitores da cidade de São Paulo. Resultado: Doria se elegeu com 3 milhões de votos, o equivalente a apenas um terço do total de eleitores paulistanos.

No caso de Dória, as pesquisas às vésperas já apontavam que o candidato tinha tido um crescimento consolidado que o colocava isolado na liderança do pleito. Então, foi surpresa sua vitória no primeiro turno, mas não de todo uma surpresa o fato dele ter vencido a eleição.

Pesquisas podem estar erradas

Há casos em que as pesquisas simplesmente erram. Foi o que aconteceu no Tocantins. O estado teve que fazer uma eleição suplementar para eleger um novo governador no primeiro semestre deste ano. O governador que foi eleito, Mauro Carlesse, aparecia em terceiro lugar nas intenções de voto dias antes da eleição.

Por que as pesquisas erraram tanto? Os donos de institutos se justificam dizendo que é porque o índice de votos válidos foi de apenas 50%. Quando metade dos eleitores não vai votar no dia da eleição, é de fato quase impossível que uma pesquisa acerte.

As pesquisas mostram um retrato de um determinado momento. E se chover e as pessoas de um bairro ou cidade que iriam votar em peso para um determinado candidato simplesmente não comparecerem às urnas? E se o cidadão diz para o instituto de pesquisa que vai votar no Bolsonaro porque tem vergonha de dizer que vai votar em Lula? Ou vice-versa? Parece estranho? Não é não.

Muitos eleitores do PT têm vergonha de dizer que vão votar no candidato do Lula, que está preso. Assim como muitos eleitores do Bolsonaro tem vergonha de dizer que vão votar num candidato que à sua volta é chamado de machista, homofóbico, entre outros. Como se comportará este voto silencioso?

Há ainda muita incógnita sobre o voto feminino. O diretor do instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, alertou na semana passada à editora Marina Gazzoni que, enquanto parte das mulheres levanta a voz contra Jair Bolsonaro, ainda vota influenciada por filhos e maridos, especialmente as analfabetas e dependentes. A visão dele é que isso pode dar mais votos femininos a Bolsonaro. Sem contar, que muitas mulheres votam em Bolsonaro por convicção. Apesar de seu eleitorado ser muito maior no público masculino, ele lidera as pesquisas também no público feminino. 

Cuidado com a língua

Na reta final, algumas declarações dos candidatos podem mudar o jogo. Para quem não lembra, nas eleições para prefeito em 2012, Celso Russomanno tinha mais de 30% das intenções de voto a apenas duas semanas da votação. Ele sequer chegou ao segundo turno por conta de uma declaração sobre mudança em tarifa de ônibus.

Todo cuidado é pouco agora. Não à toa, Bolsonaro proibiu seu candidato a vice, General Hamilton Mourão, de participar de qualquer evento público daqui até a eleição. Mourão fez críticas na semana passada ao 13º salário.

O cientista político Claudio Couto, da FGV, lembra ainda um outro fator: os eleitores mudam de voto na última hora, às vezes por uma grande pressão psicológica de pessoas de seu convívio, por exemplo.

Mas há também os casos já citados aqui de voto envergonhado, ou boato de última hora, ou de uma notícia que venha à tona e mude a posição das pessoas. No fim da semana passada, a reportagem da revista Veja diz que  Bolsonaro escondeu patrimônio. Mesmo que não perca votos, pode impedir que cresça. Na pesquisa BTG/FSB divulgada nesta madrugada, Bolsonaro oscilou dois pontos para baixo, ficando com 31%. É dentro da margem de erro, mas é uma queda. 

Não bastassem todas estas incertezas ainda há um outro fator: o voto de protesto ou de ódio. Você sabia que a última pesquisa Ibope mostrou que 32% dos eleitores dizem que existe uma chance alta ou muito alta de mudar de voto para evitar que alguém de que não gostem se eleja ou chegue ao segundo turno? Portanto, eu diria que fazer uma aposta neste momento, do que vai acontecer no dia 7, é nada mais do que isso: uma aposta, que em nada difere de uma mesa de roleta.

O cenário mais provável, segundo apontam todas as pesquisas até agora, é de que haja um segundo turno e que nele estejam Haddad e Bolsonaro. As mais recentes, como a da CNT/MDA, divulgada no sábado já colocam os dois em empate técnico. Geraldo Alckmin parece não ter fôlego para ocupar o lugar de Bolsonaro. Mais do que santo, seria um santo milagreiro se conseguisse chegar no segundo turno, como brincam alguns. E Ciro, que está em terceiro nas pesquisas Ibope e Datafolha? A pesquisa BTG/FSB mostra o candidato do PDT caindo e Alckmin subindo. 

Ou seja, a chance de errar o resultado é grande demais, eu não descartaria nenhuma hipótese. Nem a de Bolsonaro ganhar no primeiro turno, nem a de que ele sequer chegue ao segundo turno

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