Agora sob a batuta de Galípolo, Copom cumpre o prometido, eleva Selic para 13,25% e mantém previsão de alta de 1,0 pp. na próxima reunião
Conforme esperado pelo mercado e antecipado pelo BC, taxa básica de juros subiu 1,0 ponto percentual em decisão unânime do colegiado, mas trajetória da Selic depois de março foi deixada em aberto

A primeira reunião de 2025 do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) — também a primeira de Gabriel Galípolo como presidente da autarquia — não teve surpresas. Como já havia sinalizado na sua última decisão de juros, o colegiado elevou a taxa Selic em mais 1,00 ponto percentual, para 13,25% ao ano, em decisão unânime.
Era também o desfecho que o mercado esperava. Na sua última reunião de 2024, o Copom voltou a adotar o forward guidance, um indicativo dos seus próximos passos, contratando altas de 100 pontos-base para os dois próximos encontros.
De fato, o colegiado reafirmou, no seu comunicado desta quarta-feira (29), que seguiria sua própria projeção e aumentaria a Selic em mais 1,00 ponto percentual na próxima reunião, a ser realizada em março.
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Dali para frente, no entanto, o Comitê preferiu não se comprometer, dizendo apenas que "a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos."
Para Leonardo Costa, economista do ASA, o tom do comunicado foi de neutro para dove (mais leniente com a inflação), mas uma leitura possível é de que houve piora grande das expectativas, principalmente num horizonte mais longo, e da inflação corrente para o Copom deixar tão em aberto as decisões depois de março.
Natalie Vital, economista da SulAmérica Investimentos, faz leitura semelhante, de que o comunicado foi dovish.
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"O BC já incluiu atividade como risco baixista, colocou tarifas como risco baixista, veio com uma projeção de inflação na parte mais baixa das expectativas de mercado, retirou o plural da sinalização sem dar a entender que alta é o movimento mais provável em maio. A sensação que fica é que a autoridade monetária já está pensando nas defasagens de política monetária", diz, acrescentando que o comunicado de hoje não deve ajudar a conter a desancoragem das expectativas em curso.
No entanto, Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, considerou a estratégia de deixar o futuro da Selic em aberto acertada para o BC adotar um tom mais hawkish (duro com a inflação) sem precisar cravar os próximos passos.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, tem visão parecida. "Considerando a incerteza no cenário e como os fatores de risco vão se comportar ao longo dos próximos três meses, a decisão de não indicar mudança no ritmo de alta ou nem mesmo a magnitude do ciclo é acertada nesse momento", avalia.
'Cenário externo segue exigindo cautela'
A decisão de hoje seguiu-se à manutenção das taxas de juros nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano, também amplamente esperada pelo mercado.
O Copom abriu seu comunicado justamente comentando o ambiente externo que, na opinião dos seus diretores, "permanece desafiador em função, principalmente, da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, o que suscita mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed."
O colegiado do BC disse ainda que "os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho" e avalia que "o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes."
Vale lembrar que, embora o Fed venha sinalizando compromisso com o controle inflacionário, o recém-empossado presidente Donald Trump já começou a criticar o banco central americano, pressionando por mais cortes de juros, ainda que suas políticas fiscal, migratória e comercial tendam a ser inflacionárias.
Copom segue de olho no fiscal
Sobre o cenário doméstico, o Copom diz que segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros.
De fato, é a falta de âncora fiscal o principal fator doméstico a pressionar o câmbio, a inflação e, por consequência, os juros para cima.
Desde que o governo anunciou um pacote de cortes de gastos considerado insuficiente pelo mercado, o resto da confiança dos agentes econômicos no compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas se esvaiu.
"A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes", diz o comunicado do Copom.
Assim, o colegiado atribuiu a necessidade de uma política monetária mais contracionista à desancoragem das expectativas de inflação e à elevação das projeções de inflação, bem como à resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho.
Inflação continua pressionada
Com poucas novidades no cenário doméstico e sem perspectivas de novas medidas de ajuste fiscal à vista, a inflação brasileira segue pressionada.
Assim, o aperto monetário continua se mostrando necessário para levar o IPCA, índice de preços oficial, para a meta, que permanece em 3,00% em 2025, com intervalo de tolerância entre 1,50% e 4,50%.
Este inclusive é o entendimento do próprio Copom, segundo seu comunicado. Em relação ao cenário doméstico, os diretores do BC dizem que os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho "têm apresentado dinamismo" e que inflação cheia e as medidas subjacentes se mantiveram acima da meta e novamente apresentaram elevação nas divulgações recentes.
De fato, no ano passado o BC falhou em cumprir a parte do seu mandato referente à meta de inflação, e Galípolo já começou em seu novo cargo precisando enviar a famigerada carta aos ministros da Fazenda e do Planejamento sobre os motivos de o IPCA ter escapado para cima.
O IPCA dos últimos 12 meses está em 4,83%, e embora o IPCA-15 — considerado a prévia do índice oficial — tenha desacelerado de 4,71% para 4,50% nos 12 meses terminados na primeira quinzena de janeiro, o núcleo pressionado deixou o mercado bastante pessimista.
O Copom lembrou ainda que o último Boletim Focus aponta que os economistas de mercado esperam um IPCA de 5,50% em 2025 e 4,20% em 2026. Entretanto, a projeção de inflação do Copom para o terceiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, é de 4,0% no cenário de referência.
O entendimento do colegiado é, segundo o comunicado, de que "persiste uma assimetria altista" no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação.
Entre os riscos de alta para os índices de preços estão:
- Uma desancoragem das expectativas por tempo prolongado;
- Uma maior resiliência da inflação de serviços do que a projetada em função do hiato do produto mais positivo;
- Uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, como o câmbio persistentemente mais depreciado.
Já entre os riscos de baixa, o Copom destaca os possíveis alívios sobre a inflação de uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais forte que o esperado e de choques sobre o comércio internacional e as condições financeiras globais.
Aonde a Selic vai parar?
O consenso do mercado é de que a Selic termine 2025 em 15,00%, mas muito se fala sobre este patamar ser insuficiente para levar a inflação de volta para a banda de tolerância da meta.
Mas o mercado desconfia de que o BC não irá conseguir aumentar os juros acima de 15,00% devido ao risco de pressão política ou mesmo de dominância fiscal, já que as taxas mais altas pesam ainda mais sobre o custo de uma dívida pública em trajetória de alta.
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