Banco do Brasil, CVC, Minerva e mais: o “efeito Milei” na Argentina sobre as empresas que perderam — e ganharam — com o novo presidente
A maxidesvalorização do peso atingiu de maneira diferente as empresas; consumo em geral caiu, mas viagens aumentaram

A Argentina elegeu seu novo presidente no fim de 2023 e os primeiros cem dias do governo de Javier Milei não foram nada mais nada menos do que turbulentos.
De cara, o novo chefe da Casa Rosada pegou um país em meio a uma profunda crise, sem reservas e com a faca do Fundo Monetário Internacional (FMI) no pescoço.
Assim que assumiu o cargo, Milei anunciou um polêmico pacote que afetou diretamente a população argentina. Por tabela, as medidas atingiram as empresas brasileiras que atuam no país.
Entre as companhias com operações relevantes na Argentina estão pesos pesados da bolsa brasileira, como a cervejaria Ambev (ABEV3), o frigorífico Minerva (BEEF3), a operadora de turismo CVC (CVCB3) e o Banco do Brasil (BBAS3).
O chamado “efeito Milei” foi negativo para a maioria delas, mas houve quem se beneficiou das mudanças que o novo presidente promoveu nos primeiros dias de mandato. Como ele assumiu o mandato em dezembro, os reflexos ocorreram nos resultados do quarto trimestre.
- LEIA TAMBÉM: Luis Stuhlberger, Daniel Goldberg e outros grandes nomes do mercado debatem oportunidades de investimento no Macro Summit Brasil 2024; assista gratuitamente.
Nesta reportagem, o Seu Dinheiro conta para você o que aconteceu na Argentina e como as medidas de Milei mexeram com o balanço das empresas brasileiras com negócios no país vizinho.
Leia Também
O golpista do Tinder está de volta à cadeia — mas ainda não se sabe o porquê
O pacote de Milei
Relembrando, poucos dias após receber a faixa presidencial, Milei promoveu uma maxidesvalorização do peso argentino, que se deu especialmente por uma medida aprovada à época para equiparar o preço do dólar oficial com o blue — cotação paralela, mais próxima da realidade.
Em outras palavras, 1 dólar saiu de 360 pesos para mais de 800 pesos na cotação oficial do banco central, aquela utilizada por empresas, bancos etc. Desde então, o dólar oficial vem se aproximando da cotação blue, que atualmente gira em torno dos 1.000 pesos.
A ideia central do governo é convergir todas as várias cotações para um único preço e extinguir o controle sobre o câmbio.
Naturalmente, o efeito na economia e no dia a dia da população foi quase imediato, tendo em vista que o país já vinha enfrentando uma hiperinflação e desvalorização da moeda local, a pedido do FMI.
Quem também acabou sendo pego no meio do fogo cruzado do “efeito Milei” foram as empresas brasileiras que operam no país vizinho.
Empresas que atuam na Argentina
Para analisar as empresas brasileiras com operações na Argentina, é preciso entender algo antes.
As normas contábeis permitem que as companhias que tenham operações em países de economias hiperinflacionárias façam a conversão para moeda brasileira atualizada pelo câmbio de fechamento no dia da finalização do balanço.
Essa é uma forma de corrigir o efeito da inflação do país sobre o balanço e dar mais transparência na apresentação de resultados. A medida é conhecida como CPC-02/42 (nas normas internacionais, é chamada IAS - 29) e pode ser encontrada no site da CVM.
Por isso, a leitura dos resultados é feita com e sem o impacto da alta inflação da Argentina.
Então já é possível concluir o que aconteceu com as empresas brasileiras: de modo geral, a forte desvalorização da cotação oficial do peso reduziu o ganho em reais reportado nos balanços. Mas esse efeito não foi negativo em todos os casos, como veremos a seguir.
Consumo na Argentina impacta desempenho das brasileiras
Começando por aquelas que se deram mal, empresas relacionadas ao consumo e varejo. Entre elas, podemos destacar Ambev (ABEV3), Minerva (BEEF) — que chegou a cair mais de 10% após a publicação de resultados — e Natura (NTCO3).
Veja a seguir como o “efeito Milei” atuou sobre essas empresas:
Ambev (ABEV3): impacto no câmbio é água no chope
A cervejaria brasileira registrou lucro líquido ajustado de R$ 4,667 bilhões no último trimestre de 2023, o que representa uma queda de 11,9% em relação ao mesmo período de 2022.
Dona da marca Quilmes na Argentina, a operação da Ambev (ABEV3) sentiu a pressão da variação do câmbio oficial no país. A perda do poder de compra do peso e a hiperinflação, que fechou o ano com 211% de alta, também derrubaram a demanda por bebidas. Ou seja, não houve apenas um efeito contábil.
Porém, verdade seja dita: nem tudo foi culpa de Milei. Vale destacar que os analistas já esperavam uma queda no lucro da Ambev em razão da base de comparação forte com o quarto trimestre de 2022, quando aconteceu a última edição da Copa do Mundo.
E queda na demanda por carne na Argentina
A Minerva (BEEF) publicou resultados que foram classificados como “fracos”, tanto pelos analistas do Itaú BBA quanto pelos da XP.
Essa talvez tenha sido a empresa mais afetada pela desvalorização da moeda local e pela perda de poder de compra da população.
Por exemplo, o Ebitda (uma das formas utilizadas por analistas para avaliar a geração de caixa de uma empresa) da Minerva no quarto trimestre de 2023 foi de R$ 606 milhões, 20% abaixo das estimativas da Bloomberg.
Porém, excluindo os impactos contábeis da Argentina, o Ebitda ajustado ficaria apenas 7% abaixo das mesmas projeções.
A desvalorização do peso em 2023 resultou em um impacto pontual — e não caixa, explica a empresa — de R$ 1,5 bilhão, integralmente contabilizado no último trimestre daquele ano, o que explica os resultados abaixo do esperado.
Menos bonitos? Demanda por cosméticos também cai na Argentina
O mesmo processo de hiperinflação afetou a demanda e, consequentemente, o balanço da Natura (NTCO3).
O lucro líquido anual de R$ 3 bilhões da fabricante de cosméticos foi levemente ofuscado com efeitos da reestruturação e operação na Argentina.
A receita líquida consolidada da Natura &Co Latam — segmento de negócios na América Latina — caiu 17% no quarto trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado.
O “efeito Milei” foi tal que, ao excluir os efeitos da hiperinflação e da variação cambial da Argentina, o Ebitda ajustado da Natura &Co apresenta forte crescimento de 60% na comparação anual.
- Seu WhatsApp pode ser uma “mão na roda” para suas finanças. Entre na nossa comunidade gratuita, In$ights, e receba análises, recomendações de investimentos e notícias do Seu Dinheiro.
O outro lado da Argentina
Quem se deu bem no período conturbado da Argentina foram os setores financeiro e de viagens. O gap cambial teve duas caras de uma mesma moeda.
De um lado, o real se fortaleceu contra o peso, tornando a Argentina um destino viável para turismo — e um dos preferidos dos brasileiros em 2023.
Nos primeiros sete meses, mais de 750 mil brasileiros foram à Argentina, estabelecendo um novo recorde para julho, com mais de 150 mil turistas.
CVC (CVCB3): operação no país ajudou
No caso da CVC, a operadora de turismo não só manda brasileiros para o país vizinho como também realiza pacotes de viagem para argentinos.
E os “hermanos” aproveitaram os meses que antecederam a eleição de Milei para viajar ao exterior, provavelmente antecipando a desvalorização do peso que viria em seguida.
“Na Argentina, a representatividade por destinos internacionais segue elevada, representando 92% das reservas confirmadas”, destacou a CVC, no relatório que acompanhou o último balanço.
Como resultado, a receita líquida da operação argentina da CVC aumentou 24,8% em relação ao quarto trimestre de 2022.
O número só não foi melhor porque a operadora de turismo precisou fazer uma provisão para contingência na Argentina de R$ 54,8 milhões.
Banco do Brasil também ganhou com a Argentina, porém…
Por fim, mas não menos importante, quem também divulgou um resultado positivo com a operação no país vizinho foi o Banco do Brasil (BBAS3).
O lucro líquido ajustado do quatro trimestre foi de R$ 9,4 bilhões e de R$ 36,5 bilhões em 2023, um recorde para o ano.
Uma das alavancas foi o resultado do Banco Patagônia, controlado pelo BB na Argentina, que teve números mais altos diante do efeito da variação cambial sobre os títulos atrelados ao dólar — em especial após a desvalorização do peso promovida por Milei.
VEJA TAMBÉM - O QUE FALTA PARA A BOLSA ANDAR EM 2024? AS AÇÕES DE THIAGO SALOMÃO
TikTok vê luz no fim do túnel: acordo de venda do aplicativo nos EUA é confirmado por Trump e por negociador da China
Trump também afirmou em sua rede social que vai conversar com o presidente chinês na sexta sobre negociação que deixará os jovens “muito felizes”
Trump pede que SEC acabe com obrigatoriedade de divulgação trimestral de balanços para as empresas nos EUA
Esta não é a primeira vez que o republicano defende o fim do modelo em vigor nos EUA desde 1970, sob os argumentos de flexibilidade e redução de custos
O conselho de um neurocientista ganhador do Nobel para as novas gerações
IA em ritmo acelerado: Nobel Demis Hassabis alerta que aprender a aprender será a habilidade crucial do futuro
China aperta cerco ao setor de semicondutores dos EUA com duas investigações sobre práticas discriminatórias e de antidumping contra o país
As investigações ocorrem após os EUA adicionarem mais 23 empresas sediadas na China à sua lista de entidades consideradas contrárias à segurança norte-americana
Trump reage à condenação de Bolsonaro e Marco Rubio promete: “os EUA responderão de forma adequada a essa caça às bruxas”
Tarifas de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros tiveram origem no caso contra Bolsonaro e, mais recentemente, a Casa Branca chegou a mencionar o uso da força militar para defender a liberdade de expressão no mundo
Como um projeto de fim de semana do fundador do Twitter se tornou opção em meio ao corte das redes sociais no Nepal
Sem internet e sem censura: app criado por Jack Dorsey ganha força nos protestos no Nepal ao permitir comunicação direta entre celulares via Bluetooth
11 de setembro: 24 anos do acontecimento que ‘inaugurou’ o século 21; eis o que você precisa saber sobre o atentado
Do impacto humano à transformação geopolítica, os atentados de 11 de setembro completam 24 anos
Bolsa da Argentina despenca, enquanto mercados globais sobem; índice Merval cai 50% em dólar, pior tombo desde 2008
Após um rali de mais de 100% em 2024, a bolsa argentina volta a despencar e revive o histórico de crises passadas
Novo revés para Trump: tribunal dos EUA mantém Lisa Cook como diretora do Fed em meio à disputa com o republicano
Decisão judicial impede tentativa de Trump de destituir a primeira mulher negra a integrar o conselho do Federal Reserve; entenda o confronto
EUA falam em usar poder econômico e militar para defender liberdade de expressão em meio a julgamento de Bolsonaro
Porta-voz da Casa Branca, Caroline Leavitt, afirmou que EUA aplicaram tarifas e sanções contra o Brasil para defender “liberdade de expressão”; mercado teme novas sanções
A cidade que sente na pele os efeitos do tarifaço e da política anti-imigrantes de Donald Trump
Tarifas de Donald Trump e suas políticas imigratórias impactam diretamente a indústria têxtil nos Estados Unidos, contrastando com a promessa de uma economia pujante
Uma mensagem dura para Milei: o que o resultado da eleição regional diz sobre os rumos da Argentina
Apesar de ser um pleito legislativo, a votação serve de termômetro para o que está por vir na corrida eleitoral de 2027
Mark Zuckerberg versus Mark Zuckerberg: um curioso caso judicial chega aos tribunais dos EUA
Advogado de Indiana acusa a Meta de prejuízos por bloqueios recorrentes em sua página profissional no Facebook; detalhe: ele se chama Mark Zuckerberg
Depois de duas duras derrotas em poucas semanas, primeiro-ministro do Japão renuncia para evitar mais uma
Shigeru Ishiba renunciou ao cargo às vésperas de completar um ano na posição de chefe de governo do Japão
Em meio a ‘tempestade perfeita’, uma eleição regional testa a popularidade de Javier Milei entre os argentinos
Eleitores da província de Buenos Aires vão às urnas em momento no qual Milei sofre duras derrotas políticas e atravessa escândalo de corrupção envolvendo diretamente sua própria irmã
Como uma missão ultrassecreta de espionagem dos EUA levou à morte de inocentes desarmados na Coreia do Norte
Ação frustrada de espionagem ocorreu em 2019, em meio ao comentado ‘bromance’ entre Trump e Kim, mas só foi revelado agora pelo New York Times
Ato simbólico ou um aviso ao mundo? O que está por trás do ‘Departamento de Guerra’ de Donald Trump
Donald Trump assinou na sexta-feira uma ordem executiva para mudar o nome do Pentágono para ‘Departamento de Guerra’
US Open 2025: Quanto carrasca de Bia Haddad pode faturar se vencer Sabalenka, atual número 1 do mundo, na final
Amanda Anisimova e Aryna Sabalenka se enfrentam pela décima vez, desta vez valendo o título (e a bolada) do US Open 2025
Warsh, Waller e Hasset: o trio que ganhou o “coração” de Donald Trump
O republicano confirmou nesta sexta-feira (5) que os três são os preferidos dele para assumir uma posição fundamental para a economia norte-americana
Como o novo pacote de remuneração da Tesla coloca Elon Musk no caminho de se tornar o primeiro trilionário da história
Com metas audaciosas e ações avaliadas em trilhões de reais, o CEO da Tesla, Elon Musk, pode ampliar seu império e consolidar liderança em carros elétricos, robótica e inteligência artificial