Vale a pena investir em Tesouro IPCA+ mesmo com a Selic em queda?
Leitor está interessado em título do Tesouro Direto, mas teme que, por ser um investimento de renda fixa, seja negativamente impactado pelos juros em queda
A taxa Selic sofreu mais um corte de 0,50 ponto percentual na última semana, passando de 11,25% para 10,75% ao ano.
O ciclo de corte de juros implementado pelo Banco Central brasileiro em meados do ano passado vem reduzindo a remuneração das aplicações de renda fixa.
E embora o investidor brasileiro goste muito dessa classe de ativos, quando a taxa básica está em queda sempre surgem dúvidas sobre a atratividade da renda fixa para além da reserva de emergência.
Existe ainda muito desconhecimento entre os investidores pessoa física brasileiros sobre o funcionamento da remuneração da renda fixa – que pode parecer bastante contraintuitiva para boa parte das pessoas – além da forma como os juros básicos afetam as taxas das aplicações.
Na coluna de hoje, respondemos à dúvida de um leitor sobre se ainda vale a pena investir em títulos públicos indexados à inflação mesmo com a Selic em queda.
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A maioria das pessoas acha que se a taxa Selic cai, automaticamente a renda fixa em geral fica menos atrativa. Mas não é bem assim que acontece.
No caso das aplicações pós-fixadas, isto é, atreladas ao CDI e à Selic, a rentabilidade realmente diminui conforme a Selic cai. É o caso dos títulos Tesouro Selic, do Tesouro Direto.
No caso dos prefixados e dos papéis atrelados à inflação (Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA+), não é possível afirmar isso categoricamente, pela forma como são remunerados.
Esses títulos têm parte ou a totalidade da sua rentabilidade prefixada. No caso dos prefixados, você já sabe quanto vai ganhar até o vencimento no momento da compra do título. Por exemplo, na última sexta-feira (22), quem comprasse o Tesouro Prefixado com vencimento em 2027 receberia 10,12% ao ano até o vencimento.
Já no caso dos indexados à inflação, como o Tesouro IPCA+ 2029 mencionado na pergunta, o título paga uma rentabilidade prefixada mais a variação da inflação medida pelo IPCA até o vencimento. Assim, quem comprasse o Tesouro IPCA+ 2029 na sexta-feira receberia 5,73% ao ano + IPCA no fim do prazo.
Essas taxas prefixadas são influenciadas pelos juros futuros, que são as expectativas do mercado para a taxa básica de juros em diferentes datas futuras – como, por exemplo, a data de vencimento dos títulos públicos.
Assim, os juros futuros guardam relação com a Selic, mas é mais com a Selic futura do que com a meta atual, fixada pelo Banco Central. Ou ainda, os juros futuros guardam relação com a trajetória esperada para a taxa Selic.
As taxas dos títulos públicos prefixados e indexados à inflação variam todos os dias de acordo com os juros futuros de mercado – se a perspectiva é de alta nos juros, as taxas sobem; se é de queda, elas caem.
Além disso, os preços desses títulos também variam: quando as taxas sobem, os preços caem, isto é, os títulos se desvalorizam; quando elas caem, os preços sobem, se valorizando.
Para o investidor do Tesouro Direto, porém, esse movimento só afeta quem porventura vende o título antes do vencimento.
Quem fica com o papel até o fim do prazo ganha exatamente a remuneração contratada no momento da compra, independentemente do que acontece com a Selic ou os juros futuros no meio do caminho.
Já quem vende o título antecipadamente deverá fazê-lo a preço de mercado. Assim, se as taxas tiverem subido desde a compra, o investidor resgatará seu papel por um preço menor, registrando um prejuízo; caso as taxas tenham caído, resgatará seu título por um preço mais alto, embolsando um lucro.
Então vale a pena ou não comprar o Tesouro IPCA+ 2029?
Feita essa explicação, vamos à resposta da pergunta. A Dinheirista não pode fazer recomendação de investimentos, mas pode fazer algumas considerações sobre o investimento no título Tesouro IPCA+ 2029:
1 - Como dito acima, a remuneração do Tesouro IPCA+ 2029 no momento está em 5,73% acima da inflação, e apesar das recentes quedas na taxa Selic – e da perspectiva de novos cortes pelo menos até o fim do ano – a taxa deste título tem aumentado, em vez de cair; isso porque os juros futuros até o vencimento subiram em razão de fatores como o risco fiscal brasileiro e a dura política monetária americana, como eu mostrei nesta matéria. Isso significa, por exemplo, que quem tinha esses papéis na carteira viu uma desvalorização dos seus títulos; mas para quem pretende comprar, as rentabilidades até o vencimento ficaram ainda mais atrativas – e os preços, mais baratos.
2 - Uma remuneração próxima de 6% + IPCA é historicamente elevada para um título público indexado à inflação. Rentabilidades acima deste patamar foram vistas nos momentos de mais elevada percepção de risco fiscal da história recente do Brasil. O país ainda não venceu este desafio, mas também não está num momento crítico para o fiscal. Isso significa que há espaço para uma queda nessas taxas futuramente, levando a uma valorização dos títulos, o que beneficiaria o investidor que quisesse vender seus papéis antes do vencimento.
3 - Se a intenção do investidor for ficar com o título até o seu vencimento, em 2029, então ele não precisa se preocupar tanto com essas flutuações de mercado. Ele vai receber, até lá, uma rentabilidade de mais de 5,5% ao ano garantida acima da inflação, o que, para todos os efeitos, não deixa de ser uma remuneração real interessante.
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Você pode conferir a resposta completa no vídeo abaixo ou diretamente no canal do Seu Dinheiro no YouTube:
A Dinheirista, pronta para resolver suas aflições financeiras (ou te deixar mais desesperado). Envie a sua dúvida para adinheirista@seudinheiro.com.
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