Embrião do ‘sonho grande’ de Jorge Paulo Lemann, Americanas (AMER3) agora ameaça o homem mais rico do país
Escândalo na companhia já reduziu patrimônio do bilionário e seus sócios em mais de US$ 1 bi, os obrigará a abrir a carteira e ainda arranhou sua reputação ao evidenciar a recorrência de más práticas contábeis nos seus negócios

“Sonhar grande dá o mesmo trabalho que sonhar pequeno”, diz a famosa frase do bilionário Jorge Paulo Lemann, homem mais rico do Brasil. Mas o rombo descoberto nos balanços das Americanas (AMER3), que resultou no seu pedido de recuperação judicial, está aí para provar que, em alguns casos, sonhar grande pode dar muito mais trabalho sim.
Admirado por financistas e empresários, Lemann, ao lado de seus sócios Marcel Telles e Beto Sicupira, agora se vê em uma berlinda: para além do impacto bilionário no bolso - o que, no entanto, ainda não será o suficiente para retirar os três da lista dos mais ricos - o escândalo contábil descoberto na varejista também pesa sobre a reputação dos empresários.
- Não sabe onde colocar seu dinheiro em meio a tantas incertezas? Aqui você pode conferir um material exclusivo e gratuito que reúne os investimentos mais promissores e resilientes que devem estar na sua carteira em 2023. CLIQUE PARA CONHECER.
A Americanas foi a primeira joia da coroa forjada pelo trio desde os anos 1980, o início do “sonho grande” de Lemann de transformar empresas brasileiras em colossos de sucesso muitas vezes global.
Hoje, a superendividada varejista demanda um aporte bilionário de seus “sócios de referência”, que já perderam mais de US$ 1 bilhão em patrimônio desde a divulgação das inconsistências contábeis, que derrubou os papéis da empresa em mais de 90%.
Além disso, trata-se do terceiro caso de inconsistências ou erros contábeis em balanços de uma empresa da qual Lemann, Telles e Sicupira são sócios, reforçando as suspeitas de fraude institucionalizada nesses negócios, onde a “contabilidade criativa” apareceria como um modus operandi próprio do modelo de negócios.
VEJA TAMBÉM - Americanas não foi o primeiro fracasso se Lemann e sócios: veja os outros 3 problemas contábeis que marcaram a história do trio
O início de um sonho grande…
Fundada em 1929 por um grupo estrangeiro como varejista voltada para o segmento de baixa renda, a então Lojas Americanas foi uma das primeiras empresas a abrir capital na bolsa de valores de São Paulo, ainda em 1940.
Leia Também
Em apuros financeiros no início dos anos 1980, a companhia começou a ter suas ações adquiridas pelo Garantia, banco de investimentos fundado por Lemann e que então já contava com Telles e Sicupira como sócios.
Em 1982, o trio conseguiu assumir o controle da empresa após pagar cerca de US$ 24 milhões por uma fatia de 70%. Era a primeira incursão do grupo financeiro na chamada “economia real”, a fim de levar a cabo a ideia de assumir diretamente a gestão da empresa para atingir os resultados desejados e recuperar o negócio.
Na visão de Lemann, ainda que tudo desse errado ao apostar na Americanas, seria possível embolsar algum dinheiro com a investida.
Beto Sicupira foi o escolhido para representar o Garantia nas Americanas. Inspirado na filosofia de controle agressivo de custos da rede americana Walmart, o empresário realizou uma série de cortes de gastos e pessoal, o que turbinou o valor de mercado da companhia em apenas seis meses.
Com a venda do Garantia para o Credit Suisse em 1998, Lemann, Telles e Sicupira mantiveram a sua participação em Americanas por meio do 3G Capital, seu veículo de investimentos, que também tem no portfólio as outras empreitadas do trio, como a Ambev, a Kraft Heinz e o Burger King.
Embora o 3G tenha deixado o controle da Americanas em meados de 2021, quando a companhia passou por uma reestruturação, os três ainda se mantêm como “acionistas de referência” e próximos do dia a dia do negócio.
…deu tudo errado?
Mesmo antes do fatídico fato relevante de 11 de janeiro, identificando o rombo estimado em R$ 20 bilhões no balanço da companhia, a Americanas já não estava mais no seu melhor momento.
Embora tenha sido pioneira nas vendas pela internet, com investimentos vultosos no e-commerce, a varejista foi ficando para trás frente a uma forte concorrência, crescente nos últimos anos, que conta com nomes como Magazine Luiza, Via, Mercado Livre e, mais recentemente, asiáticas como AliExpress, Shein e Shopee.
A ida de Sergio Rial para a presidência executiva da varejista, cuja contratação foi anunciada ainda em agosto do ano passado, foi um sopro de ar fresco nos negócios. Bem-visto pelo mercado, Rial era a aposta da companhia para voltar aos trilhos, mas em vez disso coube a ele a tarefa de ser o portador das más notícias.
Na quarta-feira da semana passada, o executivo deixou o comando da companhia após apenas 11 dias, depois de identificar inconsistências contábeis bilionárias nas demonstrações financeiras. Basicamente, a varejista estava lançando de maneira incorreta no balanço operações de financiamento feitas para pagar fornecedores.
Tal rombo evidenciou que o endividamento da companhia era muito maior do que se supunha, o que permitiu aos bancos anteciparem o vencimento de várias dívidas e até mesmo utilizarem recursos que a empresa mantinha depositados junto a eles para quitá-las.
Na última sexta-feira (13), a Americanas obteve na Justiça o direito de ter as cobranças de dívidas e penhora de bens suspensas por 30 dias, já em preparação para um pedido de recuperação judicial.
Isso fez com que os bancos, a começar pelo BTG Pactual, entrassem com recursos contra tal proteção em relação a dívidas que venceram e foram cobertas automaticamente logo que a inconsistência contábil foi divulgada.
O BTG obteve vitória nesse sentido e conseguiu bloquear uma parte do caixa da Americanas, que ficou estrangulado, obrigando a companhia a entrar com pedido de recuperação judicial já nesta quinta-feira (19).
A conta para Lemann, Telles e Sicupira
A derrocada das ações AMER3 na bolsa ainda não foi suficiente para tirar de Jorge Paulo Lemann o título de homem mais rico do Brasil, mas já o levou a cair no ranking dos bilionários da Forbes. Hoje, sua fortuna ainda é avaliada em US$ 15,8 bilhões. Marcel Telles e Beto Sicupira também perderam algumas posições.
E eles certamente também terão que abrir a carteira. No dia seguinte à divulgação do rombo bilionário, Sergio Rial, então já ex-CEO da companhia, fez uma teleconferência com investidores em que assegurou que Lemann, Telles e Sicupira fariam uma injeção de recursos na varejista, demonstrando que ainda acreditam no negócio e desejam recuperá-lo.
Em seguida, o trio propôs uma capitalização de R$ 6 bilhões, mas credores e analistas acreditam que menos de R$ 10 bilhões não é suficiente.
Foi fraude?
Dada a relativamente pequena participação das Americanas no patrimônio dos empresários, o maior risco para eles agora, no entanto, é o reputacional. Antes do caso da varejista, inconsistências e erros contábeis já haviam sido encontrados em duas outras empresas do portfólio do 3G.
Primeiro foi a empresa de logística ALL, que deu origem à Rumo (RAIL3), que precisou republicar seus balanços de 2013 e 2014 após ser adquirida pela Cosan (CSAN3) em 2015.
Mais recentemente, o escândalo foi internacional: a Securities and Exchange Commission (SEC), comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, multou a Kraft Heinz em US$ 62 milhões por erros contábeis.
Em ambos os casos, os lançamentos errôneos nos balanços inflaram o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) das empresas.
Agora, o “strike três” das Americanas deve resultar na quarta maior recuperação judicial da história do país e levanta a suspeita no mercado de que as inconsistências sejam, na verdade, frutos de uma prática intencional e recorrente nas empresas do 3G.
Credores da varejista a acusam de fraude. Em seus recursos à Justiça, o BTG Pactual usou palavras duras, dizendo que a crise pela qual passa a companhia foi causada por uma fraude confessada pelo seu antigo CEO (Rial) e que “numa crise de insolvência de uma empresa que tem na fraude contábil o seu modelo de negócio, não há função social subjacente que se possa preservar.”
Os advogados do BTG afirmaram ainda que, se não conseguissem garantir o pagamento devido pelas Americanas no valor de R$ 1,2 bilhão, o valor seria “evaporado por meio da gestão fraudulenta” da varejista ou, na melhor das hipóteses, incorporado a um longo processo de recuperação judicial.
Vigilantes do Peso sucumbe à concorrência do Ozempic e pede recuperação judicial nos Estados Unidos
Ícone das dietas fundado na década de 1960 é vítima do espírito do tempo e se viu obrigada a reestruturar dívida com credores, em meio a um passivo de US$ 1,5 bilhão
Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar
China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam
Tempo fechado: Voepass entra com pedido de recuperação judicial e culpa Latam
Essa é a segunda vez que a companhia entra com pedido de recuperação judicial; em jogo está uma dívida que gira em torno de R$ 400 milhões
Mil e uma contas a pagar: Bombril entrega plano de recuperação judicial para reestruturar dívida de mais de R$ 2 bilhões
Companhia famosa por seus produtos de limpeza entrou com pedido de recuperação judicial em fevereiro, alegando dívidas tributárias inconciliáveis
Mobly (MBLY3) acusa família Dubrule de ‘crime contra o mercado’ e quer encerrar OPA
Desde março deste ano, a família Dubrule vem tentando retomar o controle da Tok&Stok através de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA)
Até tu, Nvidia? “Queridinha” do mercado tomba sob Trump; o que esperar do mercado nesta quarta
Bolsas continuam de olho nas tarifas dos EUA e avaliam dados do PIB da China; por aqui, investidores reagem a relatório da Vale
Por que o Mercado Livre (MELI34) vai investir R$ 34 bilhões no Brasil em 2025? Aporte só não é maior que o de Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3)
Com o valor anunciado pela varejista online, seria possível comprar quatro vezes Magalu, Americanas e Casas Bahia juntos; conversamos com o vice-presidente e líder do Meli no Brasil para entender o que a empresa quer fazer com essa bolada
Mercado Livre (MELI34) vai aniquilar a concorrência com investimento de R$ 34 bilhões no Brasil? O que será de Casas Bahia (BHIA3) e Magalu (MGLU3)?
Aposta bilionária deve ser usada para dobrar a logística no país e consolidar vantagem sobre concorrentes locais e globais. Como fica o setor de e-commerce como um todo?
Smartphones e chips na berlinda de Trump: o que esperar dos mercados para hoje
Com indefinição sobre tarifas para smartphones, chips e eletrônicos, bolsas esboçam reação positiva nesta segunda-feira; veja outros destaques
Allos (ALOS3) entra na reta final da fusão e aposta em dividendos com data marcada (e no começo do mês) para atrair pequeno investidor
Em conversa com Seu Dinheiro, a CFO Daniella Guanabara fala sobre os planos da Allos para 2025 e a busca por diversificar receitas — por exemplo, com a empresa de mídia out of home Helloo
Barsi sem aversão a risco, CDBs do Banco Master e a ressaca do “sonho grande de Lemann”: o que bombou no Seu Dinheiro esta semana
De Barsi a Lemann, confira as reportagens que mais bombaram no SD esta semana
Ações da AgroGalaxy (AGXY3) sobem na bolsa após aprovação do plano de recuperação judicial
O plano foi aprovado na madrugada desta quinta-feira (10), depois de questionamentos dos credores
Dia de ressaca na bolsa: Depois do rali com o recuo de Trump, Wall Street e Ibovespa se preparam para a inflação nos EUA
Passo atrás de Trump na guerra comercial animou os mercados na quarta-feira, mas investidores já começam a colocar os pés no chão
Ambev (ABEV3) vai do sonho grande de Lemann à “grande ressaca”: por que o mercado largou as ações da cervejaria — e o que esperar
Com queda de 30% nas ações nos últimos dez anos, cervejaria domina mercado totalmente maduro e não vê perspectiva de crescimento clara, diante de um momento de mudança nos hábitos de consumo
Magazine Luiza (MGLU3) cai mais de 10% após Citi rebaixar a ação para venda — e banco enxerga queda ainda maior pela frente
Entre os motivos citados para o rebaixamento, o Citi destaca alta competitividade e preocupação com o cenário macro
Michael Klein volta atrás em pedido de assembleia e desiste de assumir a presidência do conselho da Casas Bahia (BHIA3)
O empresário vinha preparando o terreno para voltar à presidência do conselho, mas decidiu dar “um voto de confiança” para a diretoria atual
Após prejuízo de R$ 2,9 bilhões, Oi (OIBR3) quer pagar R$ 199 milhões a executivos; ações caem forte na bolsa
A proposta, que será discutida em assembleia geral no fim do mês, indica o pagamento de R$ 199 milhões entre 2025 e 2027, o que representa aumento de 42,5%
Sem aversão ao risco? Luiz Barsi aumenta aposta em ação de companhia em recuperação judicial — e papéis sobem forte na B3
Desde o início do ano, essa empresa praticamente dobrou de valor na bolsa, com uma valorização acumulada de 97% no período. Veja qual é o papel
Disputa aquecida na Mobly (MBLY3): Fundadores da Tok&Stok propõem injetar R$ 100 milhões se OPA avançar, mas empresa não está lá animada
Os acionistas Régis, Ghislaine e Paul Dubrule, fundadores da Tok&Stok, se comprometeram a injetar R$ 100 milhões na Mobly, caso a OPA seja bem-sucedida
CFO da Gol (GOLL4) renuncia ao cargo em meio ao adiamento do fim do processo de recuperação judicial nos EUA
A renúncia do CFO vem acompanhada do adiamento do processo de RJ da Gol nos EUA, que estava previsto para acabar ainda neste mês