Se não fosse a presença de três dos homens mais ricos do Brasil como acionistas de referência da Americanas, o BTG Pactual (BPAC11) não teria concedido tanto crédito assim à varejista. A consideração foi feita pela direção do próprio banco nesta segunda-feira (13) após a divulgação dos resultados do quarto trimestre.
“A gente entendia que, dada a história e o poder dos acionistas, a empresa merecia mais crédito. Sem contar com o apoio dos acionistas, a gente provavelmente teria exposição menor”, disse o diretor financeiro do banco, Renato Cohn, durante coletiva com jornalistas.
Mas Cohn garantiu que não há outros clientes do BTG Pactual que dispõem da mesma abordagem. De acordo com o CFO, o caso Americanas é o único que a exposição de crédito excede os parâmetros de concessão devido à figura dos acionistas.
“Eles excediam porque a gente entendia que os controladores eram importantes e suportariam a empresa”, disse Cohn.
As declarações aconteceram sem citar os nomes de Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira, Marcel Telles e da própria Americanas, como tem sido de praxe na comunicação dos bancos sobre o caso. E, assim como fizeram o Bradesco e o Itaú, o BTG também classificou o evento como fraude.
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BTG: provisão cobre 60% da exposição à Americanas
O BTG Pactual foi um dos primeiros bancos a levar a briga com a Americanas (AMER3) para os tribunais logo após a revelação das “inconsistências contábeis” bilionárias - e também será um dos que verá seus resultados de 2023 afetados pela crise na varejista.
Isto porque o banco provisionou apenas uma parte da sua exposição à companhia no balanço do quarto trimestre de 2022. Assim, os efeitos do andamento do caso devem continuar impactando os resultados do banco.
No total, as dívidas da Americanas com o BTG somam cerca de R$ 3,5 bilhões, mas o banco provisionou apenas R$ 1,123 bilhão por linhas de crédito concedido à varejista. Considerando apenas esses números, o BTG teria se protegido de apenas 34% do risco Americanas.
Porém, o banco obteve uma vitória na Justiça para compensar R$ 1,2 bilhão que estavam depositados na conta do BTG, dados como garantia para empréstimos concedidos à Americanas.
Além disso, outros R$ 400 milhões estão cobertos por resseguradoras com as quais o BTG tem contrato. Isso leva a exposição líquida do BTG à Americanas para R$ 1,9 bilhão e, portanto, a provisão de R$ 1,2 bilhão corresponde a 63% do crédito.
Segundo o diretor financeiro, a expectativa é de que o banco consiga recuperar até mais do que o valor provisionado.
Resultado misto
Para alguns analistas, o resultado do BTG veio melhor do que o esperado, mas, na visão de outros, não há muito o que celebrar.
O banco de investimentos teve lucro líquido de R$ 1,767 bilhão nos últimos três meses de 2022, praticamente inalterado em relação ao mesmo período de 2021.
De acordo com a analista da Empiricus Larissa Quaresma, o grande receio era o tamanho do impacto da Americanas, que acabou sendo até mais leve do que o antecipado.
“Retirando esse efeito, o resultado teria superado as expectativas”, disse.
Sem o cálculo relacionado à varejista, o lucro do BTG seria de R$ 2,347 bilhões — ou seja, um crescimento de 32%.
A XP, por sua vez, deu ênfase ao número com efeito Americanas e destacou que o nível de provisionamento não elimina a possibilidade de novos impactos relacionados ao caso em 2023.
As perspectivas para o ano também preocuparam analistas do Itaú BBA, que viram o guidance da carteira de crédito do BTG com crescimento de 15% como ambicioso.
“Nós vemos algum perigo nesse otimismo devido à aceleração da inadimplência corporativa neste ano. Além disso, destacamos que o BTG encerrou o trimestre com um nível relativamente baixo de provisões”, disse o Itaú BBA.
Confira as recomendações para a ação do BTG Pactual (BPAC11) das casas às quais tivemos acesso:
BANCO | RATING | PREÇO-ALVO |
Goldman Sachs | COMPRA | R$ 33 |
XP | NEUTRO | R$ 30 |
Itaú BBA | NEUTRO | R$ 29 |
UBS BB | NEUTRO | R$ 29 |
EMPIRICUS | COMPRA | - |