O Banco Central anuncia nesta quarta-feira, após o fechamento do mercado, a decisão sobre a taxa básica de juros (Selic). Os diretores que fazem parte do Comitê de Política Monetária (Copom) estão sob intensa pressão do governo para baixar as taxas o quanto antes.
Mas pelo menos um número deve fazer com que o BC comandado por Roberto Campos Neto siga na defensiva e mantenha a Selic nos atuais 13,75% ao ano: o avanço da inflação de serviços.
Impulsionados pelo aumento da demanda e pelo repasse de custos, ambos reprimidos no auge da pandemia, os preços no setor deram um salto neste início de ano.
Em fevereiro, a inflação de serviços se descolou do IPCA, de 0,84%, e subiu 1,41%. A alta foi mais do que o dobro da de janeiro (0,6%) e a maior marca mensal em quase 20 anos.
O número só ficou abaixo da inflação de serviços de fevereiro de 2004 (1,57%), de acordo com a LCA Consultores. Em 12 meses até fevereiro, os preços dos serviços subiram 7,84% e superaram a inflação do período, de 5,6%.
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Educação pressiona a inflação de serviços
No mês passado, de 28 itens não alimentícios do IPCA que tiveram os maiores reajustes de preços, mais da metade (18) foi serviços. O destaque ficou com a educação: o reajuste de 6,4%, em média, em fevereiro, superou o de anos anteriores.
Pacotes turísticos com alta de 2,09% em fevereiro, costureira (1,42%), consulta médica (1,39%), aluguéis residenciais (0,88%), manicure, cabeleireiro e barbeiro (0,71%) também chamaram a atenção.
Aliás, no caso dos aluguéis, há um componente extra. Com a elevação da taxa de juros dos financiamentos imobiliários, que beiram 11% ao ano, influenciada pelo juro básico (Selic), a compra da casa própria ficou inviável, de acordo com o economista Fabio Romão, da LCA Consultores.
O resultado foi o aumento da procura por locação e a pressão nos aluguéis. Em 12 meses até fevereiro, os aluguéis residenciais subiram 6,94%.
Outro fator que tem se refletido nos preços dos serviços é aumento do custo da mão de obra, especialmente por conta da sinalização do reajuste do salário mínimo acima da inflação, observa o economista da LCA.
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Mercado prevê Selic estável
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o presidente do BC, Roberto Campos Neto, na véspera da decisão do Copom.
Em entrevista, o petista afirmou que é "irresponsabilidade" da autoridade monetária manter os juros em 13,75% e disse achar que Campos Neto não tem compromisso com a lei que determinou a autonomia do BC.
Pressões à parte, a ampla expectativa do mercado é que o Copom mantenha a Selic nos atuais 13,75% ao ano na reunião de hoje. Ainda mais depois de o governo adiar o anúncio da nova âncora fiscal.
Por fim, as apostas de estabilidade dos juros na B3 estavam em 96% ontem, contra apenas 4% que esperavam uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa.
*Com informações do Estadão Conteúdo