Putin driblou as sanções? Como a Rússia encheu seus cofres com US$ 66 bilhões em dois meses de guerra
País tem usado os recursos bilionários para seguir adiante com a invasão da Ucrânia, revela estudo do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, um grupo de pesquisa independente
A Rússia enfrenta um tsunami de sanções impostas pelas potências ocidentais, que tentam parar a guerra na Ucrânia sem pegar em armas. Apesar dos efeitos devastadores para a economia russa — que deve encolher 10% este ano — o presidente Vladimir Putin conseguiu encher os cofres do país com US$ 66 bilhões nos dois primeiros meses de conflito.
Como isso foi possível? Segundo o Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, um grupo de pesquisa independente, apesar das sanções, a Rússia conseguiu lucrar com a exportação de gás natural, beneficiando-se do aumento dos preços das commodities.
O estudo mostra que as entregas estrangeiras de petróleo feitas pela Rússia caíram 20% nas três primeiras semanas de abril em comparação com o período anterior à invasão.
No entanto, a economia russa conseguiu compensar volumes mais baixos com preços mais altos, o que significa que a receita quase dobrou em relação ao ano anterior, apesar das restrições às exportações.
Dados da S&PGlobal Commodities Insight mostram que os preços do gás natural na Alemanha atingiram o pico no dia 7 março, a US$ 67,8 por MMBtu (uma unidade que equivale a 26,8 metros cúbicos), e estão 17% mais elevados desde o início da guerra, em 24 de fevereiro. Considerando o início do ano, os preços chegaram a subir 230%.
Relatório divulgado este mês pelo Banco Mundial mostra que os preços do gás natural devem ser significativamente mais altos este ano — muito em função da guerra —, com os valores na Europa projetados para alcançar mais do que o dobro dos níveis de 2021.
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Confira abaixo a tabela com os preços do gás natural, em MMbtu por dólar. Os valores indicados nos anos de 2022, 2023 e 2024 referem-se a projeções:
Gás Natural | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024 |
Europa | 3,2 | 16,1 | 34 | 25 | 22,3 |
EUA | 2 | 3,9 | 5,2 | 4,8 | 4,7 |
Alemanha: a maior compradora do gás russo
Do total de US$ 66 bilhões em dois meses de guerra, a União Europeia (UE) importou 71% dos combustíveis fósseis russos, no valor de US$ 46 bilhões, segundo o Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo.
Esse montante pode ser comparado aos US$ 147 bilhões em importações de todo o ano de 2021, ou cerca de US$ 12,3 bilhões por mês.
A Alemanha foi o maior importador, com US$ 9,6 bilhões. Itália, China, Holanda, Turquia e França também estão na lista de grandes compradores do gás russo.
A UE tem lutado para se livrar da dependência das importações da Rússia, especialmente em relação ao gás. Dados do instituto Breugel mostram que as importações de gás russo pelo bloco foram 26% menores na primeira semana de abril do que no mesmo período de 2021.
Financiando a guerra na Ucrânia
Segundo o Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, as exportações de combustíveis fósseis ajudaram a financiar a guerra contra a Ucrânia, sendo “um fator chave para o aumento militar da Rússia e a agressão brutal contra a Ucrânia".
O centro lembra que a UE e muitos países europeus já anunciaram novas metas, políticas e medidas ambiciosas de energia limpa e eficiência energética — que substituirão as importações da Rússia nos próximos anos.
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