O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto voltou a avaliar, nesta quarta-feira (1º), que o choque atual de commodities produz efeitos positivos para o Brasil.
Mas, por outro lado, cria um problema social devido ao aumento de preços de energia, combustíveis e alimentos.
"Começamos a ver inflação ficar mais alta e as pessoas estão preocupadas com as questões verdes. Estamos vendo que tipos de risco temos de tomar. É melhor o risco de fazer mais e sair um pouco do nosso mandato", disse Campos Neto ao se referir às políticas do Banco Central de controle dos preços, em painel na "The Green Swan Conference".
Segundo ele, há algumas opções para lidar com esse problema atual de choque de commodities. O primeiro é deixar os preços equilibrarem o mercado, reduzindo o consumo. "Mas isso não é socialmente nem politicamente viável."
A segunda opção é intervir nos preços, como em vários países neste momento, o que pode desencorajar investimentos. "E acho que é o setor privado que vai resolver o problema no final, e não o governo."
Por fim, ele comentou que é possível usar o choque positivo provocado pelas commodities, com mais exportações e arrecadação de impostos, para lidar com o problema social, via subsídios.
"É uma boa solução, mas há o risco de virar uma despesa permanente. No fim, lidar com esse problema é chave e vai influenciar como veremos essa questão no futuro."
'Alertas vermelhos'
O presidente do Banco Central avaliou também que há "alertas vermelhos" por todos os lados na agenda de transição para a economia mais verde, como na crise energética e de alimentos. "Temos alguns tipos de protecionismo em áreas de alimentação e energia."
Para ele, há mais preocupação com a produção de alimentos do que com a crise climática. "No caso de energia, vamos arrumar isso rápido, com Capex. Vamos encontrar recursos alternativos e mais sustentáveis, renováveis. Acho que a questão vai se resolver logo. A questão da comida pode demorar mais."
Segundo Campos Neto, é preciso encontrar eficiência para resolver questões climáticas. "Para mim, solução é pelo preço, como a criação de um mercado de carbono."
Campos Neto citou que hoje há o problema inicial de que os elementos para construir uma economia mais sustentável dependem de fatores e tecnologias que hoje não são verdes.
"Vou começar reagindo ao que Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, disse sobre inflação verde e a fóssil. Inflação verde pode se tornar um impedimento para inflação fóssil no futuro. Tecnologia para ter menos inflação fóssil depende de elementos que causam inflação verde. O pêndulo balança muito."
Agenda verde no Banco Central
Campos Neto afirmou também que, no Brasil, políticos entendem que é preciso contemplar também área verde nas decisões da autoridade monetária.
"Os questionamentos sobre mandato vêm mais de mercado do que de governo", afirmou ao ser questionado pelo presidente do Banco da França, François Villeroy de Galhau, sobre a pressão dos governos de que os bancos centrais estejam mais focados em minimizar a alta da inflação do que necessariamente contemplar ações na área de clima em suas atividades.
Campos Neto adiantou que o BC brasileiro estuda uma linha destinada a bancos para terem liquidez para instalarem projetos em áreas verdes. Na avaliação do presidente do BC brasileiro, é preciso que as autoridades monetárias convirjam para padrões internacionais sobre o clima. "A pergunta é sobre quão e rápido vamos conseguir fazer isso", comentou.
Ele enfatizou que a produção agrícola é muito grande no Brasil e que este setor é diferente da indústria em termos de produtos, por exemplo. Por fim, Campos Neto garantiu que o país tem compromissos com padrões internacionais.
Banco Central: Sustentabilidade em pauta
Em sua primeira participação na mesa redonda, Campos Neto chegou a citar as ações da agenda de sustentabilidade do BC, um programa de três anos, criado em 2020, com cinco dimensões.
Segundo o presidente da autarquia, o principal projeto é o "green bureau ou bureau verde, que é uma forma de estabelecer critérios sociais, ambientais e climáticas às operações de crédito rural.
"Está bem avançado. Nós acreditamos que bureau verde é um piloto para taxonomia verde", disse, repetindo avaliação da diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC, Fernanda Guardado, na terça-feira.
Uma segunda parte são os testes de estresse das instituições financeiras com parâmetros verdes. Segundo Campos Neto, há um "trade off" entre o curto prazo e o longo prazo, com alguns bancos reclamando que é muita informação no curto prazo.
O presidente do BC também considerou que o fato de ter adotado padrões ESG nas reservas internacionais é desafiador, porque o Brasil tem grandes reservas e é preciso ser transparente em relação a isso. "Não é sobre disclosure, mas sobre sua qualidade."
Campos Neto ainda disse que um desafio na agenda verde são os dados. "Temos preocupação que tudo seja padronizado e comparável", disse, citando a necessidade de uma taxonomia. "Começamos a criar padrões para empréstimos."
*Com informações de Estadão Conteúdo