Tambores de uma nova guerra? Entenda por que Taiwan coloca China e Estados Unidos em pé de guerra
Visita de Nancy Pelosi a Taiwan acirra tensões entre Estados Unidos e China em meio a disputa por hegemonia global

A China tem uma ambição. O gigante asiático almeja tornar-se uma potência global hegemônica sem precisar entrar em guerra por isso. A “ascensão pacífica” está inscrita há décadas no centro da doutrina chinesa de política externa.
O romantismo da doutrina contrasta com a postura pragmática da diplomacia chinesa nas relações internacionais.
Também conflita com a realidade do xadrez geopolítico global: não há registro na história conhecida da humanidade de alguma potência que tenha se tornado hegemônica sem uma guerra.
Agora essa doutrina é posta à prova pelas recentes investidas dos Estados Unidos em relação a Taiwan.
Na mais recente delas, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, desembarcou nesta terça-feira em Taipé para uma visita oficial. Trata-se da primeira visita do gênero em um quarto de século.
China vê presença de Pelosi como provocação
Analistas não enxergam um cenário no qual os chineses considerem a viagem como qualquer outra coisa que não seja uma provocação.
Leia Também
A China ameaça com uma resposta à altura, embora não esteja claro o que Pequim considera “uma resposta à altura”.
Há relatos de que caças chineses teriam realizado manobras sobre o Estreito de Formosa durante o voo noturno de Pelosi, mas não se sabe se houve contato ou aproximação com a aeronave.
Tensão militar entre EUA e China é crescente
Certamente há quem sinta falta dos tempos da guerra comercial entre Estados Unidos e China.
A visita de Pelosi ocorre em um momento no qual a tensão entre Washington e Pequim ganha contornos militares e atravessa uma escalada vertiginosa.
Enquanto a Marinha dos Estados Unidos aumenta sua presença nos mares da região, caças chineses têm intensificado os sobrevoos nas proximidades do espaço aéreo de Taiwan.
Há pouco mais de duas semanas, o Departamento de Estado dos EUA autorizou a venda de assistência militar ao governo de Taiwan.
A questão é até que ponto as tensões se manterão sem desencadearem uma espiral de violência.
Por que Taiwan é importante para a China
Taiwan é a peça que falta para a reunificação da China.
O rompimento ocorreu em 1949.
Depois de terem lutado lado a lado para expulsar os invasores japoneses, as forças nacionalistas e comunistas chinesas voltaram-se uma contra a outra depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
Diante da vitória dos comunistas sobre os nacionalistas, Mao Tsé-tung estabeleceu-se em Pequim, fundando a República Popular da China.
Já as tropas lideradas por Chiang Kai-shek refugiaram-se na Ilha Formosa, onde foi fundada a República da China.
A fuga dos nacionalistas para Taiwan contou com o apoio dos Estados Unidos. Assim como a presença taiuanesa no poderoso Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU), o que durou até o início dos 1970.
Foi quando a reaproximação entre Pequim e Washington refez o xadrez geopolítico internacional ainda no contexto da Guerra Fria.
A intenção original de Henry Kissinger, então conselheiro de segurança nacional de Richard Nixon, era tirar proveito das divergências entre a China e a União Soviética para potencializar um racha no bloco comunista.
Essa parte da estratégia funcionou bem. O que Kissinger talvez tenha deixado de fora da equação foram a capacidade de organização e a disciplina dos chineses.
A partir de um plano de reformas implementado a partir dos anos 1980, a China saiu de uma economia eminentemente agrícola para transformar-se em uma potência industrial, econômica e tecnológica.
Uma só China
Com o passar das décadas, a política de “uma só China” defendida por Pequim prevaleceu. Em resumo, o país que mantém relações com a República Popular da China reconhece a existência de uma só China. O mesmo vale para o outro lado.
Atualmente, Taiwan é plenamente reconhecido por pouco mais de uma dúzia de países. Nem mesmo os Estados Unidos, principais patrocinadores externos do arquipélago, mantêm relações diplomáticas plenas com Taiwan.
Um país, dois sistemas
É justamente com base na ideia de que existe apenas uma China que Pequim propõe o modelo de “um país, dois sistemas”.
Aplicada com sucesso em Hong Kong desde 1997, a China desenvolveu a política com a reunificação em mente.
No modelo de “um país, dois sistemas”, Pequim mantém o sistema econômico e permite o funcionamento de um ambiente político autônomo no arquipélago em torno da Península de Kowloon.
Em contrapartida, depois de ter passado mais de um século sob domínio do Reino Unido, o governo de Hong Kong passou a reconhecer-se como parte da China.
Assim como aguardou pacientemente pela reassimilação de Hong Kong, o governo chinês busca abordagem similar em relação a Taiwan na expectativa de que a promessa de aplicação do modelo de “um país, dois sistemas” ajude a conquistar corações e mentes entre os taiuaneses.
É (também) a economia
Nesse aspecto, é necessário levar em consideração a questão econômica.
Ao mesmo tempo em que não pretende ir à guerra para reaver a ilha formosa, a China promoveu nas últimas décadas uma espécie de assimilação econômica.
A simbiose é tamanha que Taiwan teria problemas se cortasse as relações comerciais com a China e os chineses passariam maus bocados sem os vultosos e constantes investimentos taiuaneses.
Em princípio, o governo chinês acredita que a manutenção da abordagem e a paciência serão fatores decisivos para que, eventualmente, Taiwan caia em seu colo pacificamente.
O que pode dar errado - ou não
Analistas consideram improvável que a China abra mão repentinamente da doutrina de ascensão pacífica, principalmente por entender as ações norte-americanas como provocações.
Ao mesmo tempo, há outros fatores que precisam ser levados em conta. Para além da ambição de “ascensão pacífica”, a assimetria de poderio bélico entre Estados Unidos e China é colossal.
Embora Washington e Pequim liderem o ranking global de gastos em armas, o orçamento militar norte-americano é muito maior.

Num exemplo mais extremo, levemos em consideração o fato de ambos os países possuírem armas nucleares, o que garantiria capacidade de destruição mútua no caso de uma guerra atômica.
Os EUA dispõem de 5.428 ogivas nucleares, segundo cálculos da Federação dos Cientistas Norte-americanos). O arsenal atômico chinês é estimado em 350 bombas.
Também é bastante assimétrica a capacidade norte-americana de infligir danos ao território chinês.
A China não dispõe de nenhuma base militar fora de suas fronteiras. Ela só seria capaz de atacar o território dos EUA por meio do lançamento de mísseis balísticos.
Diante da capacidade norte-americana de defesa antimísseis e da distância entre os dois países, as chances de sucesso de um ataque do gênero são baixas.
Já os EUA mantêm bases militares em diversos países próximos à China, como Japão, Coreia do Sul, Filipinas e Tailândia. Isso sem contar uma série de bases e navios de guerra espalhados pelos Oceanos Pacífico e Índico.
Para os Estados Unidos, embora seu poderio militar seja inigualável e conter a ascensão chinesa faça parte de sua estratégia para manter-se na condição de potência hegemônica global e inconteste, uma guerra direta contra outra potência nuclear também não é vista como um cenário desejável.
- GOSTOU DESTE CONTEÚDO? Tenha acesso a ideias de investimento para sair do lugar comum, multiplicar e proteger o patrimônio.
Após alertar Pelosi para não visitar Taiwan, China realiza exercícios militares na costa em frente à ilha
O Ministério da Defesa chinês alertou Washington, na última semana, para não permitir que a presidente da Câmara dos Deputados americana visite Taiwan
Como a crise imobiliária na China pulverizou metade da fortuna da mulher mais rica da Ásia
Yang Huiyan viu sua fortuna de US$ 23,7 bilhões cair pela metade nos últimos 12 meses; a bilionária controla a incorporadora Country Graden
Enquanto Rússia corta gás para a Europa, gasoduto que leva a commodity à China está perto da conclusão
O canal de transporte do gás natural está em fase final de construção e interliga a Sibéria a Xangai; a China aumentou o fornecimento da commodity russa em 63,4% no primeiro semestre deste ano
Por que a China e o Japão estão se desfazendo – em grande escala – de títulos do Tesouro do Estados Unidos
Volume de Treasuries em poder da China e do Japão estão nos níveis mais baixos em anos com alta da inflação e aumento dos juros nos EUA
China impulsiona minério de ferro ao prometer financiamento ao setor imobiliário; Vale (VALE3) sobe mais de 2%
Governo chinês age para mitigar os crescentes riscos financeiros decorrentes da desaceleração do mercado imobiliário do país
Estados Unidos sob ameaça: em meio ao furacão econômico e sob comando de Joe Biden, China pode derrubar domínio global americano e criar novo império econômico no mundo
Com a inflação dos últimos 40 anos, os Estados Unidos estão passando por uma grande turbulência econômica e isso pode abrir uma ‘brecha’ para a China criar um novo império econômico global, na opinião do colunista do Seu Dinheiro Ivan Sant’anna
Biden junta forças: EUA quer fortalecer competitividade contra a China; saiba como
Um projeto de lei, que prevê atrair empresas de semicondutores da China aos EUA, deve entrar em pauta nesta semana, no Congresso americano
Efeitos da flexibilização da política de “covid zero”? Inflação avança na China; entenda
A China registrou uma alta de 2,5%, em junho, no Índice de Preços ao Consumidor, que mede a inflação; alta dos combustíveis é um dos “vilões”
China compra cerca de 300 aviões da Airbus, em novo golpe à rival Boeing
A Boeing citou repetidamente a China como essencial para seus planos de crescimento da produção, mas perdeu para a rival Airbus na encomenda mais recente do gigante asiático
Fim da política de “covid zero” na China? Flexibilização da quarentena anima os investidores e as bolsas internacionais avançam
A partir desta terça-feira, o período de quarentena exigido para viajantes internacionais cairá pela metade, para sete dias de quarentena centralizada e três de isolamento domiciliar
Dona do aplicativo 99, a Didi ressurge na bolsa com fim da proibição na China; ações disparam mais de 50% na Nasdaq
A chinesa estava barrada desde julho de 2021 de adicionar novos usuários à plataforma, mas deve poder recolocar o aplicativo nas lojas digitais do país já na próxima semana
Um negócio da China: Gigante Asiático tenta unir combate a covid-19 e avanço econômico — mas racha no Partido Comunista fica exposto; entenda
A disputa entre o presidente e o primeiro-ministro chinês expõe visões diferentes sobre a direção da economia e proteção à população
Inflação no Brasil e nos EUA, atividade e juros na Europa; confira a agenda completa de indicadores econômicos da semana que vem
Nesta semana, o grande destaque no Brasil fica por conta do IPCA, o índice de inflação que serve de referência para a política monetária do BC
PIB do 1º tri e inflação na Zona do Euro: confira a agenda dos indicadores da semana aqui e no exterior
Nesta semana, o destaque entre os indicadores é o PIB brasileiro no primeiro trimestre. Lá fora, inflação e atividade também estão no centro
É semana de PIB! Saiba o que esperar da atividade no Brasil e confira o calendário completo de indicadores da semana
Teremos a oportunidade de entender melhor como a economia brasileira tem se comportado em um cenário de juros em alta e inflação crescente pelo mundo
Duelo de titãs: Biden dá ultimato à China e enfurece Xi Jinping; veja o que o presidente dos EUA disse
O chefe da Casa Branca está em viagem ao Japão — a primeira ao país, um importante aliado na Ásia, desde que tomou posse — e não economizou provocações a Pequim
Ata do Fed e IPCA-15: confira a agenda de indicadores da semana aqui e lá fora
Nos Estados Unidos, a segunda prévia do PIB no primeiro trimestre também é destaque; na Europa, o PIB da Alemanha é o principal dado
Em semana de ata do Fed, destaque no Brasil fica por conta do IPCA-15; confira a agenda completa de indicadores
Nos Estados Unidos, a segunda prévia do PIB no primeiro trimestre também é destaque; na Europa, o PIB da Alemanha é o principal dado
China corta juros para estimular setor imobiliário e commodities operam em forte alta
A medida adotada pelo banco central chinês visa impulsionar o mercado imobiliário, o que favorece as produtoras de commodities
Artilharia pesada: Ucrânia terá US$ 40 bi dos EUA contra Putin; Rússia responde com apoio da China
Se de um lado a Rússia tem uma ajuda indireta de Pequim com a compra de petróleo, de outro, Kiev conta com recursos polpudos aprovados pelo Congresso norte-americano