A palavra “incerteza” gera calafrios na espinha dos investidores, mas a concretude do pior cenário possível também não agrada. O Federal Reserve, o Banco Central americano, confirmou os temores do mercado na ata da sua última reunião e esse fantasma deve refletir no pregão desta quinta-feira (06) em todo o mundo.
A retirada dos estímulos à economia, movimento conhecido como tapering, começará antes do esperado. Os juros também devem subir antes — e mais — para conter a maior inflação dos EUA em 30 anos.
Com isso, a curva de juros disparou por lá, com os retornos dos títulos do Tesouro americano, os chamados Treasuries, em alta de até 2%. Um retorno maior dos ativos de menor risco da economia mundial deve retirar o interesse de grandes investidores por países emergentes — e o Brasil, em especial, deve ser o patinho feio da história.
O risco fiscal do país segue nas alturas. A ameaça ao teto de gastos, os dribles fiscais com a já aprovada PEC dos precatórios e a desoneração da folha de pagamento sem a compensação adequada para a renúncia da receita ligam um sinal vermelho para o crime de responsabilidade fiscal.
Tudo isso em um ano de eleição que irá chacoalhar a bolsa brasileira.
Saiba o que esperar do pregão de hoje:
Um gavião muito grande
A divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve, o Banco Central americano, na última quarta-feira (05) caiu como uma bomba nos mercados.
O discurso de inflação transitória foi jogado na lata do lixo, e o remédio para correr atrás do prejuízo não poderia ser diferente — nem mais amargo. Além da redução da compra de ativos, o que deve influenciar diretamente na quantidade de dinheiro disponível para os investidores, a alta nos juros americanos já está marcada para março deste ano.
O Fed carrega hoje mais de US$ 8 trilhões em ativos no balanço. Não é por acaso, portanto, que os investidores tremem só de pensar na possibilidade de o BC norte-americano começar a desovar esses papéis no mercado.
E ninguém escapou
Os ativos de risco sofreram com o anúncio de que o Fed irá fechar a torneira do dinheiro nos mercados ainda mais rapidamente que o esperado, e nem as criptomoedas ficaram de fora.
Durante a madrugada no Brasil, o bitcoin (BTC) aprofundou a queda e passou a recuar 8,57%, cotado a US$ 42.755,21 (R$ 244.065,35). Com exceção das stablecoins, as criptomoedas com lastro, todas as dez maiores criptos do mundo caem mais de 10%.
Nada novo em solo brasileiro
O Ibovespa já destoava do otimismo das bolsas internacionais desde a primeira segunda-feira de 2022. A piora do sentimento internacional com a ata do Fed fez o principal índice da B3 aprofundar as perdas e recuar mais 2,42% na sessão de ontem (05), aos 101.006 pontos, nível mais baixo desde novembro de 2021.
O dólar à vista, que operou em queda na primeira etapa do pregão, subiu 0,39%, aos R$ 5,7351.
Como se não bastasse um exterior negativo, o cenário doméstico não ajuda. A desoneração da folha de pagamento, medida sancionada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, tem gerado debates que, em última instância, podem fazer a MP ser considerada crime de responsabilidade, o que poderia motivar um impeachment.
Segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), deve haver uma compensação para a renúncia de receitas, o que não ocorreu com a MP de Bolsonaro. Técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) e da equipe econômica temem por uma abertura de processo por crime de responsabilidade.
O que diz a MP
A medida provisória de desoneração da folha de pagamento retira encargos trabalhistas de 17 setores da economia, considerados os que mais geram empregos no país.
O alívio tributário está em vigor desde 2011, e desta vez foi apenas prorrogado, pois expiraria no fim de 2021. Pela desoneração da folha, as empresas beneficiadas recolhem alíquotas de 1% a 4,5% sobre o faturamento, em vez de 20% sobre a folha de salários.
Para os técnicos do TCU, deveria haver uma compensação para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) porque, segundo os servidores, essa revisão do cálculo do teto de gastos abre um espaço artificial nas contas públicas, e a renúncia fiscal pode chegar a R$ 9,08 bilhões.
Bolsas pelo mundo
Os principais índices asiáticos encerraram o pregão desta quinta-feira majoritariamente em baixa após a ata mais dura do Federal Reserve contra a inflação.
De maneira semelhante, as bolsas europeias também registram perdas após a abertura, de olho na redução da liquidez dos mercados globais causada pelo aperto monetário do Fed.
Por fim, os futuros de Nova York apontam para a mesma direção, e a abertura deve ser no campo negativo, com os investidores se ajustando ao novo cenário imposto pelo BC americano.
Agenda do dia
- FGV: IGP-DI de dezembro e de 2021 (8h)
- IBGE: Produção Industrial de novembro (9h)
- Estados Unidos: Pedidos de auxílio-desemprego (10h30)
- Estados Unidos: Balança comercial de novembro (10h30)