Incerteza com política fiscal do governo Lula leva dólar aos R$ 5,39 e derruba a bolsa em mais de 3%

O petróleo subiu, a inflação americana surpreendeu positivamente e o Nasdaq subiu 7% em uma tacada só, mas esse combo de boas notícias não fez nem cócegas no desempenho do Ibovespa nesta quinta-feira (10). 

O principal índice da bolsa brasileira fechou o dia em queda de 3,35%, aos 109.775 pontos, enquanto o dólar à vista encerrou a sessão próximo das máximas, em alta de 4,14%, a R$ 5,3966. 

O mal estar generalizado mais uma vez vem de Brasília. Os ruídos em torno dos caminhos do governo eleito para tentar encaixar os gastos sociais desejados para 2023 dentro do orçamento só aumentam, trazendo grande desconforto — já se fala até mesmo em colocar definitivamente os custos do Bolsa Família fora do teto de gastos, para além do próximo ano. 

O anúncio de que Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma Rousseff, fará parte da equipe técnica de Planejamento e Orçamento gerou ainda mais pressão nos negócios, levando o Ibovespa a renovar mínimas e cair mais de 4%. 

Tudo isso em um dia em que a inflação brasileira surpreendeu negativamente os economistas — e a perspectiva de gastos públicos elevados sem contrapartidas só piorou as projeções para os próximos dois anos e pressionou a curva de juros. 

Questionado sobre o dia de forte aversão à risco na B3, o presidente eleito disse que o mercado fica nervoso à toa, mas agentes do mercado, na verdade, apontam que se trata de uma cegueira causada pela falta de visibilidade do cenário. 

Até o momento, mais de uma semana após a definição do pleito, não há sinais claros de qual será a política fiscal adotada pelo próximo governo, e o flerte com nomes de mercado ao longo da campanha ainda não se traduziram em posições estratégicas na equipe técnica.

E até que garantias claras de compromisso com as contas públicas sejam dadas, o mercado deve seguir apostando no pior.  

Inflação nos Estados Unidos

A inflação nos EUA (CPI, na sigla em inglês) avançou 0,4% em outubro ante setembro, um pouco abaixo das projeções de alta de 0,6%. Na comparação anual, o CPI apontou alta de 7,7%, ante a elevação de 7,9% aguardada pelo mercado.

O avanço entusiasmou os investidores americanos, já que a percepção é de que o Federal Reserve pode, em breve, interromper o ciclo de alta de juros — ainda que alguns dirigentes tenham falado ao longo do dia que os dados de apenas um mês são insuficientes para alterar o modelo adotado pelo BC americano na condução da política monetária. 

Confira o movimento de alta das bolsas americanas hoje:

• Nasdaq: +7,35%
• Dow Jones: +3,69%
• S&P 500: +5,53%

Inflação no Brasil

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial, subiu 0,59% em outubro ante setembro, acima das expectativas dos analistas — o esperado era um avanço de 0,49% em outubro. 

No acumulado de 12 meses, o IPCA acumula alta de 6,47%, um pouco acima da mediana projetada pelos mercados de 6,36%, mas dentro das expectativas. No ano, o avanço é de 4,70%.

Além da questão fiscal, a alta acima do esperado do indicador de preços serviu como a gota d’água para que a curva de juros operasse em forte alta. As negociações do Tesouro Direto chegaram a ser interrompidas devido à forte oscilação. Na ponta mais longa, diversos vencimentos chegaram a subir quase 1 ponto percentual. 

Sobe e desce do Ibovespa

Com a sangria no Ibovespa, poucas empresas fecharam o dia no azul. O destaque positivo ficou com empresas que se beneficiam de um câmbio mais pressionado. Confira as maiores altas do dia:

A temporada de balanços, com números abaixo do esperado, pressionou, mas foi a forte valorização do dólar e a inclinação da curva de juros que contaminou as ações do Ibovespa. Setores ligados ao consumo ficaram com os piores desempenhos da sessão. Confira os maiores quedas do dia: 

*Colaboraram Rafael Passos, da Ajax Captial, Victor Benndorf, da Benndorf Consultoria, Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos, e Matheus Pizzani, economista da CM Capital

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