Balanço trimestral com queda nos principais indicadores financeiros, início de um programa de recompra de ações e estudo para trocar a B3 pela Bolsa de Valores de Nova York (NYSE): os acionistas da Natura (NTCO3) têm muito o que digerir nesta sexta-feira (12).
Porém, pelo que indicam as ações, algo entre as informações divulgadas ontem à noite não caiu bem entre os investidores e gera um grande mal-estar no mercado. Os papéis da Natura &Co (NTCO3) amargaram uma queda brusca de 17,54% hoje, a R$ 33, segunda maior queda do Ibovespa no dia.
Entre a enxurrada de anúncios, um chama bastante a atenção. A Natura pode seguir o exemplo do Banco Inter (BIDI11) e transferir sua listagem primária de ações para a bolsa norte-americana, mantendo a negociação no Brasil por meio de BDRs — títulos que representam os papéis.
De malas prontas para partir?
Para fazer a troca, a empresa estuda a criação de uma nova holding domiciliada no Reino Unido. A escolha pelas terras da Rainha Elizabeth é estratégica: o grupo já possui uma presença relevante no país, que sedia duas de suas marcas, a The Body Shop e a Avon.
Há cinco objetivos centrais por trás da nova listagem, conforme explica a companhia em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM):
- Aumentar a visibilidade e alcance da Natura, além de amplificar sua agenda de sustentabilidade;
- Aumentar o acesso a investidores globais e diversificar ainda mais sua base acionária;
- Expandir a cobertura por analistas de mercado;
- Melhorar a liquidez das ações e acessar novas fontes de financiamento;
- E alinhar sua estrutura corporativa e de capital à presença operacional global.
Números fracos provocam dor de estômago
Apesar da possível saída da B3, os candidatos mais prováveis a levarem a culpa pela azia dos investidores são os números trazidos pelo balanço do terceiro trimestre da empresa, muitos deles com queda em relação ao mesmo período do ano passado e abaixo das expectativas dos analistas.
O lucro líquido, por exemplo, ficou em R$ 273 milhões, com recuo de 28,5% na comparação anual. A receita líquida também caiu 2,4%, para R$ 5,5 bilhões.
O desempenho fraco é resultado, principalmente, da queda na arrecadação das divisões Natura Brasil (-16,5%) e Avon Brasil (-18,4%). Segundo a companhia, o movimento também é explicado pela base recorde utilizada para comparação: no terceiro trimestre do ano passado a receita havia crescido 20%.
Para o JP Morgan, que recomenda venda para os papéis da Natura, os resultados refletem ainda três fatores principais:
- a mistura entre competidores de primeira linha e um cenário macroeconômico fraco no Brasil;
- alta na inflação da matéria-prima e desalavancagem operacional, parcialmente compensada pelas sinergias com a Avon;
- e investimentos em crescimento represados, especialmente em marketing, durante a pandemia.
O BTG Pactual concorda que o trimestre não foi como o esperado, especialmente nas operações nacionais, mas segue otimista em sua análise da empresa. O banco de investimentos manteve a recomendação de compra para os papéis, com preço-alvo de R$ 70 — o potencial de alta é de 112% em relação à cotação atual.
“Com uma estrutura melhor após dois aumentos de capital no ano passado, digitalização contínua dos representantes de vendas, oportunidades de vendas cruzadas com a Avon e captura rápida de sinergias, estamos otimistas quanto ao case de investimento da Natura”, escrevem os analistas em relatório divulgado hoje.
Recompra de ações não evita mal-estar
Os analistas do JP Morgan já esperavam que os números não seriam bem recebidos pelo mercado, mas apostavam que o anúncio do programa de recompra de ações evitasse uma queda brusca.
A Natura pretende recomprar até 37,5 milhões de ações nos próximos 12 meses, montante que equivale a 4,44% dos papéis em circulação.
O objetivo é, de acordo com a companhia, “maximizar a geração de valor para os acionistas por meio de uma administração eficiente de sua estrutura de capital”.