Vem aí o Lula 3? Como a volta do ex-presidente ao xadrez político pesa nos seus investimentos
Ainda sob o impacto da notícia, eu conversei com gestores de fundos e analistas ao longo da tarde e da noite de ontem e trago cinco razões para o alvoroço dos investidores com a volta de Lula

A estrela de Lula voltou a brilhar após a surpreendente decisão do ministro do Superior Tribunal Eleitoral (STF) Edson Fachin de anular as condenações que envolviam o ex-presidente na Lava Jato. Já no mercado financeiro, a possível liberação da candidatura do petista nas eleições de 2022 caiu como um meteoro.
Poucos minutos depois da notícia, o Ibovespa ampliou as perdas do dia para amargar uma queda de 4% no fechamento. Na direção oposta, o dólar disparou 1,67%, para a casa dos R$ 5,77.
Mas por que a volta de Lula ao tabuleiro político pesou tanto na bolsa e no dólar? E o que isso representa para os seus investimentos? É claro que é cedo para dar qualquer veredicto — com o perdão do trocadilho.
O que é certo por enquanto é que teremos mais volatilidade adiante, com o noticiário político se sobrepondo mais uma vez à agenda econômica no desempenho da bolsa, do dólar e do rendimento dos títulos do Tesouro Direto.
Vale lembrar que a decisão do STF sobre Lula chega no momento em que a sensibilidade dos investidores às movimentações de Brasília já estava à flor da pele, depois que o presidente Jair Bolsonaro decidiu trocar o comando da Petrobras.
Então, se você tem baixa tolerância a fortes oscilações, talvez seja a hora de diminuir o risco da carteira — assim que a poeira assentar — e reforçar as clássicas proteções contra catástrofes, como o dólar e o ouro.
Leia Também
Ainda sob o impacto da notícia, eu conversei com gestores de fundos e analistas ao longo da tarde e da noite de ontem e trago a seguir cinco razões para o alvoroço dos investidores com a volta de Lula ao xadrez político:
1 - O mercado não gosta de Lula
Os movimentos da bolsa, principalmente os de curto prazo, são bem menos racionais do que gostariam os defensores da “soberania dos mercados”. Então pode-se dizer que houve uma certa dose de exagero na forte queda do Ibovespa ontem, enquanto que a corrida ao dólar é mais justificada diante de uma perspectiva de maior aversão ao risco.
Feita essa ressalva, é justo dizer que o “tal” mercado não gosta do ex-presidente Lula, e isso também pesou nos movimentos de ontem.
A primeira imagem que vem à mente daqueles que operam nas bolsas de forma profissional ainda é a do político que prometia dar o calote na dívida e romper contratos, e não a do governante que acabou com a dependência do país do FMI — e sem dever nenhum centavo. O que nos leva ao segundo ponto.
2 - “Paz e amor” ou “Jararaca”?
Se o mercado desconfia de Lula, tem boas razões para tal. O ex-presidente possui pelo menos duas facetas conhecidas e antagônicas entre si.
A primeira é a do “Lulinha paz e amor”, que saiu vitorioso nas eleições de 2002 e, ao chegar ao poder, sustentou o tripé formado pelo ajuste fiscal, dólar flutuante e metas de inflação.
A segunda versão é a “Jararaca”, uma referência ao famoso discurso do ex-presidente ao se ver acuado pelas acusações de corrupção levantadas pela operação Lava Jato e que o levou a ser condenado em três instâncias do Judiciário.
Na dúvida sobre qual Lula vai emergir em uma eventual campanha presidencial, os investidores preferem não correr o risco e acabam saindo de ativos mais voláteis como a bolsa.
3 - Aumento da polarização política
Seja qual for o Lula que pode enfrentar Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022, se o plenário do STF confirmar a anulação das condenações, a volta do petista deve aumentar o já conturbado cenário político.
A eventual presença de Lula deve aumentar a polarização política e praticamente dar fim às chances de uma terceira via na sucessão de Bolsonaro, que poderia ser desde um candidato mais à esquerda, como Ciro Gomes, ou nomes mais queridos do mercado, como os do apresentador Luciano Huck ou do governador de São Paulo, João Doria.
4 - Antecipação do risco eleitoral
Ninguém esperava vida fácil para a bolsa no ano de eleições presidenciais. Mas o risco de que os impactos do calendário eleitoral chegassem ao mercado com mais de um ano de antecipação tampouco estava nos planos.
Com a entrada de Lula na disputa, as declarações sobre o rumo da política econômica a partir de 2023 já devem começar a ser incorporadas nos preços dos ativos a partir de agora.
5 - Aumento do “risco Bolsonaro”
Se para toda ação existe uma reação, o mercado passou a temer como Bolsonaro vai se comportar até as eleições com a perspectiva de enfrentar Lula em um eventual segundo turno.
Para um gestor de fundos com quem eu conversei, são dois os possíveis caminhos. O primeiro seria uma reconciliação do presidente com os ideais liberais na economia como forma demarcar uma distância do petista e apontá-lo como radical.
O segundo — e mais provável — Bolsonaro que pode emergir com a volta do rival é sua versão mais populista. Com isso, novas medidas que envolvam um aumento desordenado dos gastos públicos e intervenções em estatais com o objetivo de conquistar votos tende a piorar ainda mais o humor dos investidores — e pesar sobre a bolsa e o dólar.
Leia também:
- Brasil vira mercado “inoperável” com “risco Bolsonaro” e ameaças ao teto de gastos, dizem gestores de fundos
- ‘Efeito Lula’ aprofunda incertezas locais e faz Ibovespa cair 4%; dólar fecha a R$ 5,77
- 5 pontos para entender o resultado e a reação ao PIB do 4º trimestre
- Mudança na Petrobras abala “casamento” do mercado financeiro com Bolsonaro
Compensação de prejuízos para todos: o que muda no mecanismo que antes valia só para ações e outros ativos de renda variável
Compensação de prejuízos pode passar a ser permitida para ativos de renda fixa e fundos não incentivados, além de criptoativos; veja as regras propostas pelo governo
Com o pé na pista e o olho no céu: Itaú BBA acredita que esses dois gatilhos vão impulsionar ainda mais a Embraer (EMBR3)
Após correção nas ações desde as máximas de março, a fabricante brasileira de aviões está oferecendo uma relação risco/retorno mais equilibrada, segundo o banco
Ações, ETFs e derivativos devem ficar sujeitos a alíquota única de IR de 17,5%, e pagamento será trimestral; veja todas as mudanças
Mudanças fazem parte da MP que altera a tributação de investimentos financeiros, publicada ontem pelo governo; veja como ficam as regras
Banco do Brasil (BBAS3) supera o Itaú (ITUB4) na B3 pela primeira vez em 2025 — mas não do jeito que o investidor gostaria
Em uma movimentação inédita neste ano, o BB ultrapassou o Itaú e a Vale em volume negociado na B3
Adeus, dividendos isentos? Fundos imobiliários e fiagros devem passar a ser tributados; veja novas regras
O governo divulgou Medida Provisória que tira a isenção dos dividendos de FIIs e Fiagros, e o investidor vai precisar ficar atento às regras e aos impactos no bolso
Fim da tabela regressiva: CDBs, Tesouro Direto e fundos devem passar a ser tributados por alíquota única de 17,5%; veja regras do novo imposto
Governo publicou Medida Provisória que visa a compensar a perda de arrecadação com o recuo do aumento do IOF. Texto muda premissas importantes dos impostos de investimentos e terá impacto no bolso dos investidores
Gol troca dívida por ação e muda até os tickers na B3 — entenda o plano da companhia aérea depois do Chapter 11
Mudança da companhia aérea vem na esteira da campanha de aumento de capital, aprovado no plano de saída da recuperação judicial
Petrobras (PETR4) não é a única na berlinda: BofA também corta recomendação para a bolsa brasileira — mas revela oportunidade em uma ação da B3
O BofA reduziu a recomendação para a bolsa brasileira, de “overweight” para “market weight” (neutra). E agora, o que fazer com a carteira de investimentos?
Cemig (CMIG4), Rumo (RAIL3), Allos (ALOS3) e Rede D’Or (RDOR3) pagam quase R$ 4 bilhões em dividendos e JCP; veja quem tem direito a receber
A maior fatia é da Cemig, cujos proventos são referentes ao exercício de 2024; confira o calendário de todos os pagamentos
Fundo Verde: Stuhlberger segue zerado em ações do Brasil e não captura ganhos com bolsa dos EUA por “subestimar governo Trump”
Em carta mensal, gestora criticou movimentação do governo sobre o IOF e afirmou ter se surpreendido com recuo rápido do governo norte-americano em relação às tarifas de importação
Santander Renda de Aluguéis (SARE11) está de saída da B3: cotistas aprovam a venda do portfólio, e cotas sobem na bolsa hoje
Os investidores aceitaram a proposta do BTG Pactual Logística (BTLG11) e, com a venda dos ativos, também aprovaram a liquidação do FII
Fundo imobiliário do segmento de shoppings vai pagar mais de R$ 23 milhões aos cotistas — e quem não tem o FII na carteira ainda tem chance de receber
A distribuição de dividendos é referente a venda de um shopping localizado no Tocantins. A operação foi feita em 2023
Meu medo de aviões: quando o problema está na bolsa, não no céu
Tenho brevê desde os 18 e já fiz pouso forçado em plena avenida — mas estou fora de investir em ações de companhias aéreas
Bank of America tem uma ação favorita no setor elétrico, com potencial de alta de 23%
A companhia elétrica ganhou um novo preço-alvo, que reflete as previsões macroeconômicas do Brasil e desempenho acima do esperado
Sem dividendos para o Banco do Brasil? Itaú BBA mantém recomendação, mas corta preço-alvo das ações BBSA3
Banco estatal tem passado por revisões de analistas depois de apresentar resultados ruins no primeiro trimestre do ano e agora paga o preço
Santander aumenta preço-alvo de ação que já subiu mais de 120% no ano, mas que ainda pode se valorizar e pagar dividendos
De acordo com analistas do banco, essa empresa do ramo da construção civil tem uma posição forte, sendo negociada com um preço barato mesmo com lucros crescendo em 24%
Dividendos e recompras: por que esta empresa do ramo dos seguros é uma potencial “vaca leiteira” atraente, na opinião do BTG
Com um fluxo de caixa forte e perspectiva de se manter assim no médio prazo, esta corretora de seguros é bem avaliada pelo BTG
“Caixa de Pandora tributária”: governo quer elevar Imposto de Renda sobre JCP para 20% e aumentar CSLL. Como isso vai pesar no bolso do investidor?
Governo propõe aumento no Imposto de Renda sobre JCP e mudanças na CSLL; saiba como essas alterações podem afetar seus investimentos
FIIs e fiagros voltam a entrar na mira do Leão: governo quer tirar a isenção de IR e tributar rendimentos em 5%; entenda
De acordo com fontes ouvidas pelo Valor Econômico, a tributação de rendimentos de FIIs e fiagros, hoje isentos, entra no pacote de medidas alternativas ao aumento do IOF
UBS BB considera que essa ação entrou nos anos dourados com tarifas de Trump como um “divisor de águas”
Importações desse segmento já estão sentindo o peso da guerra comercial — uma boa notícia para essa empresa que tem forte presença no mercado dos EUA