O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou nesta sexta-feira (19) que a tese de inflação temporária de bens está "cada vez mais obsoleta". Vale lembrar que a ideia de alta passageira dos preços já foi defendida pelo próprio BC e ainda é reforçada pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos.
Campos Netos explicou, durante palestra no Meeting News, evento organizado pelo Grupo Parlatório, que a inflação é resultado do deslocamento muito rápido da demanda - motivado pelas transferências de renda feitas durante a pandemia de covid-19 - que não foi acompanhado pelo aumento dos investimentos, como em metais e energia.
E o problema não ficou restrito ao ano passado: o consumo segue em alta e descolado dos investimentos, o que leva também a uma inflação mais persistente.
O presidente do BC afirmou que o repasse dos preços de produtor para consumir foi muito forte em alguns países. No Brasil, os destaques são em alimentos, energia elétrica e combustíveis. "Brasil está na média ou abaixo de emergentes na inflação de serviços", acrescentou.
Ele ainda mencionou que o encarecimento de energia e combustíveis tem sido assunto em todo o mundo, citando exemplos de sua experiência com o Uber durante uma viagem a Portugal na semana passada: "todo mundo estava reclamando do preço da gasolina também".
Exagero na estagflação
Com os preços em alta em todo o globo, cresce também o debate sobre a estagflação - termo para cenários de simultânea estagnação econômica e altas taxas de inflação.
Na avaliação do presidente do BC brasileiro, "há certo exagero" em como esse termo tem sido utilizado, uma vez que a perspectiva ainda é positiva para o crescimento global, embora menor do que se esperava.
Campos Neto, porém, reconheceu que o mundo emergente está tendo crescimento mais baixo. Segundo ele, há um debate sobre o crescimento no período pós-pandemia. "Brasil sofre um pouco com crescimento estrutural mais baixo em 2022."
Em uma espécie de mea culpa, Campos Neto reconheceu que os banqueiros centrais tiveram dificuldade de entender esse pós-pandemia em termos macroeconômicos. Mas relembrou que os últimos números apontam para pacotes fiscais de US$ 9 trilhões no mundo, sendo que quase US$ 4,7 trilhões foram de transferência direta. "Nunca tinha sido feito nessa intensidade, nessa velocidade, em um período de tempo tão curto."
*Com informações do Estadão Conteúdo