🔴 EVENTO GRATUITO: COMPRAR OU VENDER VALE3? INSCREVA-SE

Estadão Conteúdo
perspectivas

Cresce a dependência comercial do Brasil para a China

Com a pandemia, a participação chinesa nas exportações explodiu, avançando 4 pontos porcentuais: de pouco mais de um quarto para um terço das exportações, batendo em 32,3% em 2020

Estadão Conteúdo
14 de fevereiro de 2021
17:37 - atualizado às 11:30
exportação
Imagem: Shutterstock

Apesar das críticas abertas à China terem se tornado quase um mote da política externa brasileira durante os dois primeiros anos de governo do presidente Jair Bolsonaro, a dependência comercial do Brasil em relação ao país asiático bateu recorde no ano passado - e deve ficar ainda maior nos próximos anos.

A participação chinesa em tudo que o Brasil vende ao exterior vem crescendo, ano após ano, desde 2015. Mas essa escalada vinha acontecendo em ritmo mais lento: entre 2018 e 2019, por exemplo, essa fatia nas exportações aumentou pouco mais de 1 ponto porcentual.

Com a pandemia do novo coronavírus, porém, a participação chinesa explodiu, avançando 4 pontos porcentuais: de pouco mais de um quarto para um terço das exportações, batendo em 32,3% em 2020.

Em um ano, as vendas aos chineses subiram de US$ 63,4 bilhões para US$ 67,8 bilhões (alta de 7%, em termos nominais), segundo dados do antigo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), hoje ligado ao Ministério da Economia. E isso se deu enquanto o total das exportações brasileiras caiu de US$ 225,4 bilhões, em 2019, para US$ 209,9 bilhões em 2020, por conta da crise internacional.

Recuperação desigual

Dois fenômenos ajudam a explicar o aumento da dependência em relação à China no ano passado, diz o estrategista do Banco Ourinvest e ex-secretário nacional de Comércio Exterior, Welber Barral. "O Brasil exportou mais carnes para a China, já que a peste suína lá fez crescer a demanda pelo produto, e também subiu a quantidade de outros produtos básicos demandados por eles no segundo semestre."

A expectativa do Banco Mundial é que o principal parceiro comercial do Brasil tenha crescido 2% no ano passado, enquanto a média mundial deve ser de uma queda de 4,4%.

Como efeito da retomada do país, os chineses voltaram a comprar do mundo, chegando a estocar alimentos, e as vendas de commodities brasileiras começaram a reagir, impulsionando o agronegócio, mesmo em um ano de recessão mundial.

"A China teve um desempenho muito bom no quarto trimestre de 2020. É um dos poucos países que devem ter crescido no ano, enquanto nos EUA, o número de mortos é assombroso e a pandemia segue descontrolada", avalia o coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Armando Castelar.

Ele lembra que o apetite chinês pelas commodities de que o Brasil depende para ter vantagem nas suas exportações - como a soja e o minério de ferro - deve crescer também este ano, dado que as projeções do Banco Mundial estimam uma alta de 7,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e alguns analistas já projetam crescimento de 9%.

Enquanto isso, a economia americana, o segundo principal destino das exportações brasileiras, pode crescer 6%, caso o presidente Joe Biden consiga colocar em prática seu pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão. "A maior parte do crescimento da demanda pelos produtos brasileiros, portanto, se dará pela China e a nossa dependência vai aumentar", reforça Castelar.

Relação conturbada

Parte dos atritos do próprio presidente Bolsonaro, do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e de aliados com os chineses se deve pelo alinhamento do governo brasileiro com o então presidente norte-americano Donald Trump, que não conseguiu conquistar um segundo mandato no ano passado.

Em algumas dessas demonstrações, Bolsonaro chamou de "vachina" a vacina fabricada pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório chinês Sinovac, e desacreditou diversas vezes o imunizante contra o coronavírus. As declarações dos bolsonaristas chegaram a gerar reações irritadas da diplomacia chinesa ao longo do ano.

Enquanto os chineses ganharam terreno nas vendas brasileiras ao exterior, no entanto, as exportações para os Estados Unidos caíram 27,6%, de US$ 29,7 bilhões em 2019 para US$ 21,5 bilhões em 2020, afetadas pelo tranco no comércio internacional durante a pandemia.

"Apesar dos atritos com o Brasil, a China é pragmática e se planeja para o longo prazo. Eles sabem que, da mesma forma que Trump passou, Bolsonaro também vai passar", diz Barral.

No fim de janeiro, temendo que as rusgas atrasassem o envio da matéria-prima para vacinas, o presidente fez um giro em seu discurso e afagou o governo chinês em suas redes sociais, agradecendo a autorização para a vinda dos insumos.

"A revisão da postura do Brasil tem acontecido. É verdade que forçada pela necessidade de importar os insumos para a fabricação das vacinas contra a covid-19, mas é bom que o governo reveja sua postura e ponha os interesses do País em primeiro lugar", completa Barral.

"De fato, a economia chinesa voltou ao patamar anterior à pandemia e é hoje a mais dinâmica. É a que entregou crescimento e, por isso, é natural que demande mais", diz a economista Fabiana D'atri, coordenadora de economia do Bradesco e que também é diretora econômica do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).

A China, acrescenta Fabiana, abriu sua economia antes, conseguiu atender a sua própria demanda e depois a procura mundial por bens ligados à pandemia - máscaras, luvas etc. - e depois toda a parte de equipamentos usados para as atividades de home office, principalmente equipamentos eletrônicos, celular, cabos e fones.

Os analistas avaliam que a China se beneficiou no ano passado em duas pontas: primeiro, porque reconheceu e confirmou rapidamente a pandemia. Em seguida, por ter gerado os estímulos para responder à crise e ainda ganhar mercado. O Brasil, por sua vez, entrou na tendência global de demandar bens ligados à pandemia, seja eles na saúde ou tecnologia.

"Não é à toa que o valor do frete da China também explodiu. Mais uma vez, o que a gente pode perceber não é o Brasil ditando a sua exposição, mas a China ditando o ritmo não só do Brasil, mas do mundo inteiro", avalia Fabiana.

Ex-diplomatas defendem pragmatismo

Vai ser difícil para o governo do presidente Jair Bolsonaro manter o discurso ideológico fortemente 'antichina', que marcou a primeira metade do seu mandato, se quiser que o Brasil evite atritos ainda mais graves com seu principal parceiro comercial. Sob condição de anonimato, um diplomata do Itamaraty que já serviu ao País em Pequim revelou que o discurso de representantes e apoiadores do governo Bolsonaro contra a China virou motivo de piada entre membros de outras representações diplomáticas, sobretudo em um momento em que o País depende mais do comércio com os chineses.

"É como se o dono de uma loja cheia de dívidas resolvesse, sem motivo aparente, ofender seu principal freguês. Iria à falência em pouco tempo." E a opinião não é isolada: embaixador na China entre 1989 e 1992, Roberto Abdenur falou ao Estadão que a relação entre os dois países é mais de parceria do que de dependência, mas o governo brasileiro precisa reverter a "destruição" da política externa provocada desde 2019.

Já o representante do Brasil em Pequim de 2004 a 2008, Luiz Augusto de Castro Neves, aposta no pragmatismo chinês para contornar as tensões com Bolsonaro e diz que as negociações recentes de autoridades chinesas diretamente com governadores, em vez do Itamaraty, é parte da nova lógica internacional.

Compartilhe

MAKE IT RAIN

Xi Jinping preocupado? China inicia novas medidas para tentar salvar a economia e a colheita; entenda

22 de agosto de 2022 - 9:10

O país asiático não só tenta apagar as chamas do dragão da desaceleração econômica, como também salvar a colheita do verão mais quente e seco de Pequim em 61 anos

EM FORTE QUEDA

China derruba preços do petróleo internacional e pode ajudar na redução da gasolina no Brasil; entenda

15 de agosto de 2022 - 11:06

Desde as máximas em março deste ano, o barril de petróleo Brent já recuou cerca de 26% com a perspectiva de desaceleração — e, possivelmente, recessão — global

COM PASSAGENS DE SAÍDA

Cinco empresas chinesas vão retirar seus ADRs da Bolsa de Nova York — saiba por quê

12 de agosto de 2022 - 17:02

As estatais anunciaram planos de retirada voluntária de seus ADRs ainda neste mês; a decisão acontece em meio à desacordo entre os órgãos reguladores da China e dos EUA

BOMBOU NAS REDES

A catástrofe na Rússia que Putin não quer que o Ocidente descubra: Estados Unidos e aliados estão causando um verdadeiro estrago na economia do país; veja os maiores impactos

11 de agosto de 2022 - 8:37

Enquanto algumas matérias derrotistas apontam a Rússia ‘à prova’ de sanções, um estudo de Yale afirma que os efeitos são catastróficos; entenda detalhes

ALERTA LARANJA

China contra-ataca: entenda o recado que Xi Jinping mandou ao lançar mísseis que caíram no Japão

4 de agosto de 2022 - 14:29

Governo japonês diz que cinco mísseis balísticos lançados por Pequim durante exercícios militares em torno de Taiwan caíram na zona econômica exclusiva do Japão pela primeira vez

TENSÃO NO AR

Tambores de uma nova guerra? Entenda por que Taiwan coloca China e Estados Unidos em pé de guerra

2 de agosto de 2022 - 14:56

Visita de Nancy Pelosi a Taiwan acirra tensões entre Estados Unidos e China em meio a disputa por hegemonia global

Tensão no ar

Após alertar Pelosi para não visitar Taiwan, China realiza exercícios militares na costa em frente à ilha

30 de julho de 2022 - 12:37

O Ministério da Defesa chinês alertou Washington, na última semana, para não permitir que a presidente da Câmara dos Deputados americana visite Taiwan

QUEDA DE BILHÕES

Como a crise imobiliária na China pulverizou metade da fortuna da mulher mais rica da Ásia

29 de julho de 2022 - 11:35

Yang Huiyan viu sua fortuna de US$ 23,7 bilhões cair pela metade nos últimos 12 meses; a bilionária controla a incorporadora Country Graden

BOM PARA OS DOIS

Enquanto Rússia corta gás para a Europa, gasoduto que leva a commodity à China está perto da conclusão

27 de julho de 2022 - 17:12

O canal de transporte do gás natural está em fase final de construção e interliga a Sibéria a Xangai; a China aumentou o fornecimento da commodity russa em 63,4% no primeiro semestre deste ano

TREASURIES NA BERLINDA

Por que a China e o Japão estão se desfazendo – em grande escala – de títulos do Tesouro do Estados Unidos

20 de julho de 2022 - 14:30

Volume de Treasuries em poder da China e do Japão estão nos níveis mais baixos em anos com alta da inflação e aumento dos juros nos EUA

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar