Brasília força Ibovespa a pisar no freio e bolsa quase zera ganhos após avançar mais de 2%; dólar fica estável
No exterior, as bolsas tiveram dias de ganho expressivo, com os mercados repercutindo de forma positiva a aprovação do pacote de estímulos americano e uma nova opção de vacina
O saldo do dia poderia ter sido bem diferente se Brasília tivesse dado uma trégua e permitisse que o cenário internacional desse as cartas nesta segunda-feira (01).
“Poderia”. Porque na última hora de pregão o principal índice da bolsa brasileira quase zerou os ganhos do dia com a notícia que o governo pode fazer o setor financeiro pagar a conta do aumento dos combustíveis.
De tão frequentes, as reviravoltas no mercado financeiro com base em ruídos que surgem na capital federal quase nem surpreendem mais. Ao invés da alta de cerca de 2% que se desenhava ao longo do dia (e que foi a norma no exterior), o Ibovespa fechou a sessão com avanço de apenas 0,27%, aos 110.334 pontos.
Mesmo no melhor momento da bolsa, o câmbio custou a acompanhar o movimento de alívio com o mesmo fôlego, pesando mais as incertezas locais. No fim do dia, a moeda americana ficou praticamente estável, com leve recuo de 0,09%, cotada a R$ 5,6006. O dólar futuro disparou e se aproximou dos R$ 5,63.
Com o cenário internacional favorável, o mercado de juros brasileiro chegou a apresentar uma alta menos acentuada no meio da tarde, mas o que prevaleceu foi a cautela. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para 2025 fechou o dia no maior patamar desde o fim de abril de 2020. Confira as taxas de fechamento:
- Janeiro/2022: de 3,74% para 3,88%
- Janeiro/2023: de 5,59% para 5,80%
- Janeiro/2025: de 7,23% para 7,47%
- Janeiro/2027: de 7,84% para 8,07%
Mais do mesmo (e um pouco mais)
A notícia que chacoalhou o mercado na reta final e fez com que o Ibovespa colocasse o pé no freio foi a de que o governo estuda aumentar a Contribuição Social sobre o Lucro líquido (CSLL) dos bancos como uma forma de compensar a desoneração do diesel e do combustível que foi prometida aos caminhoneiros, com a alíquota subindo de 20% para 23%
Leia Também
O mercado reagiu de forma negativa ao que pode ser vista como mais uma intervenção do governo para financiar medidas populistas e jogou para o primeiro plano outras preocupações que já dificultavam o ambiente de negócios brasileiro.
O primeiro setor afetado é o financeiro - o índice que mede o desempenho do segmento (IFNC) recuou 1,32% hoje - já que a medida deve afetar diretamente o lucro dos bancos, com queda de cerca de R$ 3 bilhões. Mas o impacto não deve se limitar somente a essas empresas.
“Se não fosse esse cenário de incerteza, mesmo com a queda do setor financeiro hoje poderíamos ter caminhado para uma alta melhor”, afirma o analista técnico da Ativa Investimentos, Marcio Lórega, já que o setor de commodities sustentavam o Ibovespa na tarde de hoje.
Mas as pontas soltas em Brasília seguem soltas e de certo mesmo não temos quase nada. O que se arrasta semana após semana são as dúvidas com relação à recuperação da economia, a deterioração do cenário fiscal e o prosseguimento da agenda econômica.
É bom lembrar que o setor financeiro tem sido um dos últimos a tentar emplacar uma recuperação pós-crise e esse novo baque pega as companhias ainda fragilizadas. As ações de Bradesco e Itaú recuaram cerca de 3% nesta tarde, enquanto o Santander recuou 1,20%.
As outras preocupações são velhas conhecidas. A PEC Emergencial, que está marcada para ser votada na próxima quarta-feira (3) e que é o caminho mais rápido para liberar uma nova rodada do auxílio emergencial, vem sofrendo sucessivos desgastes no meio do caminho e começa a se ventilar mais um adiamento, o que amplia as incertezas com relação ao cenário fiscal brasileiro. O texto provocou polêmica ao propor a desvinculação de gastos mínimos para saúde e educação. O presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) já se declarou a favor da desvinculação total dos gastos.
Uma nova baixa na equipe de Paulo Guedes também aumentou a tensão no mercado doméstico. Na manhã desta segunda-feira, o secretário de coordenação e governança das empresas estatais (Sest) do Ministério da Economia, Amaro Gomes, pediu para deixar o cargo. A saída ocorre em um momento pouco oportuno para a agenda liberal, já que o governo tenta a todo custo segurar o valor do combustível - que hoje sofreu um novo reajuste por parte da Petrobras.
Uma história diferente
Em Nova York, o dia começou com alta forte e assim seguiu até o fim do dia. A alta dos retornos dos títulos americanos, que provoca uma fuga de recursos da bolsa, segue, mas hoje teve um efeito mais limitado sobre as negociações. Eles chegaram a cair no início das negociações, mas retomaram a trajetória positiva logo em seguida e assim seguiram até o fim do dia. O T-note de 2 anos avançou 0,121%, o de 10 anos teve alta de 1,429% e o T-bond de 30 anos subiu mais de 2,210%.
Ainda assim, as novidades com relação a aprovação de uma vacina contra o coronavírus em dose única e o otimismo com a aprovação do pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão na Câmara americana falaram mais alto. O grande destaque ficou com o Nasdaq, que subiu mais de 3% hoje. O S&P 500 e o Dow Jones também tiveram um dia de forte alta, subindo respectivamente 2,38% e 1,95%.
Nos últimos dias, o segmento de tecnologia é um dos que mais tem sofrido com a alta dos retornos dos títulos americanos - que acompanham o aumento dos juros futuros dos EUA, o que torna esse tipo de investimento muito atraente para os investidores de todo o mundo. Assim, os recursos que antes iam para ativos de maior risco, como as bolsas, passam a ir para os de menor risco.
O temor é que a aprovação dos pacotes de estímulos levem a um superaquecimento da economia americana, puxando a inflação e obrigando o Federal Reserve a alterar sua política de juros antes do esperado.
Hoje, no entanto, essa foi uma preocupação secundária no exterior e o foco foram os aspectos positivos da aprovação do pacote, ainda que tenha influenciado sobre os mercados emergentes, como o brasileiro. A pauta agora segue para o Senado e deve sofrer alterações na cláusula de aumento do salário mínimo, ponto que prejudica o apoio dos republicanos ao projeto. Segundo a proposta original, o salário mínimo sairia de US$ 7,25 por hora para US$ 15 por hora.
O mercado também recebeu positivamente a notícia de aprovação da vacina da Johnson & Johnson contra a covid-19, que permite a imunização contra a doença com apenas uma dose, diferente das outras opções disponíveis até agora. Tivemos também novidades positivas sobre a retomada da economia americana, com o índice de gerentes de compras do país (PMI) veio acima das expectativas dos analistas, subindo 60,7 em janeiro. A projeção era de uma alta de 58,9.
Refletindo esse cenário, as bolsas da Ásia também tiveram alta expressiva, ainda que o índice de atividade industrial chinês tenha caído ao menor nível dos últimos nove meses. Na Europa, o dia também foi de alta generalizada, com os investidores de olho no bom desempenho do PMI da Zona do Euro.
Sobe e desce
Durante a maior parte do dia, as operadoras de saúde Hapvida (HAPV3) e Notre Dame Intermédica (GNDI3) lideraram as altas do dia após as companhias anunciarem detalhes do acordo para a combinação dos negócios, no que deve criar a maior operadora de saúde do país.
As companhias chegaram a subir mais de 10%, mas, na reta final, as ações do setor de commodities voltaram a falar mais alto, com a PetroRio assumindo a ponta da tabela e a Klabin sendo mais uma vez impulsionada pela perspectiva de alta do preço da celulose no mercado internacional.
| CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
| PRIO3 | PetroRio ON | R$ 88,23 | 5,53% |
| HAPV3 | Hapvida ON | R$ 16,32 | 5,29% |
| KLBN11 | Klabin units | R$ 30,76 | 4,38% |
| VALE3 | Vale ON | R$ 98,57 | 4,28% |
| JBSS3 | JBS ON | R$ 26,83 | 3,91% |
O Grupo Pão de Açúcar foi o grande destaque negativo do dia. Com a cisão do seu braço de atacado, o Assaí (ASAI3), as ações do GPA passaram por uma correção de valor. Enquanto os papéis tiveram queda de mais de 60%, a “novata” Assaí fez uma estreia estrondosa, com ganhos superiores a 360% fora fo Ibovespa. Confira também as principais quedas do dia:
| CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
| PCAR3 | GPA ON | R$ 23,33 | -65,84% |
| CIEL3 | Cielo ON | R$ 3,38 | -6,11% |
| YDUQ3 | Yduqs ON | R$ 28,73 | -4,61% |
| HYPE3 | Hypera ON | R$ 31,45 | -4,06% |
| SBSP3 | Sabesp ON | R$ 35,43 | -3,72% |
Maior queda do Ibovespa: o que explica as ações da Marcopolo (POMO4) terem desabado após o balanço do terceiro trimestre?
As ações POMO4 terminaram o dia com a maior queda do Ibovespa depois de um balanço que mostrou linhas abaixo do que os analistas esperavam; veja os destaques
A ‘brecha’ que pode gerar uma onda de dividendos extras aos acionistas destas 20 empresas, segundo o BTG
Com a iminência da aprovação do projeto de lei que taxa os dividendos, o BTG listou 20 empresas que podem antecipar pagamentos extraordinários para ‘fugir’ da nova regra
Faltou brilho? Bradesco (BBDC4) lucra mais no 3T25, mas ações tombam: por que o mercado não se animou com o balanço
Mesmo com alta no lucro e na rentabilidade, o Bradesco viu as ações caírem no exterior após o 3T25. Analistas explicam o que pesou sobre o resultado e o que esperar daqui pra frente.
Montanha-russa da bolsa: a frase de Powell que derrubou Wall Street, freou o Ibovespa após marca histórica e fortaleceu o dólar
O banco central norte-americano cortou os juros pela segunda vez neste ano mesmo diante da ausência de dados econômicos — o problema foi o que Powell disse depois da decisão
Ouro ainda pode voltar para as máximas: como levar parte desse ganho no bolso
Um dos investimentos que mais renderam neste ano é também um dos mais antigos. Mas as formas de investir nele são modernas e vão de contratos futuros a ETFs
Ibovespa aos 155 mil pontos? JP Morgan vê três motores para uma nova arrancada da bolsa brasileira em 2025
De 10 de outubro até agora, o índice já acumula alta de 5%. No ano, o Ibovespa tem valorização de quase 24%
Santander Brasil (SANB11) bate expectativa de lucro e rentabilidade, mas analistas ainda tecem críticas ao balanço do 3T25. O que desagradou o mercado?
Resultado surpreendeu, mas mercado ainda vê preocupações no horizonte. É hora de comprar as ações SANB11?
Ouro tomba depois de máxima, mas ainda não é hora de vender tudo: preço pode voltar a subir
Bancos centrais globais devem continuar comprando ouro para se descolar do dólar, diz estudo; analistas comentam as melhores formas de investir no metal
IA nas bolsas: S&P 500 cruza a marca de 6.900 pontos pela 1ª vez e leva o Ibovespa ao recorde; dólar cai a R$ 5,3597
Os ganhos em Nova York foram liderados pela Nvidia, que subiu 4,98% e atingiu uma nova máxima. Por aqui, MBRF e Vale ajudaram o Ibovespa a sustentar a alta.
‘Pacman dos FIIs’ ataca novamente: GGRC11 abocanha novo imóvel e encerra a maior emissão de cotas da história do fundo
Com a aquisição, o fundo imobiliário ultrapassa R$ 2 bilhões em patrimônio líquido e consolida-se entre os maiores fundos logísticos do país, com mais de 200 mil cotistas
Itaú (ITUB4), BTG (BPAC11) e Nubank (ROXO34) são os bancos brasileiros favoritos dos investidores europeus, que veem vida ‘para além da eleição’
Risco eleitoral não pesa tanto para os gringos quanto para os investidores locais; estrangeiros mantêm ‘otimismo cauteloso’ em relação a ativos da América Latina
Gestor rebate alerta de bolha em IA: “valuation inflado é termo para quem quer ganhar discussão, não dinheiro”
Durante o Summit 2025 da Bloomberg Linea, Sylvio Castro, head de Global Solutions no Itaú, contou por que ele não acredita que haja uma bolha se formando no mercado de Inteligência Artificial
Vamos (VAMO3) lidera os ganhos do Ibovespa, enquanto Fleury (FLRY3) fica na lanterna; veja as maiores altas e quedas da semana
Com a ajuda dos dados de inflação, o principal índice da B3 encerrou a segunda semana seguida no azul, acumulando alta de 1,93%
Ibovespa na China: Itaú Asset e gestora chinesa obtêm aprovação para negociar o ETF BOVV11 na bolsa de Xangai
Parceria faz parte do programa ETF Connect, que prevê cooperação entre a B3 e as bolsas chinesas, com apoio do Ministério da Fazenda e da CVM
Envelhecimento da população da América Latina gera oportunidades na bolsa — Santander aponta empresas vencedoras e quem perde nessa
Nova demografia tem potencial de impulsionar empresas de saúde, varejo e imóveis, mas pressiona contas públicas e produtividade
Ainda vale a pena investir nos FoFs? BB-BI avalia as teses de seis Fundos de Fundos no IFIX e responde
Em meio ao esquecimento do segmento, o analista do BB-BI avalia as teses de seis Fundos de Fundos que possuem uma perspectiva positiva
Bolsas renovam recordes em Nova York, Ibovespa vai aos 147 mil pontos e dólar perde força — o motivo é a inflação aqui e lá fora. Mas e os juros?
O IPCA-15 de outubro no Brasil e o CPI de setembro nos EUA deram confiança aos investidores de que a taxa de juros deve cair — mais rápido lá fora do que aqui
Com novo inquilino no pedaço, fundo imobiliário RBVA11 promete mais renda e menos vacância aos cotistas
O fundo imobiliário RBVA11, da Rio Bravo, fechou contrato de locação com a Fan Foods para um restaurante temático na Avenida Paulista, em São Paulo, reduzindo a vacância e ampliando a diversificação do portfólio
Fiagro multiestratégia e FoFs de infraestrutura: as inovações no horizonte dos dois setores segundo a Suno Asset e a Sparta
Gestores ainda fazem um alerta para um erro comum dos investidores de fundos imobiliários que queiram alocar recursos em Fiagros e FI-Infras
FIIs atrelados ao CDI: de patinho feio à estrela da noite — mas fundos de papel ainda não decolam, segundo gestor da Fator
Em geral, o ciclo de alta dos juros tende a impulsionar os fundos imobiliários de papel. Mas o voo não aconteceu, e isso tem tudo a ver com os últimos eventos de crédito do mercado
