Bolsa começa a ficar barata, mas precisa cair mais para ficar atrativa, diz gestor da Kinea, responsável por R$ 33 bilhões
Marco Aurélio Freire, sócio-gestor da Kinea, compara a missão de investir em bolsa hoje com pilotar no “Paris-Dakar”, o famoso rali que tem boa parte do percurso percorrido em dunas e conhecido pela extrema dificuldade
Enquanto os mercados internacionais surfaram em mais uma onda de recordes recentes, a bolsa brasileira, só para variar, ficou para trás. Apenas em agosto, o Ibovespa amarga um tombo de 3,08% e passou a acumular queda em 2021.
Esse descolamento entre as ações brasileiras e estrangeiras criou uma grande oportunidade de compra na B3, certo? Errado. Para Marco Aurélio Freire, sócio-gestor da Kinea, a bolsa local começa a ficar barata nos níveis atuais, mas teria que cair ainda mais para ficar realmente atrativa.
A justificativa para a maior cautela não está na bolsa em si, mas nos juros, me disse Freire, que é responsável pela gestão de R$ 33 bilhões dos fundos multimercados, ações e de crédito da Kinea, gestora controlada pelo Itaú Unibanco.
A alta da Selic e a disparada dos juros futuros no mercado aumentaram o chamado custo de oportunidade — o retorno que os investidores abrem mão para correr o risco em ativos mais arriscados, como é o caso da bolsa.
A Selic está hoje em 5,25%, mas a taxa de dez anos já ronda os 11% ao ano. Incluindo um prêmio de risco para investir em bolsa na casa de 4,5%, chegamos a quase 15%. Esse deveria ser o patamar de retorno para a compra de uma ação na B3 valer a pena, nas contas do gestor.
“As empresas precisam fazer milagre para bater esse custo de oportunidade, em um país que vai crescer pouco no ano que vem e que ainda tem incerteza política.”
Leia Também
PARA FECHAR COM CHAVE DE OUROA última dança de Warren Buffett: 'Oráculo de Omaha' vai deixar a Berkshire Hathaway com caixa em nível recorde
Freire compara a missão de investir em bolsa hoje com pilotar no "Paris-Dakar", o famoso rali que tem boa parte do percurso percorrido em dunas e conhecido pela extrema dificuldade. “Nesse cenário, eu quero ter um carro resistente e com bom piloto.”

ASAI3, VAMO3 e PSSA3: as ações da Kinea para a bolsa
Na bolsa, os principais “carros” dos fundos da Kinea para encarar o rali são ações de empresas cujo crescimento dependa menos do desempenho da economia como um todo.
Um dos destaques da carteira é o atacarejo Asaí (ASAI3). A visão da Kinea é que a empresa do Grupo Pão de Açúcar (GPA) ganhe mercado com a maior procura do consumidor por produtos mais baratos, com compra em grandes quantidades.
Outra aposta da gestora é na locadora de caminhões Vamos (VAMO3), empresa do grupo Simpar que abriu o capital em janeiro deste ano na B3. A visão é a de que esse é um segmento ainda pouco explorado no país, assim como era o próprio aluguel de carros. “Enxergamos a Vamos hoje como foi a Localiza no passado”, compara Freire.
Outra ação nos fundos da Kinea para enfrentar o Paris-Dakar da bolsa é a Porto Seguro (PSSA3). Além de beneficiar da alta da Selic, a seguradora tem algo que o mercado ainda não enxerga, segundo o gestor: o crescimento com a prestação de serviços financeiros aos clientes.
Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) estão baratas na bolsa, mas...
No quesito preço, as ações da Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) seriam escolhas óbvias. Mas Freire espera tempos difíceis para ambas as companhias.
No caso da Vale, a pressão vem da queda do preço do minério após os dados que mostram a desaceleração da economia da China. Ainda que a companhia brasileira ganhe dinheiro mesmo se as cotações da commodity caírem para a casa dos US$ 100, o mercado pode penalizar as ações.
As ações da Petrobras também estão “super baratas”, nas palavras do gestor. Na situação atual, a estatal é geradora de caixa e dividendos para os acionistas. Mas o risco está em como a companhia vai se comportar em 2022 com o calendário eleitoral.
O dólar está caro, mas...
De modo geral, os ativos brasileiros justificam o desconto pelos quais são negociados diante de todas as incertezas tanto fiscais como do ponto de vista político em relação ao país, segundo Freire.
Nesse contexto, ele avalia que o ativo mais descontado e, portanto, o melhor para se estar investido hoje no país é o real. Isso porque, conforme a taxa de juros sobe, a proteção na moeda norte-americana vai ficando mais cara.
Nas contas do gestor, o valor justo da moeda brasileira seria algo na casa dos R$ 4,20, muito acima do patamar atual de R$ 5,40. Mas então por que o câmbio não cai?
“O problema é que, no meio do caminho, o risco fiscal do país aumentou. Ainda assim, o real não está com um desempenho pior que outras moedas, porque o dólar está subindo no mundo.”
Boa notícia: a inflação vai ceder
O risco fiscal, aliás, é o calcanhar de Aquiles da economia brasileira e a principal razão para a disparada dos juros de longo prazo negociados no mercado.
A tensão dos investidores aumentou com o projeto do governo de aumentar o valor do pagamento do Bolsa Família, ao mesmo tempo em que a conta para o pagamento de precatórios deve atingir os R$ 90 bilhões no ano que vem.
Nesse sentido, a proposta do governo de parcelar o pagamento das dívidas reconhecidas pela Justiça é “dos males, o menor”, segundo o gestor da Kinea.
A incerteza fiscal deve seguir pressionando os juros. Mas a boa notícia é que a inflação deve deixar de ser um grande problema para o Banco Central.
“O IPCA vai desacelerar forte em 2022, então o Copom não deveria colocar a Selic em um nível tão restritivo”, diz Freire.
Para o gestor, os juros não deveriam ir muito além dos 7% ao ano considerando apenas o comportamento dos índices de preços.
Até porque a inflação não vai ser a única a ceder no ano que vem. A economia brasileira também deve dar uma freada no ano que vem e crescer apenas 1,5%, pelas projeções da Kinea.
Leia também:
- A renda fixa vive: Tesouro Direto volta a oferecer retornos acima de 10% ao ano
- Incertezas fiscais fazem o Brasil “flertar perigosamente com o passado”, diz Verde Asset
- Acesse nosso canal do Telegram para ter acesso a análises, insights de investimento e as principais notícias sobre a bolsa de valores
A maior oportunidade para a Kinea hoje
Embora boa parte da minha conversa com o gestor tenha girado em torno de temas locais, a maior parte das apostas dos fundos da Kinea hoje estão no exterior.
É lá fora que Freire e sua equipe enxergam as maiores oportunidades de ganhar dinheiro no mercado. E dentre elas uma especial se destaca: os juros nos Estados Unidos.
Depois de um pico de alta nos primeiros meses do ano, as taxas dos Treasuries, os títulos do Tesouro norte-americano, voltaram a cair forte em meio às incertezas sobre os impactos da variante delta da covid-19.
Mas o gestor entende que essa queda não é sustentável e as taxas logo voltarão a subir com o início da retirada dos estímulos monetários pelo Fed, o BC norte-americano, que hoje injeta US$ 120 bilhões mensalmente em compras de ativos. “Vai ser um período mais difícil para as bolsas quando essa liquidez sair.”
Matheus Spiess analisa 3R Petroleum (RRRP3). Ações estão baratas e são vistas como nova PetroRio (PRIO3). Confira a análise e inscreva-se no nosso canal no Youtube:
Montanha-russa da bolsa: a frase de Powell que derrubou Wall Street, freou o Ibovespa após marca histórica e fortaleceu o dólar
O banco central norte-americano cortou os juros pela segunda vez neste ano mesmo diante da ausência de dados econômicos — o problema foi o que Powell disse depois da decisão
Ouro ainda pode voltar para as máximas: como levar parte desse ganho no bolso
Um dos investimentos que mais renderam neste ano é também um dos mais antigos. Mas as formas de investir nele são modernas e vão de contratos futuros a ETFs
Ibovespa aos 155 mil pontos? JP Morgan vê três motores para uma nova arrancada da bolsa brasileira em 2025
De 10 de outubro até agora, o índice já acumula alta de 5%. No ano, o Ibovespa tem valorização de quase 24%
Santander Brasil (SANB11) bate expectativa de lucro e rentabilidade, mas analistas ainda tecem críticas ao balanço do 3T25. O que desagradou o mercado?
Resultado surpreendeu, mas mercado ainda vê preocupações no horizonte. É hora de comprar as ações SANB11?
Ouro tomba depois de máxima, mas ainda não é hora de vender tudo: preço pode voltar a subir
Bancos centrais globais devem continuar comprando ouro para se descolar do dólar, diz estudo; analistas comentam as melhores formas de investir no metal
IA nas bolsas: S&P 500 cruza a marca de 6.900 pontos pela 1ª vez e leva o Ibovespa ao recorde; dólar cai a R$ 5,3597
Os ganhos em Nova York foram liderados pela Nvidia, que subiu 4,98% e atingiu uma nova máxima. Por aqui, MBRF e Vale ajudaram o Ibovespa a sustentar a alta.
‘Pacman dos FIIs’ ataca novamente: GGRC11 abocanha novo imóvel e encerra a maior emissão de cotas da história do fundo
Com a aquisição, o fundo imobiliário ultrapassa R$ 2 bilhões em patrimônio líquido e consolida-se entre os maiores fundos logísticos do país, com mais de 200 mil cotistas
Itaú (ITUB4), BTG (BPAC11) e Nubank (ROXO34) são os bancos brasileiros favoritos dos investidores europeus, que veem vida ‘para além da eleição’
Risco eleitoral não pesa tanto para os gringos quanto para os investidores locais; estrangeiros mantêm ‘otimismo cauteloso’ em relação a ativos da América Latina
Gestor rebate alerta de bolha em IA: “valuation inflado é termo para quem quer ganhar discussão, não dinheiro”
Durante o Summit 2025 da Bloomberg Linea, Sylvio Castro, head de Global Solutions no Itaú, contou por que ele não acredita que haja uma bolha se formando no mercado de Inteligência Artificial
Vamos (VAMO3) lidera os ganhos do Ibovespa, enquanto Fleury (FLRY3) fica na lanterna; veja as maiores altas e quedas da semana
Com a ajuda dos dados de inflação, o principal índice da B3 encerrou a segunda semana seguida no azul, acumulando alta de 1,93%
Ibovespa na China: Itaú Asset e gestora chinesa obtêm aprovação para negociar o ETF BOVV11 na bolsa de Xangai
Parceria faz parte do programa ETF Connect, que prevê cooperação entre a B3 e as bolsas chinesas, com apoio do Ministério da Fazenda e da CVM
Envelhecimento da população da América Latina gera oportunidades na bolsa — Santander aponta empresas vencedoras e quem perde nessa
Nova demografia tem potencial de impulsionar empresas de saúde, varejo e imóveis, mas pressiona contas públicas e produtividade
Ainda vale a pena investir nos FoFs? BB-BI avalia as teses de seis Fundos de Fundos no IFIX e responde
Em meio ao esquecimento do segmento, o analista do BB-BI avalia as teses de seis Fundos de Fundos que possuem uma perspectiva positiva
Bolsas renovam recordes em Nova York, Ibovespa vai aos 147 mil pontos e dólar perde força — o motivo é a inflação aqui e lá fora. Mas e os juros?
O IPCA-15 de outubro no Brasil e o CPI de setembro nos EUA deram confiança aos investidores de que a taxa de juros deve cair — mais rápido lá fora do que aqui
Com novo inquilino no pedaço, fundo imobiliário RBVA11 promete mais renda e menos vacância aos cotistas
O fundo imobiliário RBVA11, da Rio Bravo, fechou contrato de locação com a Fan Foods para um restaurante temático na Avenida Paulista, em São Paulo, reduzindo a vacância e ampliando a diversificação do portfólio
Fiagro multiestratégia e FoFs de infraestrutura: as inovações no horizonte dos dois setores segundo a Suno Asset e a Sparta
Gestores ainda fazem um alerta para um erro comum dos investidores de fundos imobiliários que queiram alocar recursos em Fiagros e FI-Infras
FIIs atrelados ao CDI: de patinho feio à estrela da noite — mas fundos de papel ainda não decolam, segundo gestor da Fator
Em geral, o ciclo de alta dos juros tende a impulsionar os fundos imobiliários de papel. Mas o voo não aconteceu, e isso tem tudo a ver com os últimos eventos de crédito do mercado
JP Morgan rebaixa Fleury (FLRY3) de compra para venda por desinteresse da Rede D’Or, e ações têm maior queda do Ibovespa
Corte de recomendação leva os papéis da rede de laboratórios a amargar uma das maiores quedas do Ibovespa nesta quarta (22)
“Não é voo de galinha”: FIIs de shoppings brilham, e ainda há espaço para mais ganhos, segundo gestor da Vinci Partners
Rafael Teixeira, gestor da Vinci Partners, avalia que o crescimento do setor é sólido, mas os spreads estão maiores do que deveriam
Ouro cai mais de 5% com correção de preço e tem maior tombo em 12 anos — Citi zera posição no metal precioso
É a pior queda diária desde 2013, em um movimento influenciado pelo dólar mais forte e perspectiva de inflação menor nos EUA
